“The game is over” com um verdadeiro tiro no pé

 

 

Kumba Yalá  e Nino Vieira   Foto de Jorge Neto

 

 Foto de Jorge Neto www.africanidades.blogger.com.br

 

Alin Li

 

 

05. 05. 2005

 

 

Após a chegada “triunfal” do General derrotado pelas suas próprias forças armadas, apesar da ajuda recebida, em nome de uma difícil solidariedade, do Senegal e da Guiné-Conakry, escutamos atentamente este a pedir perdão a todos os guineenses que de uma ou outra forma tinha prejudicado, bem como, a dizer igualmente que ele também perdoava a todos os que o ofenderam na sua honra e dignidade.

 

Vimos uma autêntica romaria de amigos e sócios de longa data do General, bem como de velhos inimigos, que se prostraram aos seus pés, implorando amizade e cooperação.

 

Vimos e registamos os protagonistas das eternas guerras internas dos principais partidos com assento parlamentar (PAIGC, PRS, PUSD) e das traições no seio da classe militar a caminhar a passos largos para mais uma fase caricata, ou seja, os actores e principais responsáveis pela tragédia guineense fingem a reconciliação, enquanto pelas costas, estão a limpar as armas para o inevitável ajuste de contas. Portugal está tão certo disso, que já aconselha os seus cidadãos a não se deslocarem para a Guiné-Bissau, só em casos de extrema necessidade.

 

Vimos alguns dirigentes, por sinal, importantes pelos cargos que assumem no PAIGC, a nadarem contra a maré, num apoio descarado e sem moral e muito menos ética, que para além de serem oposição ao seu próprio Governo (do PAIGC), tentando a custa de alianças com o PRS e com alguma conivência dos militares, derrubar o Executivo de Carlos Gomes Jr., a serem os mais vassalos dos vassalos do General. Só visto o correpio dos salamaleques no Bissau Hotel ou nas deslocações do Presidente derrotado pelas ruas de Bissau.

 

Vimos Kumba Yalá e Nino Vieira a trocarem visitas e aparentemente a conspirarem contra a legitimidade instituída e a declararem mutuamente apoio.

 

Ouvimos o General a afirmar e a repetir mais do que uma vez que não era candidato.

 

Estas afirmações criaram nas hostes de Kumba Yalá e dos militares a convicção de que o General não era um adversário, mas sim um aliado e foi grande surpresa que viram os novos aliados do General a depositarem no Supremo Tribunal de Justiça o seu dossier de candidatura.

 

Vimos igualmente, no meio desta dança, Hélder Proença, um dos mais ferozes adversários de Nino Vieira a fazer o papel de Mandatário da campanha do General. Basta recordar as suas dramáticas intervenções proferidas em Gabú e Bolama, em nome de um PAIGC Renovado, onde considerou Nino Vieira, não só como monstro e um ditador sanguinário, como pediu desculpas, chorando, pelo facto de ter alguma vez, enquanto dirigente defendido o General derrotado. E é a residência de Hélder Proença que se transforma hoje na sede da campanha do General. É o reencontro, até ver, dos principais mentores da guerra de 1998, que teve como causa aparente a venda de armas aos rebeldes de Casamansa pela máfia de Nino Vieira instalada no aparelho da segurança do estado.

 

Vimos igualmente o General, para além de ter escolhido como seu mandatário, o grande estratega Hélder Proença (que nestas coisas não deve absolutamente nada a ninguém), seu inimigo de “toujours”, tem nas suas hostes, pelo menos viu-se durante a sua estadia em Bissau, os maiores “caloteiros” da nossa praça e estamos seguros de que certamente, na hora onde o mais forte começar a cantar, o vão desacreditar na calada. Temos a quase certeza que o General os conhece bem, aliás muito bem. Diz-me com quem andas…

 

Também vimos Oficiais Militares (envolvidos com e) instrumentalizados sempre pela classe política guineense (com a ajuda sempre invisível do General) entrarem em ajuste de contas entre si, resultando esta, na última eliminação do General Correia Seabra, depois de Anssumane Mané e de outros oficiais da ex-Junta, ferozes e determinados inimigos de Nino Vieira. Os restantes “traidores” não perdem por esperar.

 

Será que perdão significa esquecer? Pensamos que não e para calar a boca a “ala política” desta incessante tragicomédia guineense, um “golpe de Estado” é inventado contra os que, aparentemente, se opunham ou opõem ao “apagão” dos crimes mais hediondos praticados neste país pelos actuais protagonistas político.militares. Basta recordarmos, nomeadamente:

 

 

 

 

Vimos Nino Vieira reaparecer ufano e triunfante vestido com uma camisa de “perdoador” a cobrir disfarçadamente a camisola interior de “não arrependido” e à cautela, não fosse o diabo tecê-las e como bom militar que é, transportado num heli-canhão, para se precaver mais contra os seu suspeitos “novos aliados” do que os seus inofensivos opositores, apesar de perdoar e da euforia de “reconciliação”.

 

O General sabe muito bem que o perigo só pode advir dos seus “novos aliados”, os militares da ex-Junta Militar e do caso “17 de Outubro” ainda vivos e dos familiares das vítimas do seu regime (João da Costa, João da Silva, Braima Bangurá, Paulo Correia, Embaná Sambú, Benhanquerem Na Tchanda, Nforé Bitna e tantos outros, bem como os mentores da guerra de 7 de Junho.

 

Também o General sabe que ao depositar a sua candidatura no Supremo Tribunal de Justiça ganhou mais inimigos, nomeadamente dos correligionários de Kumba Yalá, os oficiais Balantas das Forças Armadas (que inclusive, só queriam um balanta na mais alta chefia do Estado guineense – fala-se de Faustino Imbali, um ex-Primeiro-Ministro nomeado, demitido e acusado de roubo por Kumba Yalá), e os elementos da sua nova guarda pretoriana, o Movimento Kumba Presidente “MKP”.

 

Assim sendo, a comédia guineense ganha novos e importantes contornos.

 

De um lado, os Oficiais do Comité Militar também vestem de “arrependidos” conseguem concretizar duas coisas. De um lado, desobedecer as ordens dadas por um Governo legítimo e corajosamente assumidas por um Primeiro-Ministro, que não tem nem tropas nem seguranças do seu lado e do outro lado, recebem com lágrimas de crocodilo, pompa e circunstância o General, que vem, segundo os seus novos parceiros, com importantes contrapartidas e grandes promessas.

 

Passada a euforia, o ajuste das contas no seio de um outro importante sector da classe castrense, entenda-se, outro grupo de oficiais balantas, já que o primado da horizontalidade deste grupo étnico compromete tudo o que é hierarquização, começa a exigir a sua parte do “bolo”. Outra pressão vem da parte dos filhos e familiares dos presos e fuzilados do sempre presente caso “17 de Outubro”, que consideram traição o gesto de “acolhimento” ao General, protagonizado à revelia das legítimas instituições guineenses.

 

A coisa começa a ficar preta e mais complicada para todos, quando verificam que as promessas do General são mesmo simples promessas e não mais do que isso, porque Nino Vieira é mesmo candidato a sério e com possibilidades de ganhar as próximas presidenciais, caso consiga ultrapassar os obstáculos legais no âmbito do Supremo Tribunal de Justiça.

 

Ganhando as próximas eleições presidenciais, a oficialidade balanta sabe que tem a cabeça a prémio, e num acto de sobrevivência atempada, vêm agora à praça pública dizer ao tribunal que afinal, Kumba Yalá tem de ser candidato, custe o que custar, pois mais que o General, este é o único candidato que não constitui potencial ameaça para este indigno grupo de militares.

 

Paralelamente, toda a classe política que assinou a Carta de Transição começa a ficar inquieta, alguns já denotando um certo pânico e clamando por mais uma traição dos militares, sendo de realçar que a perplexidade atinge o próprio PRS, quando Nino Vieira e Kumba Yalá anunciam o seu súbito e estratégico pacto, que com a candidatura do General está a cair já por terra, ouvindo-se um pouco de cada lado, que agora é só esperar por ele, para que certas contas sejam arrumadas.

 

O sinal de que as coisas não andam bem e que subsiste um pânico latente, são as palavras de um vigoroso e inesperado distanciamento do General Bitchofula Na Fafe em reacção a sua recusa de assinar uma Carta do Comité Militar endereçada aos Tribunais, numa clara tentativa de ilibar Kumba Yalá e assim abrir caminho à sua aceitação como potencial candidato às próximas eleições presidenciais de 19 de Junho próximo.

 

O cenário para mais uma trágica peça de teatro está sendo minuciosamente montado e a eliminação de mais algumas cabeças “indesejáveis”, inclusive dos aliados de última hora está já na cena final de montagem.

 

Como disse uma personalidade internacional aquando do 11 de Setembro, “the game is over” visto que os protagonistas já iniciaram as suas representações desferindo tiros no seu próprio pé. A ver vamos e tudo é só uma questão de tempo.

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