RAÍZES DA DITADURA E DA CORRUPÇÃO

 

Por: Fernando Casimiro (Didinho)

didinho@sapo.pt

17.04.2007

 

Continuo convicto e esperançado de que o processo de mudança na Guiné-Bissau é um processo irreversível rumo a uma Guiné-Bissau POSITIVA.

Como escrevi há dias vejo um horizonte positivo para a Guiné-Bissau, apesar de muitos caminhos por desbravar.

Os caminhos por desbravar são, entre outros, os caminhos que a ditadura insiste que são seus e não os da democracia e de um Estado de Direito para a Guiné-Bissau.

Ao tomar conhecimento da composição do novo Governo, não posso deixar de manifestar a minha indignação pela cedência dos signatários do Pacto de Estabilidade Governativa e Parlamentar ao general ditador Nino Vieira.

Não cabe ao Presidente indicar nomes para cargos no Governo!

Este Governo tem no seu elenco indivíduos que são raízes da ditadura e da corrupção do regime de Nino Vieira.

Como foi possível ceder às imposições da ditadura?

Como justificar aos guineenses que o Baciro Dabó, um criminoso que todos conhecem, seja nomeado Ministro da Administração Interna?

Como justificar aos guineenses que um corrupto como Issuf Sanha seja nomeado Ministro das Finanças?

Como se vai fazer uma auditoria à pasta da Economia do anterior Governo que era dirigido precisamente pelo Ministro das Finanças ora indicado por Nino Vieira?

Como aceitar que a política externa seja entregue a alguém indicado pelo ditador?

Uma vez mais, Nino Vieira impôs e conseguiu ver passar a sua imposição, porquanto, não se ter tido em conta que estas 3 pastas ministeriais serem das mais decisivas na estrutura de um Governo.

Sabendo que um Governo do Pacto de Estabilidade Governativa (este já não o é, pois inclui nomes que não foram indicados pelo Pacto) seria o princípio do fim do seu regime, Nino Vieira tentou de toda a forma influenciar a composição do novo Governo, para conseguir colocar pessoas da sua confiança, precisamente nos lugares chave de um Governo que ser-lhe-ia, em tudo, desfavorável.

Baciro Dabó, irá fomentar intrigas entre os membros do Governo e a Presidência, levando ao conhecimento de Nino Vieira, a quem está a servir, todas as informações e movimentações do Governo que representa, mas para quem não trabalha.

Baciro Dabó trabalha exclusivamente para Nino Vieira!

Baciro Dabó irá continuar a intimidar o povo guineense; políticos e civis que ousarem usar das suas liberdades de expressão. Alguém já se esqueceu, por exemplo, do caso que resultou na agressão em Dezembro passado, do Dr. Silvestre Alves?

Baciro Dabó irá continuar a ocultar as verdades sobre Nino Vieira, pois como Ministro da Administração Interna ninguém irá ouvi-lo judicialmente pelos crimes que cometeu, no passado, a mando de Nino Vieira.

Um Ministro da Administração Interna como o Baciro não vai facilitar o Governo na luta contra a corrupção e muito menos contra o narcotráfico, pelo contrário, irá desgastar a imagem deste novo governo com acções estratégicas previamente concebidas para desestabilizar e descredibilizar!

Como foi possível ceder...?!

Issuf Sanha, também no governo, como Ministro das Finanças, mas a trabalhar em exclusivo para as negociatas de Nino Vieira, irá prejudicar toda a estratégia nesta área, beneficiando as lavagens a favor do ditador.

Como foi possível ceder...?!

A pasta dos Negócios Estrangeiros, dará a Nino Vieira a possibilidade de controlar toda a política externa do Governo através da pessoa que ele indicou (peço desculpa por falar em alguém que desconheço, mas não cabe ao Nino indicar ministros), o que é mau para a mudança estratégica que se impõe para as nossas relações internacionais.

Antes do Governo saber algo, o Nino já estará na posse de todas as informações no que respeita aos acordos e missões internacionais...

Como foi possível ceder...?!

Como manter João de Barros na Secretaria de Estado da Comunicação Social, quando a nossa Comunicação Social tem sido amordaçada pela ditadura, que tem em João de Barros o seu agente contra a liberdade de Imprensa?

Como foi possível ceder...?!

Volto a dizer que continuo convicto e esperançado de que o processo de mudança na Guiné-Bissau é um processo irreversível rumo a uma Guiné-Bissau POSITIVA.

Volto a dizer que vejo um horizonte positivo para a Guiné-Bissau, apesar de muitos caminhos por desbravar.

É preciso desbravar os caminhos da ditadura, é preciso Mudar!

Mudar positivamente, não esquecendo que a defesa do interesse nacional não acaba com o assumir de cargos na estrutura do Estado!

É preciso tirar ilações desta cedência inoportuna e cerrar fileiras na luta contra a estratégia da ditadura.

Não se pode dar espaço de manobra à ditadura, há que ser intransigente na defesa da separação de poderes dos órgãos de soberania!

Há que ponderar, auscultar o povo sobre as decisões a tomar, para evitar novos erros que possam vir a comprometer o interesse nacional.

Como tenho dito, a Mudança é irreversível

Vamos continuar a trabalhar, pois nada está perdido desde que se controlem, as raízes da ditadura e da corrupção!



O NOVO GOVERNO


O Presidente da República da Guiné- Bissau, João Bernardo "Nino" Vieira, nomeou hoje o novo governo do país, liderado pelo primeiro-ministro Martinho N'Dafa Cabi.


Em dois decretos presidenciais, a Presidência da Guiné-Bissau explica a estrutura orgânica do novo executivo e nomeia 20 ministros e nove secretários de Estado.

No novo Governo do país apenas se encontram dois nomes comuns ao anterior executivo liderado por Aristides Gomes, o de Issuf Sanhá, anterior ministro da Economia que passa a tutelar a pasta das Finanças, e o de João de Barros que se mantém à frente da secretaria de Estado da Comunicação Social.

Composição do novo Governo da Guiné-Bissau:

Primeiro-ministro: Martinho N'Dafa Cabi
Ministério da Presidência do Conselho de Ministros e Assuntos Parlamentares: Pedro da Costa
Ministério dos Negócio s Estrangeiros, da Cooperação Internacional e das Comunidades: Maria da Conceição Nobre Cabral
Ministério da Defesa Nacional: Marciano Silva Barbeiro
Ministério da Administração Interna: Baciro Dabó
Ministério da Justiça: Carmelita Barbosa Rodrigues Pires
Ministério da Reforma Administrativa, Função Pública e Trabalho: Pedro Morato Milaco
Ministério da Economia e Integração Regional: Abudacar Demba Dahaba
Ministério das Finanças: Issuf Sanha
Ministério da Solidariedade Social, Família e Luta Contra a Pobreza: Alfredo António Silva
Ministério da Saúde Pública: Eugénia Saldanha
Ministério da Educação e Ensino Superior: Brum Sitna Namone
Ministério da Cultura, Juventude e Desporto: Adiatu Djaló Nandinga
Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural: Daniel Suleimane Embalo
Ministério das Pescas: Daniel Gomes
Ministério dos Recursos Naturais e Ambiente: Soares Sambu
Ministério das Obras Públicas Urbanismo e Habitação: Rui Araújo Gomes
Ministério da Energia e Indústria: Vença Mendes Naluack
Ministério dos Transportes e Comunicações: José Gaspar Gomes Fernandes
Ministério do Comércio Turismo e Artesanato: Herry Mané
Ministério dos Combatentes da Liberdade da Pátria: Isabel Buscardine.

Secretarias de Estado:

Secretaria de Estado da Cooperação Internacional: Roberto Armando Ferreira Cacheu (PAIGC)
Secretaria de Estado da Administração Territorial: Cristiano Nabitan (PRS)
Secretaria de Estado da Reforma Administrativa: José Lopes (PUSD)
Secretaria de Estado do Plano e Integração Regional: Francisco da Costa (PAIGC)
Secretaria de Estado do Tesouro Orçamento e Assuntos Fiscais: Pedro Ucaim Lima (PAIGC)
Secretaria de Estado do Ensino: Joaquim Balde (Partido Social Democrata)
Secretaria de Estado para a Promoção Agrária e Segurança Alimentar: Bacar Djassi (PUSD)
Secretaria de Estado da Energia: Eurico Abdouranane Djaló (PAIGC)
Secretaria de Estado da Comunicação Social: João de Barros.

Fonte: www.noticiaslusofonas.com

 

ENTREVISTA A BACIRO DABÓ, EX-DIRECTOR PARA A SEGURANÇA DO ESTADO DE NINO VIEIRA.

 

Baciro Dabó

NINO MANDOU LIQUIDAR MUITA GENTE

Baciro Dabó foi director para a segurança do estado de Nino Vieira, durante a guerra na Guiné. Hoje está detido em Bissau.
Em entrevista a O Independente, diz que nunca mandou matar ninguém, recusando-se a acatar as ordens de Nino Vieira nesse sentido. Mas garante-nos que o presidente deposto “mandou liquidar outras pessoas”. Como é o caso de Hélder Vaz, líder parlamentar do Movimento de Bafatá. Segundo afirma , Nino deu-lhe ordens expressas nestes termos: “QUALQUER QUE SEJA A ALTURA QUE HÉLDER VAZ ENTRAR EM BISSAU, TEM DE SER ABATIDO”. O que finalmente acabou por não acontecer.

I: Falou-se muito de si durante o conflito armado na Guiné. Porque é que aceitou o cargo para o qual Nino o nomeou?

B.D: Aceitei o cargo, mas não para fazer nenhum trabalho sujo que Nino me mandasse fazer. Antes pelo contrário recusei sempre a fazê-lo.

I: Mas não matou ninguém durante a guerra?

B.D: Talvez o fizesse mas em legítima defesa para salvar a minha vida. Que fique bem claro que só fui para a segurança do estado numa altura em que o próprio Nino Vieira se sentia muito ameaçado pelas chefias militares e por causa das cedências das pastas da defesa e do interior a favor da junta militar. Aliás, propôs-me o cargo e disse-me que se sentia ameaçado. Contou-me até que depois do encontro de Lomé, várias pessoas não ficaram contentes com as cedências que ele fez. O acordo de Abuja- que fique bem claro- foi feito por minha iniciativa pessoal. Tive coragem de dizer então ao próprio Nino Vieira que, militar e popularmente estava derrotado.

I: Mas sabendo que Nino estava em desvantagem porque ficou ao lado dele?

B.D: Sabia e tinha consciência das causas que precipitaram a guerra. Sabia que Nino estava a ser apoiado por pessoas sem expressão militar e popular, mas uma revolução é sempre uma revolução. Como nunca fui contactado por qualquer elemento da junta militar e dentro daquela confusão de tiros, cheguei à conclusão de que o lugar mais seguro para mim era o Palácio da República. Só depois de lá estar dentro é que se desenrolaram muitas coisas.

I: Nino Vieira mandou matar gente durante a guerra?

B.D: Quero que todos os guineenses e a própria comunidade internacional acompanhem todo o processo na Guiné-Bissau. A melhor coisa que o Nino Vieira pode fazer, enquanto homem, cidadão e grande combatente que foi, é ter a coragem de voltar à Guiné e sentar-se no banco dos réus para ser julgado.

I: Não respondeu à minha pergunta. Quem é que o Nino Vieira mandou matar?

B.D: Durante o conflito, que começou a 7 de Junho de 1998, e até ao seu término em 7 de Maio de 1999, nunca participei militarmente em nenhuma acção desse tipo, nem tomei parte de nenhum acto de tortura. Agora, se o Nino eventualmente mandou matar gente no palácio, não foi através da minha pessoa. Só falo de factos concretos. Mas tenho informação de que mandou liquidar outras pessoas.

I: Quem é que o Nino Vieira mandou matar?

B.D: Enquanto director dos serviços de segurança, mandou chamar-me. Estava muito irritado com Armando Correia Dias, irmão de Saturnino da Costa, que achava estar conotado com a junta militar. Pediu-me que o mandasse prender e que o torturasse para que confessasse a verdade – ou seja, que acusasse o Saturnino da Costa de guardar armas na sua quinta. Nino Vieira disse-me até que tinha informações seguras de que Saturnino da Costa tinha armas na sua propriedade. Fui buscar o Armando Dias, interroguei-o, e vi que as duas versões eram diferentes. Depois disse-lhe: “ vai para tua casa e fica descansado”. Nesse mesmo dia, à noite, disse ao Nino para ter cuidado porque estava a fazer muitas prisões sem qualquer razão de ser.
Ele não se sentiu lá muito bem, mas aceitou os meus conselhos. Aliás, o meu irmão Iaia Dabó, disse-me uma vez que recebeu ordens do João Monteiro para matar o Saturnino da Costa e o irmão deste.

I: Hélder Vaz, líder parlamentar do Movimento Bafatá, foi ou não ameaçado de morte?

B.D: Recebi ordens directas de Nino Vieira em que dizia que Hélder Vaz fez acusações na imprensa internacional dizendo que o Nino estava a usar armas químicas. O Nino deu ordens expressas, nestes termos: “ Qualquer que seja a altura que Hélder Vaz entre em Bissau, tem de ser abatido”. Além de mim, outras pessoas receberam as mesmas ordens na altura, como é o exemplo do Duarte Cabral.

I: Mas Nino usou armas químicas na guerra?

B.D: Posso dizer-lhe que depois da assinatura do acordo de Abuja e das consequentes cedências, as chefias militares perceberam que as suas carreiras estavam em causa, até porque apostaram sempre por uma solução militar. Nessa altura, os senegaleses receberam canhões de longo alcance de 155 mm. Acontece que os canhões estavam equipados com ogivas químicas. Se foram ou não usadas, não sei. O governo chegou até a provocar o reacender da guerra só para fazerem uso dos mesmos. Aliás, durante o conflito, forneci sempre informações ao B’tchoflé Na Fafé, que era um dos comandantes da linha da frente da junta armada.

I: Manecas Santos, foi acusado entre outros crimes, de ter mandado construir a pista de aviação em Bubaque. Pode confirmar isso?

B.D: As pessoas têm de ter coragem de assumir os seus actos.
Vou falar-lhe muito abertamente e com todo o à-vontade.
Se há testemunha de tudo o que se passou na Guiné durante a guerra, essa testemunha sou eu. Não sei quanto custou em termos de dinheiro, a pista de aviação de Bubaque, mas é bom que se esclareça as viagens que Manecas fez durante a guerra. Esteve em Portugal onde manteve alguns enconcontros com amigos pessoais de Nino Vieira. Esteve com o empresário português Manuel Macedo e com outros. Manecas vai dizer que esteve com eles com a finalidade de virem investir na Guiné, um país em guerra?
Será que o Manecas vai querer dizer que não teve nada a ver com a construção da pista de aviação de Bubaque? O Manecas, durante a guerra, esteve permanentemente no Palácio da República, ao lado de Nino Vieira e esteve largas temporadas em Bubaque. O que levou o ministro da defesa, Samba Lamine Mané, à Líbia, entre outros países? Olhe vá ao ministério das finanças ver se houve ou não ordens de missão para essas viagens.

I: Como braço direito do Nino, sendo que ele anda “fugido”, que mensagem tem para o estado português, que lhe concedeu asilo político?

B.D: Os laços históricos uniram-nos a Portugal e ao seu povo. Portugal durante os últimos tempos ajudou muito o nosso país. Mas tem de ter muita ponderação quanto ao Nino Vieira e tem de ter muito cuidado com ele. Nino saiu da Guiné-Bissau para tratamento, mas não pode estar a acusar este ou aquele de serem o motivo da sua saída do poder. Portugal, a quem a Guiné-Bissau deve muito respeito, só deve ajudar no sentido de limitar toda a actividade política a Nino Vieira.

I: Sabe alguma coisa sobre contratação de mercenários?

B.D: Posso dizer-lhe que o João Cardoso foi até à Líbia buscar armas e aviões Mig-21 com a finalidade de aterrarem na pista de Bubaque. Mas ao que sei, não conseguiram nada. Agora, diga-me, se houve toda essa história de ir buscar aviões e material sofisticado, porque é que os mercenários haviam de ficar de fora? Olhe, para que saiba, foi feito tudo e mais alguma coisa nesta guerra só para o Nino vieira continuar no poder.

I: Sente-se então com a consciência plenamente tranquila?

B.D: Estou. Sempre disse – até na rádio – que caso qualquer guineense me acuse deste ou daquele crime, independentemente da pena de prisão que o tribunal me aplicar, irei pedir sempre mais 10 anos de prisão. Aliás, até fiz esta declaração perante o Procurador-geral da República Amine Saad

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