'TOCA-TOCA' SEM GASOLINA

 

 

QUEM SE FAZ DE CEGO, TORNA-SE MUITO MAIS CEGO, DO QUE UM CEGO GENUÍNO

 

 

O Presidente Guineense, ou faz que não entende, ou não entende mesmo, o que faz!

 

 

Por: João Carlos Gomes*

João Carlos Gomes

14 de Novembro de 2007

 

Encontro-me neste momento fora de Nova Iorque, e por isso, limitado tecnicamente para fazer um trabalho como gostaria.  No entanto, não quis deixar de aqui fazer uma passagem breve para manifestar o meu desapontamento com a situação no meu país de nascimento.

 

1. Quando o Chefe de Estado de um país se vê na posição de ter que implorar junto dos seus homólogos, como aconteceu por ocasião da recente visita de João Bernardo 'Nino' Vieira, ao Brasil, para que o ajudem a mendigar, algo está mal, mesmo muito mal.  Fazer de desentendido quanto às razoes que levam a que os seus esforços estejam bloqueados em quase todas as frentes, não é o que vai ajudar o Presidente guineense a sair do labirinto em que se meteu e, o consequente marasmo económico e social para o qual está a arrastar consigo e, muito penosamente, o povo guineense.  Alguém disse que, 'os povos merecem os líderes que escolhem'.  A verdade é que, torna-se difícil aplicar, com justeza, este dito à população de um país cujo índice de analfabetismo é dos mais elevados do Planeta.

 

2. Nino Vieira sabe o que tem que fazer - e que teima em não fazer - para voltar a ganhar o respeito e os apoios indispensáveis da comunidade internacional para obter a ajuda de que o país necessita de forma a sair da lama em que se encontra.  Posto em termos mais simples possíveis, a atitude do Presidente Nino Vieira, pode ser comparada com a de um condutor de 'toca-toca' (camionetas de transporte colectivo locais) que sabe que não faz sentido encher a viatura de passageiros, ligar a chave e, tentar ir de Bissau a Gabú, sem gasolina no depósito.  Obviamente, que essa é uma viagem que nunca se realizará.

 

3. Nino Vieira tornou-se num 'ás' daquilo que, de há uns tempos para cá, passei a chamar de 'eleitocracia', ou seja, a arte de ganhar eleições, sem um plano concreto para o dia seguinte.  Isto, apesar de todo o tempo livre que ele teve durante o seu exílio de seis anos em Portugal, período que prometeu que iria utilizar 'para estudar'.  Desse plano de governação, a principal prioridade devia ser promover a reconciliação nacional, de modo a permitir que, todos juntos, os guineense possam combinar as suas energias e iniciar projectos que permitam "extricar" o país da situação em que se encontra.  Aliás, conforme demonstrado pelo conteúdo da sua lista de pedidos de apoio, apresentada ao governo Brasileiro, aí vai ele de novo, preocupado com preparar eleições, sem sequer ter governado.

 

4. Em vez disso, Nino regressou à Guiné, apenas para se rodear, de novo, de gente medíocre, promover o diz-que-diz e, a divisão, enquanto retoma os seus passeios pelo mundo fora, esbanjando os magros recursos do país.  A nível interno, a julgar pelo aparato militar e, de segurança que reconstituiu à sua volta, fica-se com a impressão, de que, todas as manhãs, quando sai de casa, Nino fá-lo, pensando que vai, de novo, a caminho do assalto ao 'Quartel de Guiledje'.  Nino não consegue deixar cair o 'R' da palavra 'revolução' (passar a , 'evolução') e, engajar o país na senda do progresso económico e social de que tanto necessita.  A título de exemplo, instituir 'de facto' o conceito da 'preponderância da lei', factor indispensável para o funcionamento cabal de um Estado de Direito - um precursor conhecido para estimular a confiança necessária ao investimento, tanto nacional como estrangeiro - não parecer ser uma preocupação para Nino, apesar de tantas chamadas de atenção que lhe têm vindo a ser dirigidas de todos os cantos do planeta.

 

5. Não poder fazer melhor não é crime.  Mas recusar ajuda daqueles que podem e, querem contribuir para uma melhoria geral das condições de vida do seu próprio povo, é sem dúvida uma atitude condenável.  Os índices e indicadores sobre a Guiné-Bissau são inequívocos.  Nem vale a pena voltar a repeti-los aqui. 

 

Apenas como exemplo, citemos o facto de que, apesar de dados recentes que mostram que as remessas dos emigrantes guineenses representam uma das principais fontes de receita de que o país beneficia hoje, estes não conseguem sequer obter serviços tão básicos como a renovação ou emissão de novos passaportes, o qual iria permitir que estes trabalhadores aplicados  possam melhorar as suas condições de vida nos países de acolhimento e, consequentemente, ajudá-los a contribuir mais e melhor para o bem-estar dos seus familiares e, para o desenvolvimento do seu país.  O Presidente está absolutamente consciente desta situação, pois disso foi informado pessoalmente, nomeadamente, por ocasião da sua última deslocação a Nova Iorque - apesar de não se ter dignado a encontrar-se com a comunidade -  e não mexe um dedo.  Será que também precisa de ajuda externa para proporcionar tais serviços aos seus cidadãos?

 

6. Mas, ainda assim, se o Presidente quiser, para alem do sobejamente mencionado em trabalhos anteriores, no espaço de dias, este autor poderá facultar-lhe toda um lista de passos adicionais que ele tem que dar para que possa voltar a recuperar a confiança da comunidade internacional e deixar de ser ignorado.  É só pedir!  Daí que, Senhor Presidente, se como um estratega militar, quando montou o assalto ao Quartel de Guiledje não o fez sem balas, porque é que hoje insiste em tentar fazer com que o 'toca-toca' arranque, sem gasolina?

 

  

*Escritor/Jornalista

Nova Iorque

 

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