A Terceira Vaga

 

 

 

Por: Francelino Alfa

 

 

13.02.2007

 

 

Vítimas civis do bombardeamento ordenado por Nino Vieira ao CIFAP 1999

 

 

 

Esta minha abordagem sobre este tema, não é sobre a dissertação da “Terceira Vaga” do Alvin Tofler, mas sobre o bom momento que o país atravessa. Esta abordagem diz-me que, nestes últimos tempos, temos sido confrontados com um caso que tem apaixonado o país e de vários episódios e peripécias subsequentes, costumeiros aos guineenses, e aos olhos da comunidade internacional, em relação aos quais estão indiferentes: os guineenses continuam a matar-se uns aos outros. A verdade dos factos é esta. É caso para dizer que o crime compensa, porque ninguém é responsabilizado nem punido pelas suas barbáries! Não pode ser! O país continua em lúgubre silêncio, e os guineenses assistem tristemente, o acentuar ainda mais das clivagens sociais entre irmãos, e não reagem!

 

Os órgãos judiciais, sempre tiveram matéria a dar com pau, passo a expressão, para fazer jurisprudência, aliás, coisa em que o país é auto-suficiente. Com mentiras entre nós não se constrói a paz! A paz está na verdade! A paz não se deseja, constrói-se, portanto!

 

O reino de sua majestade continua a coleccionar troféus para a sua já rica prateleira! Toda a gente sabe e ninguém sabe (!) o que não faz qualquer sentido. O pranto do povo persiste e em silêncio, enquanto pequenas vozes fazem-se ouvir mas em surdina porque o Caim está em todos os lugares. Os guineenses têm medo, muito medo! Não é caso para menos. Medo de perseguições, medo de espancamentos, medo de prisão, medo de torturas e morte, pondo em sentido todos os actores políticos em particular, e a população em geral, do confuso quadro político nacional. A política guineense está ao rubro e em rebuliço.

 

São os “eleitos” por Deus para salvar e conduzir os homens. Mais ninguém pode reclamar essa dádiva (!) de Deus, dizem eles. “Kilis ki kata murri!” (São os que não morrem!). Afirmam-se os mais patriotas e almas mais caridosas do reino. O orgulho dos “senhores felizes”. Estão cegos, surdos e queixam-se  de serem vítimas de calúnias, invejas, falsidades e mentiras. Pasme-se!

 

Os vários caminhos que vão dar a lugares da suposta justiça são barrados pelos homens que vivem pregados nos seus altares. Os homens da lei continuam conformados! O país está resignado a assistir: rei morto, rei posto! A justiça só é justa quando é cega e não descrimina.

 

A liberdade degenerou-se em agonia até à sua morte lenta. Em grupo, as pessoas deixavam de falar em público, pois, era a denúncia de si mesmas, sinónimo de conspiração. Milhares de guineenses foram executados sumariamente. Os sortudos, poucos, eram enviados às ilhas de Carache e das Galinhas para reabilitação e recuperação. A tristeza tomara conta das cidades vilas e tabancas. Os jovens eram vigiados a cada passo. A irreverência que os caracterizava desvaneceu-se e, os mais fracos e vulneráveis, transformados em mordomos serviam a cada esquina e faziam-se a cada estrada. O preço da entrada e saída do país era o silêncio. Tempos dos esquadrões da morte. Tempos da democracia revolucionária! Foi assim a1ª Vaga”!

 

Deu-se a rebelião. A dinastia Shakazulu chega ao poder. As mortes, as discórdias deram lugar à concórdia nacional. Florescem os papéis da Lórdia. O concubinato durou pouco tempo, razão que a própria razão desconhece. A concórdia proclamada, foi rapidamente substituída por discórdias, perseguições e mortes. Nada de novo. Eu me lembro embora menino, que a dissidência era pecado e se esgotava no ermo dos malditos.

 

Os sobreviventes “infiéis”, eram destituídos e subtraídos os seus bens e haveres, e andavam sem beira nem eira. Tinham duas opções: exílio ou penitência. Passavam a maior parte do tempo despenteados, com a carapinha crescida, longe da elegância que lhes eram conhecidos. Lembro-me de os ver todos magros; passavam muito tempo a carpir e acossados, pois, estavam em prisão domiciliária; a prática de humilhação incluía a família; a vítima saía (se saísse!) da prisão com alma entregue ao diabo, o seu destino transformado em carpideira. O reinado absoluto prolongou-se por muitos e muitos anos. Era o regime militar e o partido único quem mais ordenavam. Era o período difícil em que a Guiné vivia.

 

Eis que, os ventos da democracia sopraram na direcção da Guiné: a abertura política. Seria evidente que a adopção do multipartidarismo, o melhor dos regimes sem dúvida, trouxesse esperança, mas não resolveu e não está a resolver até agora, os problemas de convivência e de desenvolvimento, entre outras razões porque isto não depende só do sistema político. Na realidade, durante esse período, detectou-se um vazio de poder real acompanhado entre outras causas preocupantes, da ditadura que levou o abismo cada vez maior entre a população e consequente afastamento entre os cidadãos e o poder. Foi assim a2ª Vaga”!

 

Deu-se o levantamento militar e a guerra civil entre irmãos guineenses, com milhares de mortos ainda por confirmar. Corria assim o ano de 1998/1999. A maioria entrou em delírio, clamando pela liberdade, progresso e desenvolvimento, embora sem nenhum resultado positivo hoje.

 

Na sua façanha heróica, o rei Shaka fez uma pausa sabática e viajou à Europa, para defender a sua tese de pós doutoramento, cujo mote foi: “Como disciplinar os súbditos – Fase III” e obteve classificação máxima numa escala de 0 a 20 valores, com distinção e menção honrosa.

 

Pelo meio, fundou-se a monarquia institucional do rei Sumbu Kalambay*. Novos ventos de mudança para a Guiné. O povo voltou a acreditar num futuro promissor. Enganou-se! O país despertou e fez face a novo desafio a que Joel Simon chamou de <<democraditadores>>, dirigentes autoritários que adoptam uma fachada democrática para subverter a democracia. O Estado guineense estava no grau zero de existência. Mais do mesmo! Era preciso fazer alguma coisa. O rei Kalambay foi corrido.

 

Já não era sem tempo, novo plebiscito em 2004. O renovar da esperança (!) mas sol de pouca dura. Os legítimos vencedores foram substituídos.

 

Estávamos no ano de 2005, chega finalmente, o período de alívio e consolidação democrática: o rei Shakazulu voltou e faz crescer o país que o viu nascer. A taxa de crescimento do produto potencial está na ordem de 8% ao ano, só comparável à China; o rendimento médio do PIB por habitante é de 680 dólares (544 euros) por ano o que coloca o país na 222ª posição entre os 227 países das estatísticas; a esperança média de vida subiu para 45 anos de acordo com estatísticas recentes; a fome e a pobreza fazem parte do passado; há pleno emprego; o desenvolvimento regional é um facto, visto que, as eleições autárquicas decorrem com regularidade, e os nós do subdesenvolvimento, são facilmente desobstruídos pela articulação de interesses nacionais com poderes regionais. O pais está estruturado e organizado.

 

Algumas instituições democráticas como a Assembleia Nacional Popular e o poder judicial, são um bom exemplo; a liberdade de opinião deixou de ser um delito; () o país está no grau mais alto de existência como Estado: a segurança aumentou; a violência e criminalidade diminuíram drasticamente porque o tráfico, a fraude, o peculato, a falsificação e a corrupção, são actos punidos como crime; os funcionários recebem e abandonam os postos de trabalho para ir esgravatar pela vida; as escolas e os hospitais funcionam na perfeição e plenitude; a habitação social é uma realidade; aumenta a igualdade de oportunidades entre guineenses; as crianças e a juventude sonham alto; a boa governação é prática; aumentou a fé dos guineenses nos seus dirigentes porque são capazes de satisfazer as suas necessidades básicas. Está tudo a correr bem. O país está melhor agora. O futuro é risonho e o slogan é: onde há um desejo há um caminho! Ou seja, eles querem, podem e fazem. A Guiné-Bissau está no rumo certo!  

 

Para terminar, dizia Óscar Wilde: “um cínico é um homem que sabe o preço de tudo mas que não sabe o valor de nada”. Portanto, assim está, assim vai a3ª Vaga”!

 

* Fabrizio Sumbu Kalambay, era um exímio “boxer” italiano de pesos médios, de origem congolesa que se notabilizou na década de 80 na Europa Ocidental, mas depois, caiu em desgraça.

 

P.S: esta pequena crónica é mera ficção. Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência!

 

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