Por: Francelino Alfa

30.01.2009

Viva a República!

 

 

Carlos Gomes Júnior, vulgo Cadogo, foi empossado no dia 2 de Janeiro de 2009 como novo Primeiro-ministro da República da Guiné-Bissau. A história democrática do país está de parabéns. Viva a República!

A Guiné-Bissau entrou para a nova era. A era da esperança, de sonhos; a era do futuro para todos os seus filhos, para os amigos da Guiné e para todos os que escolheram viver na Guiné-Bissau.

Após a divulgação dos resultados eleitorais provisórios pela comissão nacional de eleições (CNE), os guineenses juntaram-se espontaneamente e saíram à rua em festa apesar do sol abrasador das 13 horas; era um autêntico Carnaval; as artérias principais da cidade de Bissau encheram-se de pessoas que entoavam palavras de ordem; cidadãos que ora gritavam viva PAIGC ora gritavam viva Cadogo como esperança de um povo; uma versão Barack Obama guineense. Era só visto! Era impressionante ver como os guineenses andavam com rádios colados ao ouvido, seguindo atentamente a divulgação dos resultados eleitorais pela CNE. A juntar a tudo isto, um dia após o anúncio dos resultados provisórios, choveu horas a fio e, os homens grandes da nossa terra, disseram que o país ficou abençoado com a forte chuvada.

Com 82% de participação da população nestas legislativas e com um civismo que me apraz registar e louvar; mostramos ao mundo mais uma vez que, quando queremos, podemos; mostramos a nossa tolerância e convivência salutar, a nossa maturidade política, a nossa grandeza; mostramos que havia um futuro em jogo; enfim, mostramos que somos um povo que pensa com a sua própria cabeça e sabemos o queremos. O povo não é burro! A democracia é uma cultura! Viva a República!

Na entrevista que concedeu a alguns órgãos de comunicação social nacionais e estrangeiros, Cadogo Júnior, falou com muita segurança, mostrando claramente ser um conhecedor dos dossiers sobre governação, não fosse ele outrora o melhor Primeiro-ministro da República da Guiné-Bissau, dizem as crónicas. Falou sobre as linhas orientadoras da sua futura acção governativa que se baseará em dois eixos fundamentais: boa governação e justiça. Ou seja, reformas estruturais serão realidade durante o seu mandato. Deixou claro que fará tudo o que estiver ao seu alcance (claro está, se o deixarem, visto que as forças de bloqueio andam aí com as suas movimentações e maquinações! Mas o povo não é burro! O povo está atento!) para não defraudar as altas expectativas e a esperança depositadas nele. Um homem que tem uma nação às costas! O combate à pobreza será prioridade. Nunca esquecer as pessoas em função dos projectos! As pessoas em primeiro lugar! As dificuldades são imensas, a pobreza é generalizada, a conjuntura internacional não favorece, os obstáculos surgirão certamente, todavia, a esperança renasce pois dizemos que temos fé! Viva a República!  

Por ter ouvido as entrevistas concedidas pelo Cadogo Júnior, centrar-me-ei apenas no conteúdo, em questões de fundo e não na forma, exercendo apenas um direito de cidadania.

Cadogo Júnior diz que é um homem de acção e de resultados. É verdade. É um facto. Não há dúvida. Nós guineenses queremos resultados já! Estamos fartos de discursos políticos e mais do mesmo. Cadogo Júnior diz que não promete para depois não cumprir; promete e cumpre! Ouvimos e Registamos!

Diz que vai enviar médicos e pessoal de saúde a todos os cantos da nossa terra, até as ilhas de Como e Geta serão contempladas, beneficiando de subsídio de vela e de isolamento. Ouvimos e registamos! O futuro Primeiro-ministro falou da necessidade de pôr ordem não só nas Finanças Públicas e disciplinar o Estado, como também, em criar uma nova mentalidade na acção governativa designadamente pedir resultados aos seus ministros. Quem não está à altura dos acontecimentos que vá para casa. Boa! Sim senhor Primeiro-ministro! Ouvimos e registamos! Devemos acabar com esta cultura da preguiça e banditismo contra o Estado. Voltemos e devolvemos ao país a cultura de trabalho, de seriedade e de rigor; de transparência e de exigência, onde se valoriza e se premeia o mérito em detrimento da preguiça, da mediocridade e da bajulação. Viva a República!

Diz que vai ter um governo curto mas coeso, competente e dinâmico para fazer face não só à contenção de despesas versus obtenção de receitas, mas também devido às pesadas heranças das governações falhadas e a urgência de resolução de problemas e a apresentação de resultados. Ouvimos e registamos! Mas não foi o aconteceu. Mais do mesmo! Um governo com 21 ministros e 11 secretários de Estado. São 32 elementos no governo! O jogo político diz-nos que algumas figuras eleitas alteram as suas posições rapidamente assim que os ventos da política mudam. Ou seja, pressionados por grupos de interesses que estão organizados para pressionar por um conjunto específico de interesses ou de assuntos.

Falou pouco na aposta da Educação (mas recordar-lhe que a Educação está na base de toda a criatividade de uma nação; que se aposte nela para combater o atraso. Viva a República!), contudo, esperamos e acreditamos que o seu governo olhará para a Educação com outros olhos e dará a atenção devida sem desmerecimento para com outros sectores como a agricultura e o turismo, vitais para a nossa economia mas que não produzem resultados.  

Pena não ter falado quase nada da diáspora...salientando sim, a necessidade de haver melhores serviços consulares para atender e dar respostas satisfatórias aos nossos concidadãos. A diáspora guineense está viva, activa e recomenda-se. Existem guineenses notáveis! Podemos recordar nomes desses bem-aventurados que estão a cumprir inteiramente nas ciências, por exemplo, Joaquim Silva Tavares, o nosso ilustre e querido Djoca. Um dos actuais Secretários-gerais Adjunto das Nações Unidas é guineense. Chama-se Carlos Lopes. Não há sociedade estruturada sem marcos de referência, dizia alguém. Vemo-los em todas as nações, dedicadamente erguidos, à escala do mérito a perpetuar, nos caminhos da sua História. Diz que vai acabar com negócios obscuros de passaportes diplomáticos que certos governantes faziam no passado descredibilizando sobremaneira o país, envidando todos os esforços para que os nossos concidadãos se revissem na sua bandeira e sentissem orgulho de serem guineenses. Ouvimos e registamos! Senhor Primeiro-ministro, a nossa auto-estima está muito em baixo restando apenas o gosto amargo do orgulho guineense.

Diz que as reformas nos sectores da defesa e segurança serão realidade. Ouvimos e registamos! Quanto à área da segurança, diz que reabilitará as antigas instalações da fábrica de óleo de palma do ilhéu do Rei e vai transformá-las em estabelecimentos prisionais. Ouvimos e registamos! Que os malfeitores sejam severamente castigados, contudo, se o ilhéu do Rei fosse requalificado e aproveitado para turismo dada a sua boa localização, seria interessante também.   

Nos últimos tempos, Bissau tem sido assolado por uma vaga de assaltos à mão armada por estrangeirada marginal (gente perigosa e sem escrúpulos), coadjuvados por guineenses marginais, resultando daí, algumas perdas de vidas humanas. Os residentes de Bissau estão confrontados com a falta de segurança, vivem revoltados e com medo. Mais polícias nas ruas, sobretudo à noite. Não a um Estado polícia mas um Estado que se respeite e se faça respeitar.

Não falou quase nada da política para a nossa juventude, para o desporto e para a nossa cultura embora saibamos do imenso talento que existe no país.    

Falou que fará tudo para que o país ultrapasse as carências de energia eléctrica e água com a construção de barragens hidroeléctricas no sul... e a infra-estruturação do país é urgente e necessária. Ouvimos e registamos! Há trinta e quatro anos que ouvimos discursos recorrentes mas esperemos que este desiderato se concretize desta vez, claro. Parece um sonho. Até as crianças que na sua inocência, sinceridade e espontaneidade, gritam: viva Cadogo! Barack Obama! Viva PAIGC! E Cantam: “Avion, avion... avion tissi medicamentis... povo na canua ki fura, salva vida catem, distinu i pa nundé?!... Mama Guiné papia”... I só cultura de mama tacu”. Sabemos que a realidade diz-nos que pouca coisa funciona no país, que está tudo por fazer – porém, há que estabelecer prioridades –, e na verdade, Cadogo Júnior só conseguirá confirmar as nossas esperanças e expectativas, se cada um de nós (assim como os nossos governantes e dirigentes) que vê nele a mudança positiva para a nossa terra, tomar a sua responsabilidade e comprometer-se com o país. Isto é, se aprendermos a organizar-nos, se amarmos as escolas, dar valor ao conhecimento e ao saber, se formos solidários na justiça, se formos melhores magistrados (a justiça a funcionar!), melhores professores, melhores gestores, melhores trabalhadores, não será que não daremos a volta a este lamentoso país? Acreditamos que é possível. A mudança para melhor, seja nos países, seja nas pessoas só acontece se começar dentro de cada um de nós. Pode o governo governar bem, podem as leis roçar a perfeição, mas, enquanto cada um de nós for um preguiçoso, um vigarista, um caloteiro, um lamentoso, um chorão com o ritual de mesquinharias... golpes baixos, o país nunca passará de um subsídio-dependente.    

Para finalizar, diria que, o Sr. Primeiro-ministro é a esperança neste momento, e que estas eleições mostraram o espírito do nosso povo, o seu nível cultural, a sua estrutura social, as acções do que a sua mensagem significa. Se o senhor Primeiro-ministro entender esta mensagem, poderá aqui discernir o ribombar da nossa história. Por isso, se o deixarem, you can, diz o povo. A nossa terra é nossa, Sr. Primeiro-ministro! Que Deus o abençoe. Que Deus abençoe a nossa terra.

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P.S.: Desejo um ano novo cheio de saúde, paz e de prosperidade para todos os guineenses quer no país quer na diáspora. Falamos que estas eleições poderiam constituir o início da mudança positiva para o país. A ver vamos. Viva a nossa terra! Viva a República

 

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