VAMOS CONTINUAR  A ESPECULAR!

 

Por: Fernando Casimiro (Didinho)

didinho@sapo.pt

02.03.2008

Um velho amigo meu, infeliz ou felizmente,  já noutras paragens, dizia-me sempre com algum humor: "Quem sabe depressa o reza"!

Não costumo frequentar igrejas, mas de vez em quando assisto a missas e, claro está, dá para constatar que aqueles que sabem e querem, prontamente rezam, porque sabem e querem, e quando não sabem, ficam calados ou a murmurar algo que ninguém percebe.

Mas há também os que sabendo rezar, não o fazem, porque não querem; ficando mudos, pelo peso na consciência de traírem os desígnios da religiosidade, sendo que as suas presenças nos locais de culto são meramente figurativas da definição de um certo estatuto social que a presença nas igrejas, erradamente, confere, pois cumprir com Deus, seja Ele qual for, não se resume a marcar presença nos locais de culto!

No entanto, a reza  a que se faz referência é de uma amplitude conceitual que se adapta a qualquer circunstância, bastando, para isso, fazer o devido enquadramento.

Hoje, a minha abordagem centra-se na questão da especulação, uma expressão que é frequentemente utilizada como argumento "fácil e barato" para contrariar suposições, que podem ser tidas como verdades ou inverdades, numa referência pessoal ou colectiva, na expressão oral, escrita, ou audiovisual, quer se trate de uma opinião, ou de uma notícia.

O dicionário Universal da língua portuguesa define especulação como sendo - investigação teórica, puramente racional; exploração, burla

Especular, segundo o mesmo dicionário, significa - meditar sobre qualquer matéria e fazer dela estudo teórico; negociar com a mira de lucros exagerados; relativo a espelho

Especulador - que ou aquele que especula.

Ora, na abordagem deste trabalho, vamos considerar especulação como sendo - investigação teórica, puramente racional, o que equivale dizer, na mesma óptica, que especular é meditar sobre qualquer matéria e fazer dela estudo teórico, o que pressupõe que qualquer ser humano racional é um especulador, sem que o conceito do termo (especulador) tenha que ser visto como algo conotado com a ideia do mal, ou seja: uma definição pejorativa.

Especular  costuma ser confundido com caluniar. Vejamos as diferenças, tendo em conta o que o dicionário Universal da língua portuguesa diz sobre:

Calúnia - imputação falsa, que ofende a reputação ou o crédito de alguém; difamação infundada.

Caluniador - aquele que calunia; difamador

Caluniar - difamar; fazer acusações falsas; proferir calúnias.

Reunidos os elementos necessários para um melhor esclarecimento sobre o significado dos termos: especulação e calúnia, passemos à sustentação da análise de hoje.

Regressado ao país, depois de uma ausência prolongada e sem justificação oficial, o general "caixeiro-viajante" Nino Vieira, prontamente se posicionou como dono da sua verdade, ao ser entrevistado, afinando os tons de voz para rezar a oração que bem sabe, porquanto tratar-se de um assunto pessoal, da sua saúde e porque foi num hospital estrangeiro que recebeu cuidados, o que à partida, implica que só ele e as pessoas que lhe são mais próximas saibam o que realmente o levou (e tem levado constantemente) ao hospital francês Val-de-Grâce.

Nino Vieira disse que havia pessoas  a especularem sobre a sua saúde, porquanto não terem mais nada para fazer...

Não posso deixar de concordar que,  sobre a saúde de Nino Vieira e a sua estadia no hospital francês Val-de-Grâce, pouco se sabe e, por isso, falar abertamente de algo que não se conhece, só pode merecer uma resposta do tipo: quem sabe depressa o reza e, neste caso, quem pode saber melhor do que o Nino os seus próprios problemas pessoais?

Entretanto, ao rezar a oração que tão bem sabe e que sabe que poucos mais podem saber, a não ser que ele próprio se decida a partilhar os seus segredos com alguém, Nino Vieira deixa sobressair um dado curioso ao aceitar falar sobre o seu caso pessoal, da sua saúde, argumentando-se a propósito das conversas de rua, em como se andou a especular, esquecendo-se  que, para além da questão da sua saúde, e pegando no termo especulação que usou, há muito que os guineenses e não só, especulam sobre os fuzilamentos e assassinatos, a venda de armas, o tráfico de droga, a corrupção generalizada, etc. etc. dos seus 20 anos à frente dos destinos do país, sem que, alguma vez, ele próprio tenha dito que se tratava de especulação!

Nino Vieira sabe que na questão dos assassinatos, das perseguições, das torturas, da corrupção, etc. não pode enganar o povo guineense, pois tudo isso foi feito na Guiné-Bissau e, mesmo não havendo provas documentais, há factos reais que demonstram que houve assassinatos, perseguições, torturas, corrupção, etc. que ele nunca se atreveu a desmentir, de forma oficial, e muito menos se dignou a providenciar esforços para a clarificação dessas situações!

Porque é que se disponibilizou, no seu regresso à Guiné, em Abril de 2005, ainda em pleno gozo do exílio em Portugal, a pedir perdão e a auto-conceder a si próprio esse perdão, numa relação que ele mesmo definiu na seguinte proporção: peço perdão a todos e perdoo a todos os que também me fizeram mal...?

Quem fez mal ao general se, mesmo derrotado na guerra de 98/99,  foi-lhe permitido viajar para um exílio dourado, sem que até hoje tenha sido julgado pelos crimes directos e indirectos que cometeu?

Quem fez mal ao ditador que depois de meia dúzia de anos exilado regressou e foi "colocado" de novo na Presidência de uma suposta República que na verdade sempre foi o seu quintal?

Hoje, colado de novo ao poder, o general continua a exibir as suas fraquezas de carácter, bem como, a sua incompetência para presidir um país e liderar um povo sofredor, se é que julga, alguma vez ter estado à altura de ser considerado um digno Presidente da República!

De desconsideração em desconsideração, vai desprezando o povo guineense, aliás, não há, na sua postura de presidente da República, nenhuma afinidade de sentimento fraterno, de amizade, de amor, de solidariedade, de tolerância e responsabilidade para com o povo guineense!

Não se constata no exercício das suas funções nenhum acto revelador de amor à pátria, pese embora, ser um combatente da liberdade da pátria, estatuto de outros tempos, que, pelo realismo do presente, não deveria ser de carácter vitalício, pois hoje, Nino Vieira é uma afronta à liberdade da pátria que ele ajudou, no passado, a libertar!

Continua a dividir os guineenses e em simultâneo, a afastar-se deles, tal como é seu hábito; com mentiras, com estratégias de rivalidade étnica, com subornos e incentivos à corrupção, em vez de fomentar a congregação de esforços para a lição exemplar que Cabral tão sabiamente transmitiu a todos quantos com ele conviveram, na sua grande obra: Unidade e Luta, a real força anímica do sucesso da luta de libertação nacional!

De regresso ao poder desde 2005, numa montagem patrocinada pela Comunidade Internacional e suportada, institucionalmente, pelo Supremo Tribunal de Justiça da Guiné-Bissau (com base numa relação de influência pessoal entre a Presidente do Supremo Tribunal e o Mandatário de Campanha de Nino Vieira, na pessoa de Hélder Proença), que validou a sua candidatura para as presidenciais de 2005  (quando as interpretações à lei, feitas pelos melhores constitucionalistas guineenses, indicavam que o ditador não podia ser candidato), temos visto ao longo destes anos, as várias encenações que credibilizam as reticências e suspeições sobre os verdadeiros resultados eleitorais das presidenciais de 2005.

Nino Vieira, depois de legitimamente reconhecido pelo Supremo Tribunal de Justiça, como vencedor das eleições e, após recurso do outro candidato à segunda volta das presidenciais, tratou de estabelecer um pacto de sustentação paralela com o Supremo Tribunal, tirando na prática, ao Supremo,  o seu estatuto de órgão de soberania, porquanto passar a "trabalhar" para os interesses do general ditador e não, para a defesa dos interesses da República e dos cidadãos, conforme sustenta a Constituição da República!

Não será por mero acaso que, a estrutura que preside o Supremo Tribunal de Justiça se mantém firme e confiante no alicerce que o suporta, ou não fosse esse alicerce a Presidência da República!

Quem não tem acompanhado as diversas disputas, entre elas, político-partidárias, confiadas ao Supremo Tribunal e, cujas apreciações e decisões, têm demonstrado incoerência e ausência de interpretação jurídica credível, numa caracterização de parcialidade e defesa de interesses encomendados pela gestão estratégica que sustenta a relação de poder entre a "Magistratura" Presidencial do Estado/República e o Supremo Tribunal de Justiça?!  

Quem tem dúvidas da importância do Supremo Tribunal de Justiça na perpetuação da ilegalidade e da impunidade na Guiné-Bissau?

Quem tem dúvidas da importância do Supremo Tribunal de Justiça, na limpeza de processos e destruição de arquivos comprometedores de quem manda no país, seja em relação a Nino Vieira, seja em relação a Tagme Na Waie?

Porque será que em 2007 a Presidência da República ofereceu 2 viaturas: uma à Presidente do Supremo Tribunal e outra ao Vice-Presidente do Supremo?!

Os bens, entre vivendas e empreendimentos que Nino Vieira conseguiu recuperar desde que regressou à Guiné-Bissau em 2005, não são motivos para continuar a subornar os mais altos responsáveis do Supremo...?!

Quem não acompanhou as eleições para a Presidência do Supremo Tribunal de Justiça, para tomar em consideração todo um percurso violador de regras e leis, que impediram a vitória do Professor Doutor Emílio Kafft Kosta, nessas eleições?!

Alguém crê, ser possível, enquanto Nino Vieira estiver no poder, que algum candidato à Presidência do Supremo Tribunal de Justiça, que não seja conivente com a imoralidade, possa vencer a eleição para o Supremo?

Alguém crê, ser possível um candidato à Presidência do Supremo Tribunal de Justiça, que, paralelamente ao cargo, defende a honra, os desígnios da Justiça e a sua respeitabilidade enquanto promotor do direito e não seu violador vencer a eleição para o Supremo?

Especulações?

Sim, vamos continuar a especular!

Aquando da demissão do governo de Aristides Gomes, já sabendo da demissão, o referido governo assinou um contrato que possibilitou a transferência de poderes da emissão do bilhete de identidade de cidadão nacional, até então da responsabilidade dos serviços de identificação civil, afectos ao Ministério da Justiça, para uma empresa privada estrangeira, com sede em Bruxelas a  SEMLEX.

Não quero pôr em causa as capacidades desta empresa, nem tecer comentários sobre a fiabilidade dos seus serviços, no entanto, a decisão do anterior governo de Aristides Gomes, foi ilegal e prejudicial aos interesses da Guiné-Bissau, porquanto não ter sido analisada, discutida e aprovada em sede própria, tratando-se de uma decisão com reflexos na salvaguarda da identidade nacional, que pode, em alturas delicadas, como na realização de eleições, beneficiar quem possibilitou o referido acordo, bastando para isso, criar novas identidades, novos eleitores, ou ainda, apagar registos de identidades existentes, conforme a conveniência...É grave este assunto, que é do conhecimento do actual governo, que, no entanto, tarda em denunciá-lo...

E quem foi que apadrinhou o lançamento desta empresa na Guiné-Bissau e assistiu à sua inauguração, tendo recebido o primeiro exemplar do novo modelo de BI nacional, emitido em Bruxelas?

Precisamente o senhor general João Bernardo Vieira, para não variarmos nas nossas especulações...!

Mas Nino Vieira tem conseguido dividir para se manter no poder, tem conseguido subornar ou intimidar quem lhe tenta fazer frente na referência ao direito da separação de poderes, porquanto nunca ter aceite a existência da separação de poderes entre os diversos órgãos de soberania.

A propósito e seguindo a tese das especulações, os guineenses  deveriam ser informados pelo actual governo, sobre os valores atribuídos ao orçamento para a Presidência da República desde que Nino Vieira assumiu o poder em 2005.

Seria oportuno e correcto que os guineenses ficassem a saber quem paga as viagens e estadias das deslocações particulares do general caixeiro-viajante ao estrangeiro.

Seria oportuno que ficássemos todos a saber, que há transparência nas contas públicas, se alguém nos dissesse quanto custou, até hoje, o regresso de Nino Vieira à cadeira do poder!

Seria oportuno e correcto que quem representa a República, prestasse esclarecimentos ao povo guineense, quando, por razões de saúde, tem de se ausentar do país, por período indeterminado, afinal, responsabilidade e responsabilização são exigências que a função obriga!

Especulações?

Sim, vamos continuar a especular, pois o termo assenta em conformidade com o exercício racional das matérias em presença!

Para finalizar, recupero 2 textos da autoria de "Galo Garandi", publicados em 2005, no sentido de legitimar a tese das especulações, aproveitando, igualmente, para partilhar convosco a música  de José Carlos Schwarz, na interpretação "FLEMA DI CORSON"

 VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!

CARTA ABERTA AO CANDIDATO NINO VIEIRA

 

Galo Garandi

20.07.2005

Senhor General,

Sou um simples cidadão que vive da sua magra reforma de professor primário que lhe escreveu aquando do início da campanha destas presidenciais 2005.

Volto a escrever-lhe a escassos dias do fim da mesma campanha porque os guineenses carecem de explicações, agora mais do que nunca, da origem do seu património e da declaração certificada dos seus bens em 1975 e agora 2005, quer ganhe ou perca as actuais eleições.

Um conselho de “mandjuá” de idade. Desta vez, se voltar a ser Presidente, ponha tudo em seu nome e não em nome da sua esposa ou dos seus filhos ou “amigos”, não vá o diabo tecê-las.

O que se passa na sua cabeça, só você o sabe. Mas a percepção que tenho – a partir dos sinais que nos transmitiu durante esta campanha com as suas palavras, seus gestos e suas expressões – é que você nutre uma grande arrogância e um profundo desprezo para com o povo guineense, sua inteligência e, sobretudo, para a sua classe política que pretende ser a vanguarda esclarecida desta sociedade.

Permita-me dizer-lhe que, pela primeira vez depois da guerra de 7 de Junho, concordo parcialmente consigo na percepção que tem da sociedade guineense. Assim, no que respeita ao desprezo da classe política guineense. Não podíamos estar mais de acordo, Senhor General!

Lembro-lhe que numa das suas entrevistas a um jornal português, dizia que a “Guiné era um país de traições”. Decorridos sete anos, o tempo encarregou-se de nos mostrar que neste aspecto só temos a reconhecer que tinha toda a razão. A maioria do comando militar da ex-Junta Militar foi traída e decapitada. O povo foi traído nas suas aspirações de justiça com J grande pelos militares e pelos políticos que fintaram o povo.

Os mesmos políticos – uns “escribas” e outros “populistas” justiceiros – estão hoje miseravelmente à sua  mercê por uns míseros francos CFA e promessas de desprezíveis lugares que lhes permitam assegurar a vida fácil a que sempre se habituaram a custa do erário público.

Enfim, senhor General, há evidências mais do que suficientes para que o povo julgue implacavelmente estes oportunistas e ambiciosos que não olham a meios para atingirem os seus fins. Por isso, qualquer que venha a ser o desfecho das eleições do próximo dia 24 de Julho de 2005, os guineenses devem reconhecer-lhe este bom serviço que lhes prestou ao mostrar-lhes, publicamente, a verdadeira cara das pessoas que, num passado recente, eles julgavam inocentes, patriotas, puros e bons filhos de “tchon”, grandes estadistas de renome internacional.

Quanto à arrogância e o desprezo para o povo e a inteligência dos guineenses; permita-me, senhor General, continuar a discordar e denunciar esse seu grande defeito que dificilmente conseguirá reconhecer. Este povo é humilde mas respeitável e respeitador de quem o respeita.

É a arrogância e o desprezo para com o seu povo que leva um Ex-Presidente (máximo) a ousar falar publicamente da sua corrupção pessoal e da corrupção do seu regime e dos seus Ministros, porque convencido que nada lhe pode acontecer visto que os governados não são inteligentes. Pode ser verdade. Mas pode também não ser bem assim como está a pensar...

Como cidadão insultado na sua moral e inteligência, peço a justiça (Ministério Publico) do país para abrir um processo - crime contra o cidadão Ex-Presidente João Bernardo Vieira, seja ou não Presidente no dia 25 de Julho próximo.

Com efeito, quando um Ex-Presidente da Republica (gestor da coisa pública) cujo regime arruinou completamente o seu país e catapultou o seu povo para uma miséria e atraso ignóbil, em vez de prestar contas do seu reinado de 18 anos vem dizer que um empresário lhe roubou bens que nunca manifestou ao povo ou que um dos seus ex-Ministros roubou fundos públicos mas que ele (Presidente), apesar disso, promoveu-o no seu partido e no seu regime ao ponto de ser a segunda figura do Estado, é caso para todos os guineenses com alguma honra ficarem INDIGNADOS e INSULTADOS na sua inteligência. Basta senhor General!

É, em reacção a isso que ouvi da sua boca, que lhe faço esta carta senhor General. Como disse no princípio, já lhe tinha feito uma carta no inicio desta campanha a pedir-lhe que esclarecesse o eleitorado guineense alguns aspectos da sua gestão (18 anos) do país. Durante a campanha não ouvi nenhuma explicação quanto aos problemas que colocara, a saber: a destruição sistemática da economia, os crimes praticados no seu regime e a ausência de um projecto político credível para a Guiné no seu programa eleitoral.

Pronto, aceito agora que a sua arrogância e desprezo para com este povo não lhe permitem responder tais questões colocadas por um simples velho, reformado professor primário.

Volto a escrever-lhe a escassos dias do fim da campanha porque os guineenses carecem de explicações, agora mais do que nunca, quanto à origem do seu património e reclamam uma declaração certificada dos seus bens em 1974 e agora 2005, quer ganhe ou quer perca as eleições!!!. Um conselho. Desta vez, se voltar a ser Presidente ponha tudo em seu nome e não em nome da sua esposa (que também pode voltar a traí-lo) ou dos seus “amigos”, não vá o diabo tecê-las.

Como a vida das pessoas também tem uma história, vou contar aos meus compatriotas guineenses apenas uma pequeníssima faceta da sua vida que conheço. Sei que você é filho de uma modesta e honesta engomadeira do bairro de Chão-de Papel (Bissau) que sempre trabalhou para ganhar a vida e sustentar os seus. Você foi parar à epopeia da Luta de Libertação Nacional porque pairava sobre si a suspeição de um roubo na empresa onde trabalhava como ajudante de electricista em Bissau. Tanto quanto sei, você saiu fugido de Bissau não para abraçar o movimento nacionalista (ou o PAIGC) mas porque tinha contas a ajustar com a justiça colonial. Permita-me também, dizer ao povo, que quem o levou para o PAIGC, a muito custo, foi o velho comandante Luciano N’DAO. Penso que não vale a pena contar outros aspectos negativos da sua vida como combatente (no mato) porque este povo precisa de ser poupado dessa faceta negra do seu herói.

Com a independência, a sua apetência para mulheres e dinheiro rapidamente o transforma em governante-corrupto. Como alguém disse, você é o único dos seus companheiros que se enriqueceu depois da independência. Tornou-se no homem mais rico do país, à custa das funções que foi ocupando no Estado. À custa destas funções o senhor facilmente se envolveu com Jonas Savimbi. O reconhecimento desse envolvimento é a quantidade de ouro e diamantes de Angola que, através de si, Savimbi branqueou em Bruxelas (Bélgica). A sua esposa foi objecto de detenção no aeroporto de Bruxelas a transportar ilegalmente ouro consigo.

Você tirou partido dos seus Ministros mafiosos, associando-se a eles e outros conhecidos mafiosos internacionais portugueses para, em proveito próprio, vender e comprar todas as empresas públicas comerciais e industriais de que o país dispunha (Armazéns de Povo, Socomin, Dicol (disse ele agora), Titina Sila, Cumeré, Blufo, Bambi, Volvo, Oxigénio e Acetileno, etc., etc.). Torna-se sócio do outro mafioso africano – o presidente Lassana Conté, da Guiné-Conakry – para melhor se dedicar ao tráfico de diamantes da Serra Leoa.

Com um salário de Presidente de 1 200 000 Mil Pesos (20 000 francos CFA) que você dizia ganhar enquanto Chefe de Estado (ver entrevista ao jornal português Expresso de 2001) não consegue justificar ao povo da Guiné-Bissau como adquiriu e porque deixou em nome de familiares e de terceiros os bens que reclama agora.

Mais uma vez, e como não citou propositadamente grande parte dos seus bens, vou-lhe lembrar os outros bens que escamoteou ao povo (mas que todo o guineense conhece) agradecendo penhoradamente que esclareça ao povo como comprou os seguintes bens e quanto deve nesta data nos Bancos pela compra do referido património imobiliário, uma vez que sabemos que não herdou nada nem nasceu rico:

Vivendas:

1.      A residência habitada pelo PM (que disse ser do filho);

2.      O Palácio residencial oficial do Presidente na Rua Bafatá (que a sua esposa reclama ter comprado para garantir o futuro dos seus filhos);

3.      A vivenda onde se encontra instalada a Agencia do ex-BIG na Avenida Unidade Africana;

4.      A vivenda geminada onde funcionam os serviços de Protocolo do Estado, na Avenida Amílcar Cabral;

5.      O Complexo residencial do Bairro Militar

6.      A vivenda do Bairro de Luanda onde morava a sua ex-segunda esposa que era propriedade do Banco Nacional Ultramarino;

7.      A vivenda do bairro de Ajuda (nova fase) actualmente ocupada por Zamora Induta;

8.      A vivenda geminada do bairro de Luanda;

9.      A vivenda no Bairro de Chão de Papel ocupada pelo ex-General Veríssimo Correia Seabra;

10.  A vivenda em Bruxelas onde reside a sua família (que estava em nome do arquitecto senegalês Pierre Goudiaby);

11.  A Vivenda da Vila Nova de Gaia onde esteve refugiado em Portugal

12.  A vivenda no Bairro de Fann-Mermoz em Dakar (construída pelo arquitecto Pierre Goudiaby)

13.  A vivenda em Cascais/Portugal (em nome do seu primo Murido Vieira)

14.  A vivenda em Maputo/ Moçambique onde reside a sua filha advogada

 

Empreendimentos:

 

15.  A propriedade agrícola de Ensalma

16.  A propriedade agrícola de Finete/Bambadinca, em nome da sua mãe;

17.  A propriedade agrícola de Gã-Mamudo/Bafatá

18.  A propriedade agrícola dos palestinianos conhecida pela granja de Prábis, em nome do Avito José da Silva

19.  A  Petromar (que disse ser da sua esposa e que prometeu doar ao Estado não sei bem porquê, mas enfim...);

20.  A companhia de cerveja CICER de que é accionista com o empresário português de Expo

21.  A GUIPORT de que é sócio com outros seus ex-Ministros dos Transportes e um empresário português

22.  As empresas de pesca que tem em Conakry a pescarem nas águas territoriais da Guiné-Bissau

 Enfim, senhor General, já agora, em nome da reconciliação nacional, diga-nos toda a verdade e só a verdade para nos libertarmos deste tenebroso passado.

 Se explicar tudo isso, pode contar com o meu voto enquanto cidadão que lhe admirará para o resto da vida pela contribuição que dará para salvar este país da sua desintegração por vergonha dos seus políticos.

Atenciosamente.

Galo Garandi 

Seu compatriota e professor primário na reforma

 

Carta Aberta ao Senhor General João Bernardo Vieira

CIFAP- bombardeamento ordenado por Nino Vieira no conflito militar de 98/99 na Guiné-Bissau

Esta imagem não se esquece e o acto não pode continuar impune!

 

Galo Garandi

Junho 2005

Ao Senhor General Candidato “Nino Vieira”

Bissau

Excelentíssimo Senhor GENERAL,

Sou um simples cidadão, professor primário (reformado) que reside em Bissau há mais de 62 anos e que ouviu pasmado o seu hipócrita discurso carregado de ódio, que nem o grande “bubu” que usava conseguiu encapotar. Como já não espero viver mais outros tantos anos, achei por bem fazer-lhe esta carta, pois um homem com a minha idade é a única contribuição que pode dar neste processo que, mais uma vez  está a arrastar tanta gente nova para o abismo.

Senhor General,

Você disse que se for eleito iria:

  1. Trazer electricidade e água ao povo. Você já foi Presidente durante 18 longos anos, porque razão não trouxe luz nessa altura em que era um Presidente Absoluto? Lembre-se que mais de metade do seu reinado governou sempre como Chefe de Governo (após a misteriosa morte do grande guineense Francisco Mendes – Tchico Té) e quando tinha um Governo os seus Primeiros Ministros não eram mais do meninos de recado, como por exemplo, o Carlos Correia, pois cedo quis matar o Victor Saúde Maria (porque este sabia o que era mandar e já estava a escapar ao seu controle) e afastou o Manuel Saturnino da Costa (porque este tinha uma personalidade forte e tinha na época Ministros que o Senhor General não tolerava nem a molho de tomates – casos do Hélder Proença, Aristides Gomes, etc. – ironias do destino…)

 

  1. Empregar todos os quadros. Foi necessário vir do exílio para se lembrar que deveria empregar os quadros. É verdade que você empregou (e bem, diga-se em abono da verdade) alguns quadros seus (e de todas as etnias) da sua confiança, que sempre acabaram por se descaracterizar enquanto seres humanos, ao ponto de perderem a sua dignidade. Os quadros a quem melhor empregou são aqueles que, ou lhe permitiram usar e abusar do património do Estado (as suas propriedades de Safim, Gã-Mamudo e Finete…são disso provas eloquentes, para não citarmos mais…), ou com quem tinha ligações amorosas, ou com a esposa, irmã, tia ou cunhada. Para além destes quadros você tinha um medo pavoroso dos quadros, daí o facto de se ter rodeado, usado e descartado de gente como os Baciros Dabós, Iaias Dabós, os Ibhaimas Sows, Marucas, Arlindos Netos, etc. e de actualmente de toda a corja de caloteiros-môr da nossa empestada praça (Dias e Dias, Hélder Proença –que recentemente na sua curta estadia em Dakar foi preso por passar mais uma vez cheques sem cobertura de que falaremos em breve…, Conduto de Pina, Laurindo, que até é Vieira, claro está, etc., etc.) figuras gradas que o acompanhavam na sua improvisada tribuna e na sala do Bissau Hotel.
  2. Desenvolvimento económico. Oh Senhor General!!! Não acha que a sua lata soa a atentado contra a inteligência dos guineenses? Logo você, Nino Vieira que varreu e vendeu tudo o que foi deixado por Luís Cabral e Tchico Té vem agora com 67 anos dizer ao mundo em alto e bom som, que vai desenvolver a Guiné-Bissau? Mas como presumo que está a sofrer de amnésia vou-lhe tão simplesmente reavivar a sua memória. Tenha a coragem de dizer aos guineenses em que estado deixou em 1999 as unidades industriais que você encontrou em 1980, a saber:

 

    • O Complexo Agro-Industrial de Cumeré, que você mandou desmantelar com o seu sócio da Guiné-Conakry, de nome Wilian Sakco (fabrica de ração animal, fábrica de sabão e fábrica de óleo) que foram vendidos para o estrangeiro, salvo erro ou omissão, Senegal (há muitos quadros do ex-CAIC que ainda têm documentos, com a assinatura do General Candidato à Presidente…);

 

    • O avião Presidencial “SAKALA”, vendido e o dinheiro mamado pelo seu amigo Manecas Santos;

 

    • A fábrica de sumos de Bolama “Titina”, destruída e abandonada;

 

    • A fábrica de automóveis “N´Haye, destruída e varrida;

 

    • Armazéns do Povo, Socomin, Dicol, Guinégaz, idem aspas.

 

    • A Guimetal, destruída pelas suas bombas disparadas durante o conflito político-militar pelas suas forças expedicionárias senegalesas e guineenses;

 

    • QUER AINDA MAIS, SENHOR GENERAL????

 

Pessoalmente não sou nem nunca fui admirador do Senhor Dr. Kumba Yalá, que até envergonha os guineenses da minha idade e suponho, também dos mais jovens. Porém, convido o Senhor General a ouvir as intervenções deste candidato, que apesar de doido e excêntrico é mais convictamente nacionalista que você. Ele (Kumba Yalá) até conseguiu fazer mais desenvolvimento, em apenas 3 anos do que você em 18 anos. O ex-Presidente Kumba Yalá pode ainda dizer que foi durante o seu curto (felizmente) mandato que se fizeram obras como a ponte de João Landim, a sede da Assembleia Nacional Popular, o Complexo Residencial dos Antigos Combatentes em Antula (seus companheiros que você agora a tentar enganar, uma vez mais, mas para quem você NUNCA NADA FEZ).

 

  1. Paz e estabilidade, que HORROR!!!! Estas palavras saírem da sua boca. Quem é que não se lembra dos Golpes de Estado inventados durante o seu consulado para matar os seus adversários. Vamos citar alguns para lhe avivar a memória:

 

    • 14 de Novembro (1980);

 

    • 17 de Outubro (1985);

 

    • 17 de Março (1992);

 

    • 7 de Junho (1998)

 

    • Invasão do país pelos senegaleses e as forças dos seus sócios da Guiné-Conakry para matarem deliberadamente o seu próprio povo (o Senhor General recorda-se que ao lhe perguntarem o porquê desta medida, respondeu com a pouca vergonha que sempre o caracterizou, citamos, “que a guerra é guerra…)

 

    • Matança do CIFAP. O Senhor General já viu ao menos as fotos???;

 

    • etc. etc, etc…

 

Enfim, Senhor General, todas estas tenebrosas lembranças, algumas delas bastante fresquinhas, não lhe tiram o sono???

 

  1. Combate contra o tribalismo, o regionalismo e o fundamentalismo. É verdade Senhor General, pois enquanto pregoa este slogan de dia e publicamente, à noite, pela calada da noite, os seus homens de mão estão a lançar outra palavra de ordem e sabe qual? Então vou-lhe recordar, dado o seu grande estado amnésico “combater o perigo balanto-mandinga representado por Kumba Yalá e Malam Bacai Sanhá

 

Senhor General,

Eu no seu lugar, depois de mandar mal e durante 18 longos anos, deixaria o lugar de Presidente a outros guineenses mais habilitados técnica e moralmente que até estão nesta corrida eleitoral, a não ser que a sua motivação seja apenas a VINGANÇA E A DESTRUIÇÃO DO POUCO QUE AINDA RESTA DE PÉ NESTE PAÍS DE GENTE GENEROSA E HUMILDE.    

Aceite este conselho de um velho, cuja aspiração máxima é de ver voltar a harmonia, a paz, o amor e a alegria que sempre foram apanágio dos guineenses e nesse aspecto o senhor mesmo que se vista com a pele de cordeiro, jamais pode dar, porque tem as suas mãos sujas de sangue dos verdadeiros e patrióticos filhos da nossa querida terra.

Bem-haja senhor General.

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