RETIRADA DA CONFIANÇA POLÍTICA

 

Vê lá, Carlos Gomes: Não é o Martinho, mas...  o outro ‘Cabi’.

Quem te avisa... teu primo é!!!

 

Como é que Carlos Gomes Júnior pode justificar, ter tentado repetir, com Martinho N’Dafa Cabi, o mesmo erro que Nino cometeu com ele?

 

 

Nota: Que tal se, neste - ‘Dia Internacional da Mulher’ - em vez de distraídos com a ‘retirada da confiança política, por indisciplina e desrespeito pessoal’, estivéssemos todos, com as energias concentradas, durante este mês, num debate sério, sobre medidas a adoptar para, erradicar da sociedade guineense, a terrível e degradante prática tradicional que constitui a, ‘Mutilação Genital Feminina’?

 

 

 

Por: João Carlos Gomes*

João Carlos Gomes

08 de Março de 2008

 

 

Nota introdutória

 

Estava eu uma vez numa conversa com uma colega israelita, a propósito de situações difíceis de missões internacionais em que, por vezes, nos apanhamos em circunstâncias em que, não temos acesso imediato à água.  Olhei para a minha colega e, afirmei: “No meu caso, não tens que te preocupar porque, eu posso não tomar um banho ‘completo’ por três dias, e não se nota.  Com um sorriso, ela olhou para mim e ripostou: “Quando isso aconteceu, perguntaste às pessoas que estavam contigo”?  Apesar de já consciente do facto de que, é sempre difícil julgar correctamente situações que nos tocam de perto, tanto em matéria de higiene pessoal como no resto, claro está que, a minha colega tinha razão, quanto às subjectividades na nossa capacidade de julgamento.  O ponto que ela me fez tem relevância nesta peça em que, entre os protagonistas, há familiares.  No entanto, as regras do comportamento profissional e integridade, por vezes, a isso obrigam.

 

 

Vai o Ambidextrismo Politico de Nino Vieira Estrangular o ‘iran cegu’ (Anaconda)?

 

1. Para quem não sabe, em termos simples, ‘ambidextrismo’ quer dizer a capacidade de manejar, com a mesma eficácia, as duas mãos, ou neste contexto, dois ou vários processos, ao mesmo tempo.  ‘Iran cegu’, é o nome dado em crioulo, à anaconda.  Por seu lado, o ‘iran’, é também uma figura venerada na tradição da Guiné-Bissau, e que se crê, com poderes especiais, capaz de satisfazer vontades, e, onde as pessoas vão fazer o seu ‘bota sorti’ (cerimónia tradicional de consulta aos espíritos e antepassados, semelhante à consulta das cartas).  A segunda componente do nome ‘iran cegu’, ou seja, a palavra, ‘cegu’ corresponde à palavra portuguesa, ‘cego’.  

 

2. No topo da cena política guineense, existem hoje duas figuras com a mesma designação de, ‘Cabi’: o Presidente, baptizado - durante a Luta Armada de Libertação Nacional - com o cognome da etnia balanta de, ‘Cabi Na Fantchamna’, seu nome de guerra, e; o Primeiro Ministro. Quanto à ‘anaconda’, é do conhecimento comum, a forma como domina as suas presas.  Aperta, aperta,  e aperta, lentamente, as suas vítimas, até asfixiá-las completamente, antes de as devorar.

 

3. Diga-se logo à partida que, não seria de forma alguma justo, responsabilizar o Presidente João Bernardo ‘Nino’ Vieira, pelo impacto do posicionamento, politicamente pouco sensato, acabado de assumir pelo líder do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), contra a pessoa do Primeiro Ministro, Martinho N’Dafa Cabi.  Nem é essa a intenção desta peça, pois que, obviamente, cada um deve ser responsável pelas suas próprias decisões.

 

4. Mas, não foi por acaso que Carlos Gomes Jr., fez o anúncio da sua decisão de ‘retirar a confiança política’, ao Primeiro Ministro, após o seu encontro com o Presidente.  Por outro lado, também é quase impossível falar hoje de ‘liderança’ (ou ausência de) na Guiné-Bissau, sem falar do Presidente João Bernardo ‘Nino’ Vieira.  Nino é uma figura absolutamente incontornável, não só pelo tipo de liderança que ele próprio ofereceu à Guiné-Bissau, em mais de vinte anos de mandato, mas também, pelo número extremamente limitado de alternativas viáveis que pode reclamar como legado, a partir de Novembro de 1980, altura em que assumiu as rédeas do país.

 

5. O certo é que, uma das teorias defendidas em ‘psicologia do comportamento social’ é que, todo o indivíduo que foi vítima de abuso, físico ou psicológico, tem ele próprio, a tendência de se tornar um abusador.  Será que se pode aplicar esta conclusão à formação da liderança política?    Ao fazer a proclamação unilateral da retirada da ‘confiança política’ ao Primeiro Ministro, o Presidente do PAIGC parece ter esquecido que, os melhores líderes são aqueles que primam pela justiça e, tratam o poder como sendo uma ‘oportunidade a partilhar’.  Porque teria ele agido assim?  Vamos pois, nesta peça, tentar analisar não só, o impacto da crise política actual no seio do PAIGC, mas também a influência de Nino Vieira nas complexidades envolvidas no processo.

 

 

‘Bota sorti’: Martinho N’Dafa Cabi não é o principal responsável pelos problemas políticos actuais de Carlos Gomes Júnior.  Antecedentes recentes.

 

6. Em geral, quando alguém apanha golpes fortes, repetidas vezes, da mesma fonte, a conclusão a que normalmente chegamos é a de que: À primeira, foi apanhado de surpresa.  À segunda, talvez tenha sido por descuido - seu.  Mas, à terceira, a conclusão lógica é de que, a punição, é merecida.  Em breve, Carlos Gomes Jr., poderá aprender que, ‘Pulitica i suma sal.  Se i ca tchiga, bianda ta doss.  Si bu passantal tambi, ninguim ca na cumé’ (‘a política é como o sal.  Quando falta, afecta o sabor.  Quando é demais, ninguém come).  Por isso, não seria um exagero afirmar de forma categórica que, em toda a República da Guiné-Bissau hoje, Carlos Gomes Jr., parece ser o homem que mais confia nas palavras de Nino Vieira.  Senão, vejamos:

 

7. Dias após a inauguração de Nino Vieira para o seu actual mandato, o então Primeiro Ministro Carlos Gomes Jr., emergiu de um encontro com o Presidente a assegurar ao país que tudo estava bem.  Pouco depois das suas veementes declarações, foi demitido do cargo. Essa foi, a primeira

 

8. Recentemente, enquanto Presidente do maior partido da oposição, Carlos Gomes Jr. integrou o grupo dos líderes dos diferentes partidos políticos que constituem o chamado, ‘Pacto de Estabilidade Governativa’, que submeteu ao Presidente em Dezembro, o altamente controverso ‘Projecto de Lei sobre a (Auto) Amnistia Geral.  Tanto quanto se sabe, não foi assinado por Nino e, ainda se encontra à sua mesa, sem qualquer explicação ao país.  Será a sua decisão sobre este dossier, um segundo golpe político pendente perante a opinião pública, nacional e internacional? 

 

9. Enquanto se desconhecem os detalhes do último encontro de Gomes Jr. com o Presidente, onde alegadamente foi discutida a retirada da ‘confiança política’ à figura do Primeiro Ministro Martinho N’Dafa Cabi, é possível que, sem sabê-lo, Gomes Jr. tenha acabado de selar a sua própria carreira, como líder do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde.  Se este vier a revelar ser o terceiro, o golpe de misericórdia, a punição terá sido bem merecida. 

 

10. Por outro lado, é preciso não esquecer o facto de que, ainda há a questão da resolução da disputa legal entre Nino Vieira e o líder do PAIGC, e que, à semelhança do acontecido recentemente com um outro líder da oposição, Silvestre Alves, esteve na origem de um processo que resultou na emissão de um mandato de captura contra Carlos Gomes Jr. e, que em 2007, levou o ex-Primeiro Ministro a refugiar-se na sede das Nações Unidas, em Bissau, durante várias semanas.  

 

11. O que falta ver, neste novo ‘braço de ferro político’, em Bissau, é quem vai estrangular quem.  Alternativamente, ou o ‘iran cegu’ estrangula, ou - neste caso concreto, por ter atacado, sem medir bem as suas forças - é esmagado.  Em resumo, vai Carlos Gomes Jr. ser a anaconda que estrangula o Martinho N’Dafa Cabi, ou será ele próprio o ’cegu’, estrangulado, pelo, ‘iran’?

 

12. Vai Nino Vieira aproveitar o trunfo político que Carlos Gomes Jr. acaba de lhe oferecer de bandeja, para ser ele a anaconda que estrangula, tanto o Carlos Gomes como o Martinho N’Dafa Cabi?  E, já agora, porque não estrangular, todos os partidos políticos que constituem o Pacto de Estabilidade Governativa, utilizando para isso, estrategicamente, um outro martelo que, como veremos mais adiante, os principais partidos com assento parlamentar, já puseram à sua disposição? 

 Mas, só se saberá quem é o ‘cego’, quando acabar o ‘bota sorti’.

 

13. Para já, as indicações são de que, ao concentrar as suas atenções neste momento, num duelo com o Primeiro Ministro Martinho N’Dafa Cabi, o líder do PAIGC tenha posto, na sua mira, o objectivo errado. Confuso sobre tudo o que acabou de ler?  Bem-vindo à Guine-Bissau!  Lembre-se apenas de que, a dado momento nesta história, existe a possibilidade de a personagem ‘anaconda’ passar a assumir dois papeis distintos, pois em crioulo, divide-se em: ‘iran’ e, ‘cegu’.

 

 

O impacto da decisão, aparentemente abortada, para a imagem do líder do PAIGC, mostra que, não só a decisão em si, mas também o momento escolhido, foram claramente,

muito inoportunos.

 

14. É certo que, em política, não há - nem amigos permanentes - nem inimigos permanentes.  No entanto, considerando que, até recentemente, o líder do PAIGC sempre negou publicamente a existência de qualquer mal-entendido entre ele e o actual Primeiro Ministro, a única alternativa para Gomes Jr. de manter a sua credibilidade intacta, aos olhos do público, será de oferecer explicações detalhadas quanto às razões que o levaram a adoptar esta medida, a qual nos termos da Constituição, resultaria em mais uma crise governativa, numa altura em que já começavam a surgir indicações, ainda que ténues, de uma certa eficácia no desempenho do governo actual, e a comunidade internacional já estava a mostrar-se pronta a apostar, de novo, na Guiné-Bissau.

 

15. Em matéria de política, porque a liderança, é um exercício de equipa, há muito pouco espaço para comportamentos dogmáticos.  Uma das principais razões que obrigam a respeitar – com abnegação - a linha partidária, mesmo quando não concordamos pessoalmente com o ‘coro’ político, é o facto de que, há que ter em conta a imagem que é projectada sobre a coerência e a coesão do colectivo.  Por outras palavras, todo aquele que milita no seio de um partido político, tem que estar consciente do facto de que, abandonar a linha partidária só é justificado em duas situações: razões que têm que ver com a defesa de altos valores morais e de integridade individual, e: quando, em defesa de tais valores, estamos preparados para atravessar a porta de saída.  Ironicamente, este foi tema duma conversa amena tida, pelo autor deste artigo com o Primeiro Ministro N’Dafa Cabi, por ocasião da sua recente visita às Nações Unidas, em Nova Iorque.

 

16. Por outro lado, a apenas meses das eleições legislativas, previstas para o último trimestre deste ano, muitos analistas perguntarão, se terá valido a pena tomar esta decisão, neste momento, e sacrificar a imagem de coesão e estabilidade de que o país necessita urgentemente, de forma a poder atrair os apoios necessários para impulsionar um novo arranque, sobretudo na área económica.  Tal como ficou demonstrado por ocasião da última visita de N’Dafa Cabi à Sede das Nações Unidas em Nova Iorque, da parte da comunidade internacional, vontade política de apoiar o país não falta.  Neste clima, cabe sim, aos dirigentes guineenses, demonstrar que estão reunidas as condições minimamente indispensáveis para que volte a angariar a atenção e a confiança dos doadores nas instituições nacionais, através da criação de um clima favorável.

 

17. No entanto, tudo há de ficar mais claro, quando se conhecer a decisão final de Nino Vieira sobretudo, quanto ao altamente controverso, ‘Projecto de Lei sobre a (Auto) Amnistia Geral’; a seleção do próximo Primeiro Ministro, se for o caso, e;  quem sobreviver - e como - ao duelo para a liderança do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), no próximo congresso, marcado para inícios de Abril.  Aconteça o que acontecer, o que nenhum destes políticos tem o direito de fazer, é continuar a adiar as aspirações legítimas deste povo, a um futuro melhor, com paz e progresso.  Mas, se conforme o dito, “o passado é uma indicação do futuro”, em matéria de liderança política, os guineenses, ainda têm muito que esperar.

 

 

Muitas vezes, é tudo uma questão de ‘momento’.  A realidade é que, preparar e manejar a opinião pública, é uma arte que – em qualquer sociedade – os políticos têm que dominar.  Nesta matéria, Carlos Gomes ainda tem muito a aprender com Nino Vieira.

 

18. Foi um dos melhores exemplos, da tal ‘esperteza política’ de Nino Vieira, e, do seu sentido de oportunidade que esteve em evidência, recentemente, no caso do político, Silvestre Alves, quando como estratégia de preparação da opinião pública, Nino decidiu, como sempre, ‘lembrar’ aos guineenses quem era a vítima: ele.  Primeiro, após uma estadia prolongada de um mês fora do país, em tratamento médico; sem oferecer quaisquer detalhes à população, que tem o direito de ser informado, sobre o estado de saúde do seu presidente, e; em preparação do seu regresso, subitamente, o Ministério Público abre um processo contra o líder da oposição, a acusar este de difamação, num caso já antigo.  Segundo, fazendo utilização da melhor estratégia de defesa, à sua chegada ao país, Nino lança um ataque vigoroso contra rumores veiculados, quanto ao seu estado de saúde.  Tudo isto, sem oferecer a sua própria versão dos factos. 

 

 

‘Tratar aos outros da mesma forma que gostaríamos de ser tratados’, é um ‘princípio de conduta moral e social’, e não, uma ‘ferramenta’ de conveniência pessoal.

 

19. Não há dúvidas quanto ao facto de que, um país como a Guiné-Bissau de hoje, necessita, se calhar, mais de um bom gestor de que um bom político.  Claro está que, se puder beneficiar dos dois, ainda melhor.  E, não seria um exagero concluir que Carlos Gomes Jr. já deu provas sobejamente suficientes de ser um excelente gestor e, por conseguinte, um líder de destaque no mundo dos negócios.  Mesmo como governante, o seu desempenho como Primeiro Ministro foi aplaudido tanto a nível nacional, como internacional.  No entanto, à semelhança de Sílvio Berlusconi (Itália), Carlos Gomes  não parece ser necessariamente um líder político-partidário de ginjeira.  E, parece que ele próprio já se deu conta do facto de que, o seu forte é a gestão, e não particularmente a política.  Será esta uma tentativa de recuperar o posto de Primeiro Ministro para consolidar a sua posição dentro do partido?  Se for, no seu caminho está N’Dafa Cabi. 

 

20. Mesmo se Carlos Gomes Júnior recebeu garantias seguras no seu encontro com o Presidente Nino Vieira, quanto a uma possível reconciliação política que pudesse permitir o seu regresso à Primatura, ele acaba de tomar uma decisão que, com base nas informações até agora disponíveis, não parece ter sido objecto de muita ponderação.  Se for o caso, então alguém tem que lembrar ao ex-Primeiro Ministro que, como em tudo, em política também, cada um tem o seu momento.

 

21. Se realmente existe um problema de ‘desrespeito e indisciplina’, e, enquanto que, ‘engolir o peixe pela cauda’, não deve ser uma opção, as accões recentes do líder do PAIGC, não deixam de ser graves, pela forma como reagiu.  Ele não parece ter tomado em  consideração o momento político que o país atravessa, ou; o facto de que, decisões que envolvam consequências tais como a possibilidade da queda de um governo, devem ser tomadas, não com impulsividade ou, um cunho emocional, mas sim, com um único objectivo em mente: os interesses supremos do povo. 

 

22. Por isso, não convém a Gomes Jr. projectar a imagem de, ‘danadur di festa’ (estragador de festa).  Tal posição seria extremamente prejudicial para a imagem até agora positiva do líder do PAIGC, sobretudo se não puder oferecer explicações sensatas que afastem a possibilidade de ele ter tomado a decisão de derrubar o governo, neste momento, por motivos meramente egoístas, que nada têm que ver com a eficácia da gestão por parte do Primeiro Ministro N’Dafa Cabi.

 

23. O absolutismo tem as suas consequências pois, dentro de qualquer formação política que se auto-define como sendo democrático, o líder não pode ser visto como sendo o agente da anarquia, sobretudo quando invoca ele próprio, ‘a falta de disciplina e o desrespeito’, como estando na base das suas decisõesHistoricamente, a tirania começa com um simples acto, que ninguém tomou a iniciativa de parar.  Por isso, a pergunta óbvia neste momento, seria, na realidade, quem é que desrespeitou quem?  Para mais, porque tomar - e anunciar uma tal decisão - numa altura em que o Primeiro Ministro se encontrava ausente do país. Qual foi a pressa?

 

24. Por outro lado, não se pode ignorar o facto de que, agora também, num acto de hipocrisia, Carlos Gomes Junior parece estar a cometer os mesmos erros de que acusou os membros da chamada, ‘Ala Renovadora do PAIGC’ - agir à revelia do preceituado nas regras do partido.  Outra questão ainda mais séria que Gomes Jr. tem que ponderar é, se se vier a provar que apenas quis afastar Martinho N’Dafa Cabi por razões de interesse pessoal, qual seria, aos olhos dos demais, a diferença com o que Nino fez com ele, ao demiti-lo, logo que foi eleito?  A julgar pelas reações até agora obtidas dos vários segmentos da sociedade, tanto na Guiné-Bissau como no exterior, com esta decisão, Carlos Gomes Júnior criou, desnecessariamente, uma situação de mal-estar que desiludiu muito boa gente, mesmo dentre os seus apoiantes habituais.

 

 

 Se todo o jogo de xadrez político que tem tido lugar na Guiné-Bissau fosse apenas um exercício académico, até que podia ser interessante.  O problema é que, trata-se de vidas reais, dos destinos de todo um povo que há muito anda à deriva.   Por seu lado, agora que lhe puseram tudo na mão, chegou o momento de Nino Vieira provar que é, o ‘animal político’ que tem a obrigação de ser!!!

 

25. De novo, não se sabe qual o tema das discussões do último encontro entre Carlos Gomes Jr. e Nino Vieira.  No entanto, sejam quais forem os detalhes, Carlos Gomes Jr. não sabe o que que o próprio Nino Vieira tem vindo a discutir com os outros, ou vice-versa.  Mas, se, o líder do maior partido político da Guiné-Bissau não conseguir implementar a decisão de, ‘retirar a confiança política’, ao seu Primeiro Ministro, ele, Carlos Gomes Júnior corre o alto risco de votar a si próprio à irrelevância, dentro do seu próprio partido.  E, essa seria uma posição pouco invejável, nas vésperas do próximo congresso do partido, marcado para inícios de Abril.

 

26. Ainda mais sério é o facto de que, o pior pode acontecer, se o Presidente decidir que este é o momento ideal de desfechar um ‘coup d’etat majeur’, não só a Carlos Gomes Jr. mas também, ao conjunto da classe política, sobretudo, ao PAIGC.  Dado que, desde o seu retorno ao poder, e até agora, tem provado ser um fracasso total em matéria de liderança, este poderia ser o momento da consagração política de Nino Vieira, se ele souber aproveitar a oportunidade.

 

27. Conforme anteriormente mencionado, o Presidente tem nas mãos neste momento, dois dossiers políticos que põem à sua mercê, todas as principais formações políticas nacionais, embrulhinhos num só pacote.  Agora, com a faca e o queijo na mão, ou Nino - corta o queijo, ou - corta a mão.  Qual será?  Para fortalecer agora a sua posição política e imagem, João Bernardo Vieira só tem que apertar num botão, e... Já.  Apenas tem que ser no botão certo:

 

28. Primeiro, anunciar que não vai assinar o Projecto de Lei Sobre a (Auto) Amnistia Geral aprovada pelo Parlamento e, que obteve o apoio de todas as principais formações políticas, incluindo, todos os participantes do chamado, ‘Pacto de Estabilidade Governativa,’ parteira do actual governo. Há a registar o facto de que, tanto a nível nacional, como internacional, o ‘Pacto’, em si, é visto por muitos, como sendo um compromisso político que, embora com legitimidade constitucional, é sem dúvida de caracter duvidoso, do ponto de vista  democrático.  No entanto, é tolerado, apenas como sendo a melhor alternativa, ao caos político que pretende suprimir.

 

29. Segundo, tirar proveito das ‘rixas’ no seio do agora visivelmente enfraquecido ‘Pacto’ e, manipular muito cuidadosamente, de acordo com as suas conveniências, o processo de seleção do próximo Primeiro Ministro.  Como em qualquer cesariana, este também, vai ser um parto com enormes riscos.  O ‘bisturi’ de Nino não pode falhar, pois não há espaço para muita manobra da sua parte, já que, com sucessivos governos falhados, não tem o luxo de usufruir de qualquer ‘benefício da dúvida’, nem da parte dos guineenses, nem da parte de uma comunidade internacional, cada vez mais saturada, com os abortos injustificados deste processo político.   Feito isto, com o aproximar das eleições legislativas, o Presidente só tem que colocar a cadeira, debaixo da árvore, encostar-se, relaxar, e, desfrutar a brisa, com a movimentação dos vários actores em cena.  Falta algo aqui, não e?  Vamos todos ter que esperar pelo desfecho da película!

 

 

Quem é que sai a ganhar com toda esta ‘salada russa’ criada, uma vez mais, no seio do PAIGC, se é que há ganhadores?  O povo guineense, certamente que não!!!

 

30. Entretanto, como ‘a miséria adora companhia’, em termos de imagem, quem fica agora absolvido com esta última decisão controversa do líder do PAIGC, é o ex-Presidente Kumba Iala, pois, ele já não parece assim tão asneirento!  Recorde-se que, numa medida semelhante ao agora adoptado por Carlos Gomes Júnior, em Novembro de 2001, Kumba Iala demitiu  Antonieta Rosa Gomes, enquanto esta se encontrava em Portugal, em missão de serviço.

 

31. Aliás, conta-se que, estava ela à mesa de negociações com o seu homologo, o então Ministro dos Negócios Estrangeiros português, Jaime Gama, quando este lhe passou uma nota informando-a de que tinham que interromper o processo pois, já não era mais representante do governo de Bissau.  Do mesmo modo, o anúncio acabado de fazer por Carlos Gomes Jr. surgiu numa altura em que o Primeiro Ministro Martinho N’Dafa Cabi se encontrava, mesmo ao lado, na Gâmbia. 

 

32. Outro dado que ajudará a limpar as memorias negativas do mandato de Kumba Iala é o facto de que, se a decisão de Carlos Gomes for implementada, a presidência de Nino Vieira estaria a partir de agora a competir com a de Iala, no número de primeiros ministros que serviram sob este seu mandato.  Num período de menos de dois anos e meio do seu mandato actual, Nino já teve como primeiros ministros: Carlos Gomes Jr., Aristides Gomes, e, agora, Martinho N’Dafa Cabi.

 

33. Durante um mandato com mais ou menos a mesma duração, sob Kumba Iala, estiveram: Caetano N’Tchama, Faustino Imbali, Artur Sanhá e Mário Pires.  Mas Kumba ainda bate o recorde em termos, por exemplo, do número de ministros dos negócios estrangeiros: Antonieta Rosa Gomes, Filomena Tipote, Fatumata Baldé e Iaia Djaló.  A então conceituada deputada, Francisca ‘Zinha’ Vaz Turpin (nomeada no cargo sem ter sido consultada, recusou servir).

 

34. Com tanta asneira, os americanos diriam: ‘deve haver algo de estranho na água’, que os dirigentes da Guiné-Bissau têm estado a beber.  No contexto da política americana este ‘agente perturbador’ é conhecido por, ‘cool aid’.  O termo surgiu de um incidente no qual, em 1978, o americano Jim Jones, líder de um culto religioso, conseguiu convencer a quase totalidade de um grupo de quase mil dos seus seguidores na Guiana a cometer o suicido colectivo, ingerindo uma bebida com o mesmo nome, que tinha sido envenenada.  Os que não o fizeram, foram baleados.

 

 

Conclusão

 

35. Quanto a Carlos Gomes Júnior, não há dúvidas de que, ele já provou, em muitas outras circunstâncias, que é capaz de muito melhor.  Errar é humano.  Entretanto, na ausência de uma explicação mais convincente para justificar cabalmente a sua decisão, agora repudiada pelos órgãos supremos do partido, o Presidente do PAIGC só tem que: manter a sua presença de espírito; reconhecer que os melhores líderes - políticos ou não - são aqueles que sabem fazer uma auto-crítica honesta e profunda, e; reconhecer e ultrapassar esta tremenda falha de julgamento.

 

36. Finalmente, a grande esperança é que, a rejeição da posição do líder do PAIGC marque também o início duma nova fase na cena política guineense, uma fase em que as decisões devem ser tomadas num contexto democrático e, em nome dos interesses supremos do povo e da nação - e não, de indivíduos ou grupos, em detrimento do bem-estar geral.  A Guiné-Bissau só pode sair do seu actual marasmo político, económico e social, não com uma política de, ‘cada um por si, Deus por todos’, mas com guineenses a apoiarem  guineenses.  Só assim se constrói uma nação. 

 

*Escritor/Jornalista

Nova Iorque

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