TOLERÂNCIA ZERO ZERO!

 

 

Adulai Djaló  

wyado@hotmail.com

24.04.2012


Dr. Adulai DjalóÀ luz das informações disponíveis nos últimos meses e em conformidade com as observações feitas no terreno aquando das minhas férias na Guiné-Bissau, em janeiro último, entendi por bem, enquanto cidadão guineense, partilhar a minha preocupação/opinião sobre o impasse sócio-político que se verifica no País. Antes de tudo, gostaria de recordar que, para os guineenses, a GUINÉ-BISSAU não representa um mero pedaço de terra no continente africano. Ela é, sobretudo, a raíz  de uma longa linha genealógica dum povo de dignidade singular, que marcou a história universal de uma forma invejável (consultem a historia) e, ela é a razão suprema de existência de cada filho guineense. Que fique claro para todos, o seguinte : A Guiné-Bissau e os guineenses são eternamente indissociáveis!

Por considerações humanas, geopolíticas e geoestratégicas a Guiné-Bissau deve estar preparada para tirar proveito  das vantagens da cooperação multi e bilateral, cuja dinâmica caracteriza a conjuntura regional e mundial. O sucesso neste capitulo é definido, em grande parte, pelos fatores ligados a estabilidade sócio-política, a competitividade econômica, para apenas mencionar alguns. Inserida como membro em diferentes organizações regionais e mundiais, a nossa PÁTRIA tem o dever de respeitar os compromissos assumidos pelo governo legitimado pelo povo. O governo, em nome das suas instituições, compromete-se solenemente a garantir o bem estar (à todos os níveis) à cada cidadão, onde quer que este se encontre. Compromisso sagrado, que é indicador essencial para a avaliação da capacidade governativa de um ESTADO.

Será que após a proclamação da independência política fomos capazes de criar um ESTADO?

Na minha opinião, não. Falhamos gravemente na construção do nosso Estado. Fomos todos cúmplices dos que nos conduziram até aqui.  Por exemplo : Luis Cabral,  Nino Vieira,  Kumba Yala, Malam Bacai Sanha, Carlos Gomes Junior; dirigiram o país com o apoio de cidadãos guineenses honestos e desonestos bem conhecidos da nossa praça. Foi mesmo assim e todos conhecemos os resultados. O país caiu no abismo. O guineense está a beira de perder a sua autoestima. Tudo continua na mesma. Com o nascer da primeira República, o guineense passou gradualmente de homem pobre a cidadão miserável. A fuga desenfreada para o estrangeiro não pára de aumentar. Recursos humanos qualificados desperdiçados. Que lástima!

Na condição de membros do Governo, fazem tudo por ser milionários graças ao roubo do bem público.

Num país de parcos recursos, elevado índice de analfabetismo e de pobreza, como estranhar que o 12 de abril se venha juntar à lista de desgraças que temos vivido, mais porque os que nos dirigiram não o fizeram  com competência e muito menos com justiça, nas suas várias acepções?

As nossas gloriosas Forças Armadas Revolucionárias do povo (FARP) é uma das instituições com maior sensibilidade para com o povo guineense. Braço armado do povo Guineense. Ela serviu e serve à PÁTRIA eficazmente. Nada é perfeito. Não esqueçam que por detrás de cada instituição está o homem. Sendo o homem imperfeito, consequentemente a instituição sê-lo-á.  As nossas FARPs sofreram a mesma terapia (emprestado do Sr. Chicote) que foi administrada ao povo guineense pelos governantes que caracterizei anteriormente. Com o nascer da primeira República, os nossos militares passaram gradualmente de heróis vivos a alvos a abater por recusarem constantemente ceder  a soberania Nacional à corruptos. No seio das FARPs foram criadas situações de intriga e de traição. Dividir para melhor reinar! Perdemos demasiados homens competentes e valentes em nome de ambições desmedidas dos maiores traidores da nossa PÁTRIA.

Haverá algum guineense digno desse nome que concorde com a subordinação das nossa Forças Armadas à força(s) estrangeira(s), no nosso território?

Desde que se tornou pública a alegada carta do PM ao Conselho de Segurança da ONU, solicitando o envio de força multinacional, nos moldes em que o fez, até hoje não se conhece nenhum desmentido formal ou informal desse facto. Será que, estamos ante o dito popular que diz que « quem cala consente »? Pelo tempo decorrido, cresce a consolidação da denúncia.

O resultado do acontecimento do dia 12 de abril último é irreversível. Os fatos estão consumados. Constitucional ou inconstitucionalmente, o Comando militar é que detem o poder atualmente na Guiné-Bissau. Sem demora iniciou um processo de concertação com a classe política para a transferência do poder a uma direção civil nacional. Enquanto isso, uma delegação de porta-voz bicefal dirigiu-se à Nova York pedindo ao Conselho de segurança da ONU que enviasse para à Guiné-Bissau um corpo militar especializado, com mandato alargado, para repor a ordem constitucional no País. Que ilusão e falta de compreensão do funcionamento da ONU! Não estamos em situação de guerra civil. Não conheço país no mundo onde um golpe militar foi sucedido de retorno constitucional no intervalo de uma semana. O Conselho de Segurança tem outras prioridades. O caso guineense vai arrastar consigo uma solução de consenso. A proposta de saída de crise já foi lançada pelo Comando Militar. Cabe aos políticos ativos da atualidade nacional cumprirem o seu papel. Dizem por aí que o levantamento militar de 12 de Abril é condenável e que o assalto ao poder pelos militares é ilegal e consequentemente inconstitucional. Do meu ponto de vista, nem tudo o que é legal é constitucional. Posto isso, considero legitimo o levantamento de 12 de abril na óptica de que se inscreve no quadro de autodefesa face a uma eminente agressão estrangeira à soberania nacional ( desgraçadamente com fortes indícios de conivência do PR e PM, detidos). Como resultado, acho que o parlamento guineense deve ser dissolvido porque o país não tem primeiro ministro e tão pouco presidente. Após a ação do Comando Militar, o país tem que fazer face à um novo arranque. É um princípio universal. Desta vez temos que abrir os olhos e participar ativamente no processo em curso. Graças ao avanço da tecnologia de informação, a implicação ativa de cada guineense é possível e apreciável. Peço a comunidade internacional que continue a acreditar na Guiné-Bissau. Na maioria dos países do mundo, a edificação da democracia custou destruição de infraestruturas, perdas humanas e muito mais. Ainda sobre este assunto, eis algumas linhas do artigo (ver didinho: A proposito dos últimos acontecimentos na Guiné. 20.04.12, Sr. Matteo Candido): “Os povos africanos não devem considerar o arranjo sócio-político do Ocidente como o melhor. Os brancos chegaram a esta forma de Estado em meio milênio depois de sangrentas guerras e injustiças. Por conseguinte, não pode ser instalado no espaço de algumas décadas apenas, como tem sido pretendido até agora, em territórios e povos, de tradições tão diferentes do mundo ocidental”.

Não podemos ter dois fóruns de debate e de tomada de decisões que implicam os destinos do País. É possível contribuir para o País sem ser deputado da nação. Ser político ou ser deputado não é uma profissão. Há que haver espaço nacional para um governo de transição com um mandato claro e restrito. Basta de brincadeira!

A Guiné é soberana. Respeitemos os nossos parceiros e assumamos as nossas responsabilidades para com o nosso povo. Cada dia que passa nasce um novo guineense – a razão do nosso engajamento hoje e para sempre.

Para quem desejar obstruir a nossa marcha rumo a prosperidade e paz, tolerância Zero zero!

Para quem não desejar o regresso à PÁTRIA de guineenses forçados a buscar abrigo no estrangeiro, tolerância Zero Zero!

Para quem vive no passado nebuloso da nossa história, tolerância Zero zero!

Para quem sonha aniquilar a Guiné-Bissau, tolerância, Zero Zero!

Para quem sonha a divisão e a destruição das nossas gloriosas Forças Armadas Revolucionárias do Povo,  tolerância, Zero Zero!

Para quem pensa na prosperidade e deseja longa vida à Guiné-Bissau, eis o legado de Amilcar Cabral (ABEL DJASSI) para meditação : O nosso povo tem que lutar contra os seus inimigos de dentro. Quem? Toda aquela camada social da nossa terra, ou classes da nossa terra, que não querem o progresso do nosso povo, mas querem só o seu progresso, das suas famílias, da sua gente. É por isso que dizemos que a luta do nosso povo é contra tudo quanto seja contrário à sua liberdade e independência, mas também contra tudo quanto seja contrário ão seu progresso e à sua felicidade.

"A luta, na nossa terra, tem que ser feita pelo nosso povo. Não podíamos de maneira nenhuma pensar em libertar a nossa terra, em fazer a paz e o progresso da nossa terra, chamando gente de fora (estrangeiros) para virem lutar por nós. …(Ver didinho.org)

Boa sorte no encontro de Abidjan!

Um abraço guineense à todos.

Dr. Adulai Djalo (Lai; Allaburi)  - CANADA 

Ex. técnico do Banco Central da Guiné Bissau; professor de economia e empresário

 

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