Um olhar  sobre  o período 1998-2003

 

Eduardo Monteiro

eemonteiro@hotmail.com

10.09.2010

 O conflito armado desencadeado na Guiné-Bissau, através de um levantamento militar a 07 de Junho de 1998, acabou por desembocar na 1ª guerra civil, com envolvimento de tropas estrangeiras enviadas da Guiné Conakry e do Senegal em "socorro" ao então Presidente da República João Bernardo Vieira.

O levantamento militar, foi o culminar de contradições de uma série de conflitos gerados pelo tráfico de armas para Casamança durante muitos anos, transaccionados pelos mais altos oficiais das  Forças Armadas, sendo que, sempre se apontou o dedo ao próprio General Nino Vieira.

Com os acontecimentos do casal francês, desaparecido em Casamança, a França decidiu  envolver-se mais directamente no conflito, com o objectivo de conhecer a verdade e cumprir com a responsabilidade que tinha junto da família, de transladar os restos mortais dos seus entes-queridos entretanto desaparecidos.

Daí, a diplomacia francesa, junto das autoridades guineenses, diligenciou, solicitando apoio da Guiné, uma vez que, eram conhecidas as ligações sub-reptícias que existiam com os independentistas,  embora publicamente sempre negadas.

A Guiné, envolve de forma discreta, através dos serviços de Inteligência, dirigido pelo seu então chefe, Coronel João Monteiro e seus colaboradores directos. Pois, os mesmos acabaram por prestar um péssimo serviço, uma vez que, como resultado do trabalho realizado, enviaram os restos mortais que, mais tarde, após exames de ADN, concluiu-se serem de indivíduos de raça negra e não do casal francês.

Aliás, hoje sabe-se que a mulher está viva e vive maritalmente com um dos Comandantes do Movimento Independentista, concretamente, Salifo Sadjo e, segundo consta, dessa ligação há filhos.

Desde então, a França, procurou reforçar a aproximação Guiné/Senegal. Constatou-se uma maior aproximação diplomática e um aumento da cooperação militar com o Senegal, para além de jogos de interesses desequilibrados (chamada matemática de Boé) em relação à questão do petróleo .

Tudo isto, gerou grandes contradições internas, porque como era a prática, a primeira figura do Estado, queria se limpar diplomaticamente e tinha como imperativo criar um escudo. Como também era sobejamente conhecido, estas práticas, os supostos apontados como responsáveis, inclusive, o Brigadeiro Ansumane Mané, reagiram e foram suspensos alguns oficiais entre eles o próprio Brigadeiro.

Também de sublinhar que, a Democracia mal ou bem já estava a funcionar e os métodos outrora usados durante o regime do Partido único não funcionaram.  Tal, descambou na implementação de um inquérito promovido pela Assembleia Popular. O relatório produzido, indiciava os responsáveis do tráfico de armas para o Movimento de Casamança.

Esse relatório criou fracções dentro do partido no poder.  O actual Presidente,  Malam Bacai, então Presidente da Assembleia popular, e Hélder Proença, estiveram  do lado  dos Militares.  O actual Primeiro-Ministro, Carlos Gomes Jr, e outros, estiveram do lado do então Presidente da República, Nino Vieira .

O então presidente, Nino, cometeu o erro fatal quando na noite de 7 de Junho de 1988, nomeia o Brigadeiro  Humberto Gomes como Chefe do Estado-Maior e para seu adjunto, o Tenente-Coronel  Afonso Té, cargo este, inexistente até à presente data na nossa constituição.

A noite de 7 de Junho, foi o início de uma dramática história para o povo da Guiné, que, tinha saído de uma longa luta de libertação Nacional, onde a guerra foi terrível, aliás, foi o único Movimento de libertação na nossa história contemporânea, que, lutou simultaneamente para as Independências de dois países. Guiné e Cabo Verde. Foi o único Movimento de libertação que ganhou a guerra militarmente à antiga potência colonial. A Guiné, ganhou a guerra militarmente e havia proclamado a sua Independência antes do 25 de Abril. Reconhecida por mais de 60 países, inclusive o Vaticano.

Ora, de contradições a uma guerra civil, é importante sublinhar que, quando ocorreu o levantamento militar, ninguém acreditou que passaríamos para uma situação de guerra, uma vez que, a própria sociedade civil e os Partidos políticos da oposição, foram unânimes em dizer que se tratava de problemas internos no PAIGC.

A verdade que veio dar conta da gravidade da situação, foi a chegada das tropas estrangeiras ao território nacional, o que ressuscitou o ímpeto nacionalista e a união de esforços de todas as forças vivas da Nação. Isto porque nenhum povo aceita de ânimo leve a presença de forças estrangeiras, impostas pela força.

O povo, desde então, prestou todo o seu apoio à Junta Militar, sob todas as formas possíveis.

Era de novo o ressuscitar do nacionalismo da independência e a Junta acabou por derrotar militar e diplomaticamente o então Presidente Nino Vieira, que, acabou por conhecer um período de exílio.

Hoje, se as forças armadas, FARP, partissem do pressuposto de que se por qualquer motivo  isso voltasse a acontecer na Guiné, teriam tal apoio do povo, estariam redondamente enganados!

Pois , a maior parte dos comandantes ou generais "fabricados" pelo ex-Presidente Cumba Yala, no seu processo de mobilização forçada e etnização das forças armadas, assim como, a hierarquização balantizante são os maiores problemas nos nossos dias, uma lamentável e pesada herança deixada pelo ex-Presidente Cumba Yala.

A Prossecução, a  retoma da reconstrução do amarfanhado  e fragilizado  projecto de guinendade ou seja, da Nação Guineense, sonho de todos os filhos e amigos daquela Pátria, não parece fácil, enfrentando as tentativas fratricidas, por vezes com movimentações etnizantes ou das corporações, suportados com jogos de interesses pessoais, nem sempre acessíveis a uma adequada leitura, interpretação e entendimento politico. Não há paradigma no mundo de irmãos desavindos que construíram e desenvolveram os seus países, Desenvolvimento só se faz com entendimento, união de esforços e o orgulho de pertencer um todo, no nosso caso, a pertença da Guiné-Bissau, por todos, é a condição sine qua non, para a paz, amor entre todos os irmãos numa perspectiva participativa e livre concurso de oportunidades com base em princípios éticos de um Estado de Direito, que respeite as mais elementares regras dos Direitos humanos.


PROJECTO GUINÉ-BISSAU: CONTRIBUTO - LOGOTIPO

VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!

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