Uma questão de interpretação 

 

Começo por elogiar, a persistência do presidente da República, interino, da Guiné-Bissau na sua campanha de sensibilização para a obtenção de solidariedade da Comunidade Internacional, para com o seu país.

 

Pedir solidariedade, não pressupõe exclusivamente pedir dinheiro...ou outros bens materiais. A Guiné-Bissau, precisa de dinheiro, precisa de medicamentos, materiais escolares, precisa de um sem número de ajudas nas diferentes áreas de actividades do país.

 

No entanto, face a toda a situação que se vive actualmente, há um aspecto que aparenta maior carência e assume-se como decisivo para o futuro da Guiné-Bissau. Estou a falar do reconhecimento político da situação criada na Guiné-Bissau, com os acontecimentos do 14 de Setembro. Não havendo reconhecimento das novas autoridades do país pela Comunidade Internacional, a solidariedade no seu sentido mais amplo deixa de existir, o que pode vir a pôr em causa, ainda que de forma remota, a existência do país Guiné-Bissau como Estado.

 

Sugiro uma reflexão de fundo a todos os guineenses no que aos problemas actuais o país enfrenta, como forma de todos juntos tentarmos encontrar soluções para os nossos problemas. Problemas esses que todos nós ajudamos a criar, directa ou indirectamente e, por isso, o nosso dever e obrigação, patrióticos, na restituição da dignidade à Pátria Mãe.

 

Na sua recente visita de Estado a Portugal, Henrique Rosa reconheceu que o golpe de Estado de 14 de Setembro "não está bem esclarecido"para a Comunidade Internacional, justificando então o não reconhecimento das novas autoridades da Guiné-Bissau, pela grande maioria dos Estados, sobretudo os da União Europeia, principal parceiro da Guiné-Bissau, como uma "questão de princípio, para não abrir precedentes, para não fomentar mais situações idênticas".

 

Para Henrique Rosa " os golpes de Estado são sempre condenáveis e, na Guiné-Bissau, houve um início de golpe de Estado que depois acabou por abortar, através da renúncia do ex. presidente Kumba Yalá " Este será o esclarecimento a apresentar à Comunidade Internacional, pelos vistos...Ora, todos nós guineenses queremos que a Comunidade Internacional volte a ser solidária com o país, mas, os argumentos são insuficientes.

 

Se houve um início de golpe de Estado que depois abortou, dando lugar à renúncia...porque não se baseou na Constituição, para dar seguimento aos parâmetros legais neste caso? Poder-se-á dizer que, por exemplo, a Assembleia foi dissolvida e a Constituição não contempla solução para este tipo de situações. Tudo bem, mas se o presidente renuncia, porque não incluir na declaração de renúncia a reactivação da Assembleia Nacional Popular?

 

Para a Comunidade Internacional, que tem as suas representações em Bissau, ou acesso a informações no terreno, não houve, nem tem havido transparência em todo este processo, excepção feita ao Dr. Jorge Sampaio, presidente de Portugal, que considerou que a Guiné-Bissau deu uma" excelente lição " à Comunidade Internacional, com a forma pacífica como resolveu uma situação política e militar complexa", tendo ainda considerado "muito positiva" a evolução da situação política e militar na Guiné-Bissau....Ora, são pontos de vista do Dr. Jorge Sampaio, deixo que o tempo lhe esclareça melhor sobre a sua abordagem...

 

Quanto à Comunidade Internacional, espero que analise com carácter de Humanismo, primeiro e, só depois, de Estado, a situação que se vive na Guiné-Bissau, criando alternativas de "reconhecimento", ainda que negociáveis, mas que "abram portas "à normalização da actividade social, política e económica do país. A Guiné-Bissau pede solidariedade. A Guiné-Bissau precisa de solidariedade...

        

 

Fernando Casimiro (Didinho)

 

 09-11-2003 21:34

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