Que Deus Abençoe a Guiné e o seu Povo

 

 

 

Secuna Baldé *

Secuna Baldé

secbalde@hotmail.com

10.09.2009

 

Caros irmãos guineenses,

 

Inicialmente, quero muito agradecer a todos que direta ou indiretamente prestaram  seus votos de solidariedade e apoio pela ameaça de que fui alvo. Sou um jovem que nasceu e cresceu na Guiné Bissau, me deparando com situações de injustiça  e ouvi outras tantas histórias passadas de massacres, injúrias, injustiças e mortes sem necessidade.

 As palavras ameaçadoras surgem com o intuito de descredibilizar as palavras dos outros, fermentar a fofoca, estimular o espírito de derrota no outro e atemorizar o outro no intuito de se entregar sem luta. Mas isso não vai acontecer!

 Quando nascemos e crescemos com um objetivo em mente, com um sonho do qual queremos, desejamos e almejamos realizar, não existem homens, nem palavras, nem factos, que eximam ou abstraiam este sonho. Não existe nada que possa impedir de tornar este sonho realidade!

 Como já dizia  Martin Luther King “ O que mais me preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos sem ética. O que mais me preocupa é o silêncio dos bons”. Então, Caro kuburnél, não vais conseguir intimidar-me, pois não me vou calar! Seja em que situação for, seja diante de ameaças covardes e  sem fundamento. A palavra dita, jamais volta!

As palavras que saíram não só da minha boca, mas do meu coração, da minha eterna revolta diante da situação do nosso país, eu as diria novamente. E que todos os outros que desejam falar, que falem. Que desejam criticar, que critiquem. Que desejam desabafar, que desabafem. Que desejam lutar, que lutem. O que eu apoio é a liberdade de expressão!

Quem pode atacar, ataca, não fica ameaçando. Essas atitudes de mandar ameaças para os outros é uma atitude de pessoas que sabem que não podem vencer, não podem destruir a vontade, o espírito de luta que está dentro de mim e de tantos outros Guineenses, e por isso, tenta fazer-nos desistir.

Sobre estas palavras “Estás aí só em conversa fiada, és um outro Fadul, resto/raíz/descendente de brancos, fula (etnia) de merda , engraxador” tenho a dizer-te que sou fula (etnia) com muito orgulho, de avós e bisavós guineenses natos, e de branco descendente nada tenho e mesmo que tivesse, seria de muito orgulho como tantos outros guineenses descendentes que demonstraram e provaram o seu amor pela Guiné.

Homens como vocês, que querem separar este povo, fomentando o tribalismo, nunca irão conseguir que isso aconteça pois o povo da Guiné tem consciência que Guiné não tem raça, é um só povo filho de uma só mãe.

 Em relação a “Toma cuidado com o que escreves, senão vais ser enterrado antes que chegue o teu dia”  tenho a dizer-te também que eu não tenho medo da morte, pois esta é apenas umas das certezas  que tenho nesta vida. Mas se for para morrer em nome da justiça, morrerei feliz pois de que adianta vir para este mundo e não deixar nossa CONTRIBUIÇÃO?

A insatisfação que impera dentro de cada cidadão guineense como eu, é o estímulo para que juntos possamos transformar este país. A chave para isso é uma luta de paz, e o objetivo final é a felicidade de ver um país justo e transparente. Para que isso ocorra, é necessário também que, mesmo diante do enorme sacrifício e dificuldades enfrentados pelos quadros guineenses formados, espalhados pelo mundo, vejo a importância de fazer um apelo para que estes retornem à casa, ao seu país que tanto precisa deles, unidos e assim seremos mais fortes.

Não vamos permitir que o sofrimento do nosso povo caia no poço do desespero. Eu digo hoje que mesmo diante das dificuldades que surgiram e que hão de surgir, como por exemplo estas ameaças que me foram feitas, tenho um sonho. Sonho este que tem profundas raízes, que se concretizará ao ver crucificada a opressão, a injustiça e a desigualdade. Sonho este que se concretizará ao ver erguida a bandeira da liberdade e da paz, numa nação onde todos possam viver sem que as pessoas sejam julgadas pela cor da pele, etnia, sexo, classe econômica ou social. 

“Quem, melhor que os oprimidos, se encontrará preparado para entender o significado terrível de uma sociedade opressora? Quem sentirá, melhor que eles, os efeitos da opressão? Quem, mais que eles, para ir compreendendo a necessidade da libertação? Libertação a que não chegarão pelo acaso, mas pela praxis de sua busca; pelo conhecimento e reconhecimento da necessidade de lutar por ela”. PAULO FREIRE

Extraindo das belas e verdadeiras palavras deste educador, pergunto se me posso render à opressão que me está sendo feita; se o povo guineense pode se render a todo o tipo de opressão que nos cerca, tal como abuso de poder, desvalorização do ser humano, discriminação, desrespeito, falta de direitos igualitários, dentre outras tantas faces que perduram desde há muito tempo…?

 Fica claro que para alcançarmos esta libertação, tão almejada durante tanto tempo, só o povo guineense pode fazê-la, na medida em que reconhece a necessidade de estar sempre lutando por ela.

A nossa pátria vai completar 36 anos de Liberdade, de ex-colônia portuguesa, mas ainda existem neocolonialistas nacionais, piores que os colonialistas portugueses, além de tantas outras formas de prisão a que o povo está submetido e que só este povo, somente ele pode, unido, libertar-se, se cada um fizer a sua parte.

Que Deus abençoe a Guiné e cada bom filho deste país. Que nos livre de pessoas de má fé. Tenho a dizer que não devemos conduzir nossa luta usando o ódio, a vingança e a revolta baseada na violência. A revolta que propomos fazer deve ser conduzida pela força de vontade de vencer que está dentro de cada um de nós. Acredito que todos nós, guineenses, temos uma sede de liberdade e justiça estarrecedora, e temos que conduzir nossa luta com humildade, dignidade e união. 

Caro Kurburnél, que Deus te abençoe e purifique a sua alma. Pois não tenho ódio nem raiva de você, mas sim uma enorme pena e aflição pela pessoa que demonstras ser.

 

* Graduado em Turismo pela Faculdade Evolutivo – FACE – Fortaleza, Brasil (2008); Estudante de Pós Graduação Lato Sensu, Gestão ambiental e Desenvolvimento Sustentável pela UNEPI, União de Ensino e Pesquisa Integrada João Pessoa, Paraíba Brasil.
 

OS PROBLEMAS DO NOSSO PAÍS ESTÃO SENDO JOGADOS EM NOSSA CARA! 09.09.2009

AMEAÇAS A PARTIR DE BISSAU, OU QUANDO UM FILHO ENRAIVECIDO SAI EM DEFESA DE UM PAI IMORAL... 09.09.2009

 

ESPAÇO PARA COMENTÁRIOS AOS DIVERSOS ARTIGOS DO NÔ DJUNTA MON -- PARTICIPE!


A TER SEMPRE EM CONTA: Objectivos do Milénio

PROJECTO GUINÉ-BISSAU: CONTRIBUTO - LOGOTIPO

VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!

Projecto Guiné-Bissau: CONTRIBUTO

www.didinho.org