A SAGA DAS MENTIRAS

 

Ibraima Baio*  

brooksbaio@hotmail.com

23.04.2010

Como se não bastasse, desta vez aconteceu em pleno primeiro de Abril, “o dia da mentira”, demonstrando que neste país tão pequenino e sofrido, tudo é possível, mesmo quando se trata do “dia da brincadeira”

Meu tio sempre dizia que o povo guineense “não tem papa na língua”. Ele não mentia. Mas quero dizer que os guiguis, apesar de falarem sem, antes, ouvirem direito, o que falam, ainda assim, estão mais próximos da verdade do que da mentira.

E hoje, mais uma vez estamos diante da farsa da velha prática da ovelha negra: ocultar a verdade ao povo, senão vejamos os argumentos apresentados por parte dos revoltosos, na pessoa do seu porta-voz Dahaba Na Walna, durante uma conferência de imprensa direcionada aos órgãos de comunicação social, a pretexto da verdade alegou: “o abuso do poder, a infidelidade aos princípios apartidários, o uso indevido das instituições militares para fins alheios, a violação dos preceitos constitucionais e legais, o porte indevido de armas, as perseguições e atentados a integridade física dos altos oficiais da classe castrense, entre outros, são os motivos da insurreição levada a cabo na Guiné Bissau”.

Mas pergunto: “será que estes argumentos aqui apresentados, embora aparentemente autênticos, dão direitos ou prerrogativas para empreender-se perturbação à soberania nacional, à ordem constitucional e a paz social como se não estivéssemos num estado democrático de direito com poderes absolutos e legítimos para resolver os problemas da nação, garantia emanada das leis”?

De uma coisa tenho certeza “Ainda há muita água para correr por debaixo da ponte”. Isso se constata tão logo ao analisarmos as declarações dos principais cúmplices daquele grupo, quais sejam, António Indjai e José Américo Bubo Na Tchuto, os quais, durante suas coletivas à imprensa, demonstraram ter entendimento diverso de seu porta – voz, fazendo-nos concluir que existe algo ainda maior por detrás de tal contradição que motivou a insurreição.

Destarte, resta imperioso que os mesmos tenham mais coragem de dizer verdade ao povo, pois é certo que a mesma não faltou durante a prática da desordem e selvajaria, atentadas contra o cansado povo guineense. António Indjai, em sua locução, assumiu tal coragem, inclusive, quando público e categoricamente, confessou ser assassino de várias pessoas.

Na mesma oportunidade, para também intimidar o povo a não sair às ruas, o qual, segundo ele, sabe bem o que está acontecendo, ameaçou de morte o primeiro ministro, enquanto, do mesmo lado, Bubu Na Tchuto ameaçava cometer atos de barbárie, assim que estes permanecem com ondas de protestos, questionando por que não o fizeram enquanto estava refugiado na sede das nações unidas.

Assim, mais uma vez pergunto: “para quem o povo é obrigado demonstrar seu gesto de confiança, solidariedade ou carisma, caso entenda que o mesmo não merece?”.

Devemos reprimir veementemente estas condutas, sem qualquer tipo de receio, pois são intoleráveis e inadmissíveis numa sociedade civilizada e democrática.

"Se imaginais que, matando homens, evitareis que alguém vos repreenda a má vida, estais enganados; essa não é uma forma de libertação, nem é inteiramente eficaz, nem honrosa; esta outra, sim, é mais honrosa e mais fácil: em vez de tampar a boca dos outros, preparar-se para ser o melhor possível." (Palavras atribuídas a Sócrates por Platão, ao final do seu julgamento).                                       

Tais declarações, contudo, não mais causam surpresa a ninguém. Desde a dupla barbárie que ceifou a vida do ex - chefe do Estado Maior General das Forças Armadas - Batista  Tagme Na Waie - e do ex - Primeiro magistrado da nação e general na reserva João Bernardo “Nino” Vieira,  o fato parecia consumado como premeditava o próprio Tagme Na waie em várias aparições públicas que os destinos dos dois estavam ligados e, se ele morresse de manhã então, o Nino morreria a noite, naturalmente ou coincidentemente tal profecia aconteceu.  

Mas como sabiamente se diz: “o tempo é amigo da verdade”. Não demorou as circunstâncias parecem bastante duvidosas e questionáveis, ganhando novas versões, deste modo, ligando o Almirante José Zamora Induta e o primeiro ministro Carlos Gomes Junior, vulgo Cadogo aquele duplo assassinato.

Verdade ou não, este foi grande motivo que levou o António Indjai a acusar o povo de saber de tudo.

Mais uma vez gostaria de indagar quem orquestrou todo este “urdumunho” (ou seja, encontro dos ventos): fora o povo ou António Indjai ?

Está claro. Como se diz em bom crioulo: se cozinhar terá que servir e chamar à mesa os seus ilustres convidados. Se ele foi traído pela grande jogada do mestre, deve procurar a forma pacífica de justificar sua cumplicidade, e não tentar intimidar o povo “inocente”.

Também é bom que fique bem claro, todo cidadão tem seus direitos e obrigações perante a sua pátria. O discurso de participar na libertação deste país é coisa do passado, e nada mais é que do que pura obrigação como cidadão deste país.

A saga das mentiras não é de hoje, começou desde os primórdios da luta de libertação nacional, onde o atual partido no poder sacrificava vida dos homens da FLING para se tornar o número um na luta pela soberania nacional e liberdade do povo guineense.

Assim aconteceu com a morte do nosso saudoso e eterno pai de independência, Amilcar Lopes Cabral, e também com outros camaradas como Osvaldo Vieira, Didi Ferreira, Francisco Té, Paulo Correia, Viriato Pã, Braima Camará, Robaldo, Tino Lopes, Nicandro Barreto, Ansumane Mané, Lamine Sanhá, Veríssimo Correia Seabra e tantos outros. Recentemente com Tagme Na Waie, Nino Vieira, Baciro Dabó e Hélder Proença.

Como disse o grande músico guineense: “PUBIS KA BURRO”, isto é, tentavam cobrir sol com a peneira achando que povo está ainda adormecido, mas a verdade veio à tona e tudo ficou preto no branco.

Sem dúvida o homem é a criatura mais inteligente que Deus colocou na face da terra, mas também é a mais idiota de todas. A ambição nefasta da sua natureza humana leva-o a ignorar o passado e a cometer os mesmos erros. E os que se julgam ser “MATCHU”, acabam morrendo sem honra nem glória. A história nos mostrou isso.

O problema da Guiné - Bissau é enigmático e requer análise mais sucinta, diferentemente de como tem feito a comunidade internacional, deixando o país à beira do abismo.

Devemos enaltecer a atitude e a coragem do povo de sair às ruas para exigir que seja respeitada sua vontade expressa com todo civismo na urna, mesmo diante de ameaças imbecis.

Na vida só devemos ter medo que alguém um dia seja capaz de nos tomar o direito de viver, ou seja, a liberdade. Não devemos ter medo da morte, pois que esta é inevitável; é a única certeza que temos.

Por isso, devemos repudiar qualquer tipo de violência, seja ela moral ou física. A resolução do nosso conflito deve dar-se imperativamente por meio do diálogo, através de mecanismos necessários e inesgotáveis para encontrar solução justa e pacífica.

O acontecimento do primeiro de abril deve ser condenado por todos os guineenses, não importa o cenário, momento ou razões alheias. A Guiné - Bissau não pode ser visto como Estado falido, inviável, de narcotráfico e de impunidade, por conta de uma minoria.

Os homens não tiram prazer algum da companhia uns dos outros (e sim, pelo contrário, enorme desprazer), quando não existe um poder capaz de manter a todos em respeito - Hobbes.

Chegou a hora do presidente da república, enquanto primeiro magistrado da nação e comandante em chefe das forças armadas, vir nos garantir a estabilidade, bem como provar que estamos numa nova era, conforme têm dito ao povo guineense, onde a sublevação não tem mais lugar e as instituições democraticamente eleitas devem ser intransigentemente respeitadas, colocando o interesse da nação acima de todos outros, porque:

Povo da Guiné - Bissau deseja a paz!

Povo da Guiné - Bissau clama a justiça!

Povo da Guiné - Bissau quer a liberdade!

Povo da Guiné - Bissau ambiciona o desenvolvimento.

*  Pós – graduado em Contabilidade e Finanças

             *  Graduado em Administração

PROJECTO GUINÉ-BISSAU: CONTRIBUTO - LOGOTIPO

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