Estás sempre presente !

               

 

Assinala - se hoje a data do teu  80 º aniversário. Tu que só viveste 49 anos neste mundo hipócrita, dando o melhor do teu esforço e dedicação ao serviço dos povos da Guiné-Bissau e de Cabo Verde, de África e do Mundo em geral.

Tu que fizeste o Mundo virar-se para a realidade emergente da causa que tinhas abraçado, ganhando respeito, consideração e reconhecimento pelo trabalho ímpar que desenvolveste até à tua morte.

Tu que soubeste mostrar que, para além de se ser inteligente, é preciso saber utilizar essa inteligência, disponibilizando - a para o bem, ao serviço dos povos e da humanidade.

Tu que foste atraiçoado e barbaramente assassinado a 20 de Janeiro de 1973 em Conacry, sendo esta  a única certeza e verdade que temos até hoje, mereces dos teus " órfãos ", hoje adultos, a indagação sobre as questões de sempre: Quem, Como e Porquê ?!

 

Apelo à consciência

 

Muito se disse e se escreveu sobre este acto cobarde e é sobre isso que hoje dedico a minha reflexão, deixando aqui um apelo à consciência, direccionado a três potenciais fontes de cumplicidade directa ou indirecta no assassinato de Cabral e que, por inúmeras razões na altura, mereceram e continuam a merecer a tese da suspeição: O PAIGC, partido de Cabral, que podia ter problemas internos / cisão. A Guiné-Conacry, na pessoa do seu presidente de então; Ahmed Sékou Touré, que apesar da solidariedade com a luta de libertação do PAIGC, não se sentia à vontade  com o crescente  reconhecimento internacional de Cabral. Portugal de então, como potência colonial nos territórios da Guiné e de Cabo Verde, de  que fica a suspeição de assassinar na tentativa de aniquilar o PAIGC e assim acabar com as pretensões independentistas.

Ao contrário de há 31 anos, aquando do assassinato de Amilcar Cabral penso que,  nos dias de hoje, esta questão deixou de merecer ser um caso de polícia, transformando-se num caso de participação e envolvimento social, onde a vertente da sensibilização humana poderá ter um papel preponderante na busca e encontro das verdades perdidas no tempo e  com os  autores morais e materiais do seu assassinato.

Um apelo à consciência, que procura no arrependimento dos participantes directos ou indirectos no acto, a reposição das verdades ocultas na tese alicerçada por uma investigação policial deficiente, inqualificável e tendenciosa. Uma investigação policial, feita já depois do fuzilamento de centenas de militantes do próprio PAIGC, culpados ou inocentes, sem se poderem defender das acusações a que estavam a ser vítimas. Quem teria interesse em eliminar todas essas pessoas de imediato,  sabendo-se de antemão que se estava perante potenciais reveladores ou não de todo o envolvimento do assassinato de Cabral ? Se na madrugada de 20 de Janeiro de 1973, Amilcar Cabral só estava acompanhado  da sua esposa Ana Maria ao chegar à sua residência e, concluindo que a esposa poderia ter ficado em estado de choque com a brutalidade dos acontecimentos, quem mais assistiu, viu e ouviu algo, se não foi  referenciado ninguém como testemunha ?! Foram relatadas situações que podem não ter passado de boatos e por aí se ficou na procura das verdades sobre a morte de Cabral !

Para dentro do PAIGC, aos nossos irmãos da Guiné-Conacry e a Portugal que também virou uma página da sua história com a queda do fascismo, dirijo este apelo, no sentido de não deixarmos continuar perdidas no tempo, as verdades sobre o assassinato de Cabral. Trinta e um anos após a sua morte, não se pretende punir ninguém, mas tão somente registar na história o acontecimento que teima em deixar em branco o que realmente se passou, dando continuidade à suspeição tendenciosa, conforme o critério e conveniência dos interessados.

A todos quantos tenham algo a dizer sobre este grande mistério, passo a palavra, pedindo que digam a verdade e só a verdade !  

Fernando Casimiro
12/09/2004

        

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