SIDA (AIDS): A TRAJECTÓRIA DE UMA CALAMIDADE (2)

 

 

 
Prof. Joaquim Tavares

J.TAVARES, MD, FCCP, FAASM

joaquim.tavares15@gmail.com

13.01.2008

CASOS DA VIDA REAL E TRATAMENTO DAS COMPLICAÇÕES

 

Na continuação deste tópico tão importante para o nosso continente e para o mundo em geral, vamos relatar 3 casos clínicos como exemplos de complicações da infecção pelo vírus da SIDA e o tratamento geral dessas complicações.

 

Caso 1: Um indivíduo de 33 anos foi admitido através dos serviços de urgência com dispneia e tosse não produtiva de 3 semanas de duração. Factos pertinentes na história deste indivíduo  dão conta que: sabia que era seropositivo  desde há 18 meses atrás, mas sempre recusou tratamento; não fuma, não bebe bebidas alcoólicas, não usa drogas; sempre recusou falar sobre as suas orientações sexuais; solteiro, sem filhos e vivendo com os pais.

 Exame físico significativo: febre (temperatura=39; respiração=25/mn);

Radiografia (ver fotografia): infiltrados pulmonares

Gasimetria (2 litros/mn):pH=7.46/PC02=30/p02=55

Durante a estadia nos cuidados intensivos, o paciente foi entubado depois de 48 horas.

Cultura do esputo: Pneumocystis Carinii (agora com um novo nome: Pneumocystis jirovecii).

Tratamento instituído: trimetroprim/sulfometoxazol, prednisona.

 Teve muitas complicações (pneumotorax incluído), mas finalmente, foi transferido para um centro de reabilitação com uma traqueostomia.

 

 

 


Caso 2: Uma senhora de 29 anos, casada recentemente, sem filhos, foi admitida com o diagnóstico de pneumonia; depois de 2 dias de tratamento com antibióticos, em vez de melhorar, a paciente piorou e tivemos que entubá-la; o teste do HIV foi positivo e o esputo  foi positivo para pneumocystis


Caso 3: um jovem de 21 anos, natural da Carolina do Norte, homossexual, diagnosticado com SIDA, foi transferido para os cuidados intensivos com insuficiência respiratória aguda; tinha lesões cutâneas de sarcoma de kaposi e a broncoscopia revelou nódulos nas passagens aéreas, quase que obstruindo a traqueia.


Vamos agora abordar estes casos em 3 pontos:

1- Sida e ética;

2-Tratamento da pneumonia devido ao pneumocystis, tratamento do sarcoma de kaposi;

3- Uso de antiretrovirais nos cuidados intensivos.

 

1- Sida e ética

No caso número 1 , o paciente era um homem muito religioso, era o orgulho da família (o menino bom da família, sustentando os pais, bom trabalhador, gerente de um dos casinos em Las Vegas) para ele, revelar o segredo podia ser uma catástrofe; antes da entubação, rogou-me para não dizer nada aos pais e irmãos, o que desde logo me colocou numa situação delicada: como explicar aos familiares a falta de melhoria de uma simples pneumonia, num jovem aparentemente de boa saúde?

Convoquei uma reunião com o comité de éticas do Hospital e eles foram bem claros: por lei, só pessoas que poderão potencialmente ser afectadas pela transmissão da doença por parte do paciente (esposa, parceiro sexual, etc.) podiam ser informadas.

No segundo caso, foi fácil: o marido tinha que saber do teste, para poder ser testado e tratado a tempo.

 

2-Tratamento da pneumonia devido à pneumocystis

O tratamento preferido é o Bactrim (combinação de sulfametoxazol e trimetroprim);15-20mg/kg/dia de trimetroprim e 75-100mg/kg/dia de sulfametoxazol por 14-21 dias; Se o P02 for menos de 70 ou o gradiente de oxigénio (A-a gradient) for mais de 35 adiciona-se prednisona (40mg, duas vezes por dia, durante os primeiros 5 dias; seguido de outra dose de 40mg/dia igualmente durante 5 dias; e finalizando com a dose de 20mg/dia durante 11 dias), o que totaliza 21 dias de tratamento.

Tratamentos alternativos:

a) Pentamidina;

b) Clindamicina;

c) Atovaquona.

2.1-Tratamento do sarcoma de Kaposi

 Lesões cutâneas: nitrogénio líquido ou radiação ou cirurgia ou ácido retinoico.

Para lesões internas: geralmente, usam-se medicamentos para tratamento do cancro: doxorubicina, daunorubicina ou paclitaxel (taxol).

 

3- Uso de antiretrovirais nos cuidados intensivos

 Tópico com muita controversia:

1- Alguns são contra o seu uso, porque devido ao sindroma de reconstituição imunológica, os doentes podem piorar; ademais há muitos efeitos secundários graves, há igualmente casos de má absorção do organismo, etc.).

2- Outros advogam o seu uso, para facilitar a recuperação; cada clínico deve usar o seu julgamento ou consultar um especialista em SIDA nestes casos.


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