A HIPOCRISIA DA COMUNIDADE INTERNACIONAL

 

 

"O que mais preocupa não é o grito dos violentos, dos corruptos, dos desonestos, dos sem carácter, dos sem ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons." Martin Luther King

 

 

 

Por: Adulai Indjai

 

tokatchur02@hotmail.com

 

16.03.2009

 

Após o luto, voltamos a tirar da gaveta a caneta, para juntarmo-nos aos irmãos que estão a lutar pela reposição da verdade. Mas antes de tudo, apresentamos as nossas condolências às famílias enlutadas. Que as suas almas descansem em paz.

 

Ele (Nino) era um homem violento, em si próprio, e morreu na violência Mário Soares

Morreu o homem que, segundo algumas lendas contadas nas noites da nossa praça, nos bancos debaixo das mangueiras, dos ministérios dos desempregados de Bissau, ninguém e nada poderia matá-lo. Ele era simplesmente imortal (Nino Vieira é um mito da imortalidade). O Nino morreu de uma forma violenta e cruel, da mesma maneira como ele liquidou no passado os seus amigos e os valorosos homens desta terra, sem razão, mas com muita crueldade. A faca da vingança é sempre bem afiada, diz o ditado. 

 

Somos partidários da não-violência, porque supomos que o diálogo é fundamental na procura de solidariedade e é condição sine qua non para uma abertura a um relacionamento harmonioso entre os homens. Nem tão pouco recusamos acreditar na fiabilidade da justiça dos homens.

 

A crueldade com que estes dois homens morreram, não é de se elogiar, porque a violência não é o remédio para resolver os problemas, sobretudo no nosso país que assinou o contrato com a instabilidade política e militar. Mais um ponto concluído com sangue neste contrato.

 

O fim da era do general Vieira é lamentavelmente triste, se tivermos em conta o percurso deste homem e que a sua voz serviu para anunciar a tomada unilateral da nossa independência. O Nino é um dos homens políticos mais experimentados da Guiné-Bissau e um dos melhores combatentes da liberdade da pátria, mas sobretudo um grande traidor da nossa pátria. Não vamos descrever o desastre dos anos da governação de Kabi. Nem vale a pena fazê-lo. É hora de virar a página e libertar das nostalgias negativas da era do Nino Vieira.

 

A Guiné-Bissau é um filho delinquente, com perturbações psicopáticas graves, perturbador da ordem constitucional, traficante e consumidor de droga, corrupto e violento. Com todos estes aspectos negativos nenhum pai no mundo estaria contente com um filho neste estado.

 

O nosso país é um filho rebelde da comunidade internacional, não podemos ignorar os maus comportamentos deste menino lindo da África Ocidental, mas não podemos deixar de questionar os seus encarregados de educação (CEDEAO, OUA, União Europeia, Nações Unidas), do por quê de tanta hipocrisia;

 

1.      O desfecho final desta guerra não constituiu nunca segredo para os Guineenses e nem tão pouco para a comunidade internacional. Há muito tempo, digamos mesmo que desde o regresso do General Vieira ao poder, sentia-se o grande clima de tensão entre eles. Qual é a razão de muita indignação e consternação da comunidade Internacional?

 

2.      O que é que fez a comunidade internacional em Novembro, quando o presidente Vieira foi alvo de tentativa de assassinato e em Janeiro quando o General Tagme foi alvo da mesma situação? Produziram comunicados, o que mais fizeram?

 

3.      Qual é a acção que a comunidade internacional está levando a cabo para ajudar a Guiné-Bissau a combater o flagelo do Narcotráfico? Escrevendo relatórios? Fazendo pequenas formações como sempre? Nós estamos conscientes de que a luta contra o Narcotráfico é um fiasco universal, se tivermos em conta que a receita anual do narcotráfico é duas vezes superior ao orçamento da União Europeia (350 biliões de dólares).

 

4.      Queríamos somente questionar a comunidade internacional e os cronistas Portugueses, onde é que estavam, durante todos estes anos quando o Nino Vieira semeava o sentimento de hostilidade, mortes e violações dos direitos humanos? Lembro-vos o caso mais chocante de toda a história de matanças cruéis e brutais do General Vieira (Caso d 17 de Outubro de 1985).

 

5.      Queremos questionar os cronistas internacionais, que consideram a morte do General Vieira como o fim da esperança na estabilidade política e militar na Guiné-Bissau, sobre que conhecimentos têm do verdadeiro estado de caos em que general Vieira deixou este país?

 

Seria fatal para a nossa nação negligenciar o contributo da comunidade internacional, neste momento de viragem de uma página triste do nosso país. Mas temos algo a dizer à comunidade internacional: é que a morte de Nino Vieira constitui para os verdadeiros filhos da Guiné-Bissau uma segunda LIBERDADE. O desaparecimento físico destes dois homens serviu e serve de exemplo para os Guineenses verem que cá se faz e cá se paga. O general Tagme juntou-se ao General Vieira, simplesmente por questão de ambição pessoal, esquecendo-se que o seu amigo é um burro velho, e o burro velho não muda. O Tagme pagou o preço da aliança fatal.

 

Neste processo de conquista da legitimidade do direito democrático, o nosso povo não deve ser culpado das acções violentas perpetradas pelos elementos das Forças Armadas, Mas o que assistimos com a morte destes dois elementos é um acto puramente pessoal, um simples acerto de contas entre os inimigos do passado e amigos do presente.

 

Nós estamos conscientes de que a comunidade internacional tem urgência em ajudar a Guiné-Bissau a procurar soluções viáveis para um desenvolvimento durável;

 

ü Agora, chegou o momento da comunidade internacional rever a sua forma de actuar na Guiné-Bissau, cumprindo as promessas de apoio para o desenvolvimento feitas no passado.

 

ü Agora, é tempo da comunidade internacional desempenhar um papel de parceiro fiel que passa pela troca de ideias na procura do caminho iluminado pelo sol da justiça social, do respeito pelos direitos humanos na Guiné-Bissau.

 

ü Agora, é tempo da comunidade internacional parar de dizer que se não houver tiroteios nas ruas de Bissau tudo vai bem ou o que não tem remédio, remediado está. O momento é de acção e não de teoria.

 

ü Agora, é o tempo de trabalhar de mãos dadas com o povo da Guiné-Bissau para erguer esta nação das areias movediças da violência, corrupção e ditadura.

 

ü Agora, é o momento de colocar a pedra sólida da fraternidade do povo guineense para com os povos do mundo.

 

ü Agora, é o tempo dos homens políticos, em parceria com a comunidade internacional, de trabucarem para fazer da justiça uma realidade e banir de vez a justiça das armas no seio dos filhos da Guiné-Bissau.

 

ü Agora é tempo dos filhos da Guiné-Bissau fazerem tudo para se reconciliarem com eles mesmos e com o mundo, para podermos sair da lista dos países de risco. Virar de uma vez para sempre a página triste da nossa história, divorciar da UNOGBIS (missão da ONU para o apoio ao processo de manutenção da paz na Guiné-Bissau, está no país desde 1999) demonstraria um sinal importante de estabilidade política do nosso país.  

 

Bem-haja e que desta vez a paz e a estabilidade política reinem na nossa praça de Bissau e na alma deste povo sofredor.

 


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