...SENTIDO DE ESTADO... OU O TRISTE ESTADO DO ESTADO

 

 

Alai Sidibé

Alai Sidibé

alt0154@londonmet.ac.uk

Londres, 07 Dezembro 2008

 

Este é um artigo (pelo menos a isso aspira) ‘instantâneo’, que nasce como reacção de «raiva repentina» às declarações que tiveram lugar no seio político da Guiné-Bissau durante esta semana, e que me levam a tecer as considerações que agora passo a compartilhar com todos. Pretende-se não se alongar muito. Mas importa analisar as declarações do nosso Presidente, durante a semana que agora termina, a uma delegação do Leste do país que lhe foi manifestar solidariedade, não se sabendo em nome de quê, mas embora, por um lado, se saiba que é prática corrente o senhor ’Nino’ patrocinar os mesmos movimentos de solidariedade que a ele se dirigem, dando a entender serem gestos genuínos de gratidão.

Tendo dito isto, toda a gente sabe que na Guiné nada vai bem: a Comunidade Internacional, como um todo, sabe-o; as agências de desenvolvimento, nomeadamente, o Banco Mundial e outras; as ONG´s, e todos os outros, ditos parceiros de desenvolvimento sabem-no com fartura, embora ninguém se pareça importar com este facto. Ainda na mesma linha, todos sabem - embora ninguém o deseje – que os acontecimentos que tiveram lugar recentemente podem (como não podem) desencadear outras disputas que, certamente, não serão de agrado da Comunidade Internacional, isto além de lesivos para as populações, que de sofrer já estão fartos.

As declarações, desta semana, tão patéticas quanto ousadas, do senhor João Bernardo Vieira, Presidente da Guiné-Bissau, de haver quem esteja a "amedrontar os investidores com a ameaça dum possível conflito armado no país,” vêm, mais uma vez, revelar toda a falta de sentido de Estado do ditador que nos continua a perseguir. Para quem alienou todas as infra-estruturas herdadas do antigo Presidente, Luís Cabral, estas afirmações vêm, mais uma vez, pôr a nu toda a falta de tino do senhor general.

Na ocasião, o senhor Presidente, ainda põe em causa uma hipotética falta de compromisso profissional e de solidariedade da classe castrense, ao afirmar ser muito "estranho que um ataque armado se tenha desenrolado durante largas horas sem que houvesse resposta, nem dos soldados da guarda presidencial, muito menos da parte do CEMGFA, o senhor Tagmé Na Waye. "

Tais declarações, também revelam estar-se perante um político que, apesar todos estes anos de (des)governo (ou se calhar por isso mesmo), não aprendeu a assumir uma posição coerente como é normal em dirigentes, também eles normais, em conjunturas anormais, como é o caso actual do nosso país. O ditador da Guiné-Bissau, tão pouco revela um compromisso sério para com o seu próprio povo. Em vez de se estar perante um Presidente que esteja disposto a assumir-se como um árbitro, um juiz e garante da unidade da nação que preside, ou seja, um factor de coordenação e de aproximação dos órgãos de soberania, eis que nos (re)surge uma reedição de tudo aquilo que já havíamos visto no passado. Quanto a mim, as declarações do senhor ‘Nino’ denotam, claramente, uma sede de vingança de índole tribal quando afirma que "outros estão a espalhar boatos segundo as quais o próprio ‘Nino’ Vieira terá uma lista com nomes de oficiais militares da etnia balanta que serão castigados logo que o PAIGC assuma a governação." (Quem senão o próprio ‘Nino’ a espalhar estes boatos?) Quanto a este ponto, temo que se pretenda incompatibilizar - como aliás aconteceu aquando do afastamento do governo de Carlos Gomes Jr., em 2005 - os militares e o novo Governo que agora acaba de ser legitimado pelos guineenses. Ainda em relação a este ponto, sou da opinião de que uma referência tão explícita “aos Balantas” só pode contribuir para ressuscitar antagonismos que se pretende riscar do mapa político-social guineense, mas que, também aqui, pelos vistos, tal como num passado recente, o ‘Nino’ pretende recuperar para melhor poder continuar a (des)governar, vilipendiando as poucas poupanças públicas, além de um prostituir constante dos sonhos de outrora.

Parafraseando M´BOTÉ N´GUILIM, que neste espaço nos doou um artigo - que embora de raiva, é bem conseguido, porque levanta questões de fundo –: O NINO VOLTOU, TUDO VOLTOU.” Eu compreendo o senhor N’Guilim. O artigo que ele nos dá a conhecer não se pretende um mero descarregar de raiva; resulta duma frustração, sem dúvida, mas não duma frustração gratuita e muito menos sai em defesa duma etnia que é a dele: O senhor N’Guilim fala por todos nós que nos sentimos cansados e frustrados de ver o nosso país retardado pela corrupção, pela incompetência, pela prepotência, pelo compadrio, pela promiscuidade e, agora, pelo crime narco-organizado; por assassinatos gratuitos como se estivéssemos no Faroeste, onde não há lei nem rei; onde, tal como revela o Dr. Silvestre Alves, “o saber é simplesmente renegado, posto de lado” reservado a uma posição residual, expurgado da vida social como se de um entrave ao próprio desenvolvimento se tratasse.” Rico país.

O ‘Nino’ Vieira que resolva os problemas que criou, indo-se embora de vez, deixando-nos em paz!

 

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