ACERCA DE SER BALANTA (BRAASA) E ABALANTADOS, EIS A QUESTÃO...

 

 

 

 

 

 

 

Por: Mamadu Lamarana Bari

 

mlbarry1@gmail.com

 

04.06.2009

 

Prof. Dr. Mamadu Lamarana Bari

 

Caro Irmão

M´Bana N’Tchigna

 

Ser ou não ser uma raça ou grupo étnico puro na África Negra é questão ainda para ser discutida e certamente derramará rios de tinta. Desta maneira voltar a falar de raça ou etnias autênticas na Guiné é um sacrilégio para todo o sacrifício que o povo Guineense se submeteu para se unir em torno de edificação de uma identidade nacional à custa de derramamento de muitos sangues: de 1845 a 1936, no passado longínquo e de 1963 a 1974 no século passado e de 1975 até nossos dias. O passado não nos deu a lição suficiente para saber das estratégias usadas pelos povos da Guiné para se oporem a um único inimigo que é a presença portuguesa que escravizou e vendeu nossos parentes para as Américas, prendeu e submeteu a trabalhos forçados guineenses de cores e etnias diferentes no interior do nosso país? Afinal a Luta de Libertação que uniu o povo guineense de norte a sul passando pelo leste não deixou o aprendizado suficiente para sabermos que igual que se fez nela para sairmos vencedores, sem a unidade não será possível construir uma Guiné para todos?  Cada guineense, seja ele Balanta, Manjaco, Fula, Mandinga, Biafada, Papel, Mancanha, Felupe, Banhuns, Baiotes, Cassangas, Saraculés, Padjadincas, Cocolis, Djacancas, Sossos, Nalus, Mansuancas, Oincas etc., contribuiu para que a Guiné se libertasse. Desde 1845 que os portugueses e seus aliados conheceram a determinação do povo guineense de ser livre.

 

Portanto, meu irmão, respeito as tuas opiniões acerca do modo de ser e de fazer acontecer da tua etnia BRAASA. Ninguém duvida que os Balantas (BRAASA) não são corajosos. Ninguém duvida também, pela tua definição de Balanta, que o teu povo apenas tem compromisso com ele mesmo. Outros que se acomodem ao jeito de ser deles e pronto. É isso? Julgo que não. Basta ler e ouvir falar da convivência do povo Balanta com outros povos. Nesta base, falo sobre a minha maneira de entender a problemática do mosaico de raças que é a Guiné, situando-se apenas no objeto da questão.

 

1. A participação expressiva do povo Balanta (BRAASA) na Luta se deve não apenas ao fato que acabaste de explicar sobre o português Brandão e outros comerciantes que os exploravam no sul do país, mas pela forma de mobilização que fora feita aos chefes de tabancas. És conhecedor mais do que eu das Estruturas Sociais do Povo Balanta. Sabes muito bem que na tua etnia os mais novos obedecem aos mais velhos.

 

2. A miscigenação entre Balantas e outras etnias, nomeadamente Fulas e Mandingas, sobretudo Fulas, não se dera de forma coerciva como mencionaste, creio que esta tua afirmação posterior contradiz a definição que deste a etnia BRAASA.

 

3. Precisas ter um pouco mais de paciência para ouvir pessoas de outras etnias que convivem com os Balantas no seu chão - refiro-me "Chão de Balantas" como se diz na nossa terra Guiné quando se localiza o espaço onde vive determinado grupo étnico - e vice-versa.

 

4. Pode me dizer de onde os Balantas (BRAASA) vieram? Quais as relações de seus tipos de vestir e de se caracterizar pelas marcas que a maioria ostenta nas duas faces? Ou na testa?  

 

5. Por acaso, reparaste os traços fisionômicos de Fore Na N'Bitna (a marca nas duas faces, a cor)?

 

6. Eu te convido procurar (desesperadamente) vários números da revista Boletim Cultural da Guiné Portuguesa que falam da toponímia dos povos da Guiné outrora portuguesa. Digo desesperadamente, porque não sei se encontrarás alguns vestígios na Biblioteca da Guiné, dado que o Partido cometera erros crassos de jogar tudo fora por serem obras de "colon". Do gênero vamos construir tudo a partir da nossa realidade.

 

7. Meu irmão reveja o teu ponto de vista acerca do que queres defender sobre as injustiças que querem fazer do povo irmão Balanta (BRAASA). Entendo que há aqueles que usam o nome, por serem filhos de Balantas, para seus proveitos. Como também há aqueles que pensam que ser corajoso é ser Balanta, porque este não tem "três quatro pés", como cantam os nossos irmãos IVA e ICHE, mas é preciso entender o teor desta letra musical.

 

8. Tenho larga convivência com Balantas na vila de Fóia, precisamente na tabanca de N'Dagne. Lá me chamavam "M'Bi Mamudo N'Dagne". Os Fulas também usam este termo diminutivo M'bi para dizer filho de fulano de tal "Kô Bi Mamadu”, em vez de dizer "Kô biddô Mamadu". Os lingüistas que perdoem os meus erros ortográficos. A proximidade de Fulas e Balantas (BRAASA) é tão grande que todos que conviviam e convivem com os "BURAS" falam fluentemente a língua dos "BURABÉS". Este nome que os Fulas chamavam os Balantas será que é por mero acaso? Por favor, pesquise este fato e me ensine que estou curioso por saber. O meu pai apenas falou por alto que o fato estaria relacionado com a convivência entre os Fulas e os Balantas em Futa Djalon. Sabias que em Futa Djalon existe um grupo étnico que assemelha aos Balantas (BURAS) chamado TANDAS, que são bastante miscigenados com os Fulas?

 

9. Por favor, fale um pouco com os Homens Grandes Fulas e Balantas (BURAS) descobrirás muitas verdades sobre a proximidade entre estes dos dois povos.

 

10. Sobre a participação na Luta de Libertação da qual referiste grandes comandantes Balantas que todos nós conhecemos e vangloriamos pelas suas valentias, não te esqueças dos nomes como Umaro Djaló, Abdulaye Barry, Mamadu Alfa Djaló, Sello Djaló, Cabiro Baldé, Abdulaye Djá, Barô Seidi. Também não te esqueças de outros grandes Comandantes tais como, Quemô Mané, Quecuta Mané, Arafam (Djamba) Mané, Samba Lamine Mané, Ansumane Mané, Ansumba Mané, Bacar Cassamá, Braima Camará (Dakar), Braima Bangura, João da Silva, Humberto Gomes, Pedro Ramos, Gazela, Joaquim Montam Biague, Orlando Nhaga, Manuel Saturnino, Tchutchu Akson, Bobo Queita, Lúcio Soares, Pedro Pires, Manuel dos Santos Manecas, J.J., Domingos Ramos, Rui Djassi, porque não Nino Vieira, sendo estes três os heróis da Batalha de KOMO, etc. Há tantos outros meu irmão que a memória me falha e para não fazer injustiça a todos os guineenses e cabo-verdianos que participaram nessa luta passada pela independência da Guiné e Cabo-Verde eu digo a todos obrigado.

 

11. Nós somos plurais, porque somos multiculturais e multi-étnicos na Guiné.

Eu pessoalmente tenho parentes de sangue cuja mãe era cabo-verdiana nascida em Bolama, quem em Pilum de Bás não conhecia Tchutcha de nhu Baba, tenho parentes de sangue cuja mãe era Manjaca de Pecixe, a mãe de Comandante Abdulaye Barry, de Boubacar Barry e de Saído Barry, ambos do PAIGC. Tenho parentes de sangue cujas mães eram de Prabis, Safim e Tôr, respectivamente, são muitos demais que não dá para nominar (risos). Tenho parentes de sangue cuja mãe era Bijagós, a mãe de Idi de Bolama. Eu mesmo sou filho de pai e neto de avô materno, ambos filhos de mães “Balantas” de Futa Djalon – os Tandas Bassé.

 

 

Estas são as minhas ponderações sobre a tua opinião que volto a reafirmar respeitar, sem, contudo concordar com ela. Espero não tomar por ofensa o que aqui ponderei, mas apenas como contributo para os guineenses se conhecerem melhor.

 

Assim eu penso estas minhas ponderações são isentas de valores morais e étnicos.

 

Mamadu Lamarana Bari “M’Bi Mamudo N’Dagne”

 

 

Quis referenciar os três períodos distintos da sublevação guineense para mostrar que todos os grupos étnicos que constituem o mosaico de raças na Guiné lutaram pelo mesmo propósito, o de serem livres e donos de seus destinos.

De 1845 a 1936 trata-se de guerras intermitentes contra a ocupação portuguesa conforme retrata o livro de René Pelissier " Os africanos e Portugueses na Senegâmbia de 1845 a 1936.

O ano de 1936 trata da última guerra travada contra os bijagós, a partir da qual Portugal conseguiu um domínio aparente até 1963 quando começou a luta Armada pela independência. De 1963 até 1974 foi o período que a Guiné tornou-se independente do domínio português.  O primeiro período citado (1845-1936) trata-se da luta dos nativos guineenses, ainda que fragilizados pela divisão étnica, contra a ocupação portuguesa. O segundo período (1963-1974) trata-se da Luta Armada em que os guineenses sob a bandeira do PAIGC e sob o lema UNIDADE e LUTA, todas as raças se uniram em torno de um ideal para lutarem contra a dominação colonial portuguesa. E de 1998 até os nossos dias o sangue continua sendo derramado na Guiné só que desta vez não se sabe em nome de quê e por que razão. Mas o povo continua firme no seu propósito de buscar a PAZ e Prosperidade.

Mamadu Lamarana Bari “M’Bi Mamudo N’Dagne”

 

 

NÃO ESTOU COLOCANDO LENHA NO FOGO, POIS O FOGO JÁ ESTÁ ATEADO M´Bana N´Tchigna 03.06.2009


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