REPROVÁVEL!

 

Por: Fernando Casimiro (Didinho)

didinho@sapo.pt

18.11.2008

Como é que num país como a Guiné-Bissau, carente de energia eléctrica (primeiro suporte para o funcionamento de qualquer equipamento informático), se consegue promover, na Televisão Pública, apenas poucas horas após o término da votação (houve regiões que votaram no dia seguinte) um debate tendo por base alegadas projecções de resultados (onde estão, quem os poderia ter no próprio dia e à hora do debate) do escrutínio que se iniciou às 07:00 locais e terminou às 17:00, quando a Comissão Nacional de Eleições não fez nenhuma declaração nesse sentido e, tendo em conta que a lei estipula a publicação dos resultados num período de sete a dez dias?

Kumba Yalá, Presidente do PRS reagiu no dia seguinte ao debate (que contou com a participação  de Uco Monteiro, Rui Landim e Mamadu Jao, entre outros), reclamando que se estava a manipular os resultados da votação e que, o seu partido, o PRS, não iria aceitar resultados forjados.

Como tenho dito, o meu partido é a Guiné-Bissau e não nenhuma instituição partidária dentro da caracterização estatutária dos partidos políticos, com base nisso, deixo aqui o meu ponto de vista, como cidadão, sobre esta situação reprovável, na verdade, mas que deve ser ultrapassada com ética, com civismo, tendo em conta a Paz e a Estabilidade.

Ontem, 18 de Novembro, foi-me enviado um mapa detalhado, de todas as regiões e círculos eleitorais, com os resultados supostamente obtidos pelo PRS. Agradeço o envio desse mapa, bem como a consideração na razão encontrada para mo fazerem chegar, entretanto, não divulgarei esses resultados, nem os partilharei com quem quer que seja por uma questão de ética, de respeito pelos eleitores e pela Comissão Nacional de Eleições, entidade a quem cabe dar a conhecer quer os resultados provisórios, quer os definitivos, dentro do período estipulado por lei!

Analisando a reclamação de Kumba Yalá, julgo que não é a reclamação que lhe faz ser um mau perdedor, mas sim, o facto de não ter sabido, politica e diplomaticamente, explorar o negativismo tendencioso de um pretenso modernismo experimental da Televisão Pública guineense, iniciativa que merece ser criticada, por ferir pressupostos éticos de uma estruturação eleitoral que não é, nem de perto, nem de longe idêntica às estruturas e processos eleitorais de países como Portugal, França e Estados Unidos, para citar a comparação feita pelo Director da Televisão da Guiné-Bissau.

Efectivamente, nestes países, a energia eléctrica permite que haja equipamentos informáticos a funcionar em todo o lado e as iniciativas de debate das projecções são possíveis tendo em conta a existência de centros de imprensa ou de comunicação (ou como lhe chamarem), das entidades organizadoras das eleições, que funcionam em rede partilhada e permitem a chegada e divulgação dos resultados, numa hora pré-estabelecida, o que permite ao grosso dos órgãos de Comunicação Social ter acesso aos resultados nessa hora e, assim, os seus analistas, com base nessas projecções de resultados, avançarem com previsões, quase que certas, de quem venceu!

Ninguém reclama da divulgação das projecções que, à medida que os resultados vão surgindo, vão possibilitando uma tomada de posição dos analistas presentes nas estações televisivas, jornais e rádios.

Não foi isso que aconteceu na Guiné-Bissau, nem poderia ter acontecido, pois a haver meios para que assim fosse, deveria exigir-se à Comissão Nacional de Eleições a divulgação dos resultados no próprio dia e não entre sete a dez dias.

Para mim a iniciativa da Televisão da Guiné-Bissau foi um acto reprovável, até porque, num momento de grande maturidade e civismo do povo guineense, quis a Televisão Pública ter mais protagonismo nestas eleições do que o povo guineense (que votou em massa e manteve-se ordeiro) e a própria Comissão Nacional de Eleições.

Os convidados ao debate, também não foram coerentes com as suas responsabilidades, nem souberam ser imparciais e honestos intelectualmente, pois contrariamente ao que disse o Director da Televisão da Guiné-Bissau, até hoje, 19 de Novembro, repito, até hoje, 19 de Novembro, nenhum resultado foi tornado público pela Comissão Nacional de Eleições.

Aos partidos políticos pede-se contenção, moderação e responsabilidade, sendo que devem, pacificamente, reclamar em sede própria e na altura própria, as suas insatisfações de forma argumentada.

À Comissão Nacional de Eleições, exige-se responsabilidade e compromisso na defesa dos interesses do povo guineense expressos nas urnas.

A bem da Guiné-Bissau, opte-se pela via do diálogo e da reivindicação pacífica em sede própria e na altura certa!

Vamos continuar a trabalhar!

 

"...Também o director da Televisão da Guiné-Bissau (TGB), Eusébio Nunes, igualmente visado pelas críticas do líder do PRS, que acusou a estação pública de manipulação da opinião pública, defendeu hoje que Kumba Ialá está a "arranjar desculpas de mau perdedor".

"A atitude do líder do PRS é de um mau perdedor. Penso que é isso o que Kumba Ialá está a tentar arranjar. Os analistas limitaram-se a comentar os resultados que são públicos", disse Eusébio Nunes.

O líder do PRS acusou o director da TGB de estar a tentar manipular a opinião pública através de um debate realizado domingo a noite quando a votação ainda não tinha terminado.

Nesse sentido, Eusébio Nunes defendeu que a TGB se limitou "apenas a analisar os resultados a partir dos dados publicados em algumas assembleias de voto".

Para o responsável da única estação de televisão na Guiné-Bissau, "não é verdade" quando Kumba Ialá afirma que o debate pode alterar o sentido dos resultados eleitorais, uma vez que o número de eleitores que ainda não votou "é insignificante".

"O que a TGB fez ocorre em todos os estados democráticos. Em Portugal, em França, nos Estados Unidos, em qualquer parte do mundo democrático são feitas projecções dos resultados eleitorais no dia da votação", frisou Eusébio Nunes."

 

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