Quando os factos são irrefutáveis

 

  "Seitane" - Rui Sangara

 

 

 

Edson Incopté

edson_incopte@hotmail.com

07.04.2010

A importância de encararmos os factos como realmente são, por mais que nos custe, é extremamente crucial para abordarmos quaisquer que sejam esses factos! Temos todos que deixar de ser utópicos, julgar que as coisas se resolvem por si, ou que da forma que estamos a proceder conseguiremos resolver os nossos problemas. Isso é simplesmente fantasioso!

 

A verdade dos factos é dura, mas aceitemo-la com realismo. No que diz respeito às constantes instabilidades na Guiné-Bissau, temos um problema gravíssimo que são os nossos inconsequentes militares! Embora incitados por múltiplos factores. Tais como, o problema do tráfico de droga, a falta de formação que reina na classe castrense, a imoral cumplicidade dos dirigentes que prezam somente os seus interesses pessoais. Enfim… os factores são inenarráveis.

 

 

Outra verdade menos dura é que o nosso país não se encontra minimamente preparado para resolver este profundo problema. E enquanto se vai adiando a sua resolução por interesse e teimosia, vai-se também comprometendo o futuro das gerações vindouras.

 

Cair nas fraudulentas declarações de personalidades que insistem em considerar os acontecimentos do dia 1 de Abril como um incidente ultrapassável, é um erro no mínimo absurdo. Pois caso estes acontecimentos sejam tolerados, como tem acontecido, podemos ter a certeza que mais dia, menos dia, vamos voltar a assistir ao mesmo filme com outras personagens.

 

Tenho plena consciência de que uma suposta entrada de forças estrangeiras na Guiné-Bissau, seria a última coisa que qualquer Guineense poderia desejar, mas a verdade é que também já ultrapassamos todos os limites de condescendência. Os nossos antepassados não andaram a lutar anos e anos contra os colonizadores, para agora chegarmos ao ponto de admitirmos que necessitamos de uma força exterior para organizar uma parte da nossa sociedade. (E chegamos mesmo a essa necessidade!) Mas também não andaram a lutar para que o nosso povo continuasse a ser explorado e humilhado.

 

Quantos já morreram: Ansumane Mané, Veríssimo Correia Seabra, Tagme Na Waie, Nino Vieira, Baciro Dabó, Hélder Proença… isto só para citar algumas personalidades. Quantos mais terão de morrer para que aceitemos a realidade? Afinal quem tem o direito de tirar a vida a outrem?

 

Não é uma boa política de análise ir buscar somente as más prestações de forças estrangeiras em suas diversas intervenções. Temos bons exemplos e o caso de Timor, por enquanto, está a ser um deles. E pior do que estamos a passar, é difícil! O que está a acontecer é um facto irrefutável e o que pode vir a acontecer, com a entrar de uma força multinacional, é uma hipotética possibilidade.

 

Na minha opinião apostar nas forças policiais como forma de colmatar as delinquências dos militares, com a possibilidade de “atribuí-las competências especiais internas, acima de todas as outras forças da autoridade” é no mínimo estar a criar uma guerra interna entre militares e polícias. Porque os militares nunca aceitarão estar submetidos às forças policiais na Guiné-Bissau, aliás, ao longo da história da nossa independência temos visto que o que tem desencadeado vários acontecimentos absurdos é justamente o facto de os militares não estarem submetidos a qualquer outros poder. Pensar que os militares admitirão tal ideia, é estar a fantasiar.

 

Quem não se lembra dos recentes confrontos entre militares e polícias por causa das aeronaves que aterraram no aeroporto Osvaldo Vieira?

 

Quem não se lembra do caso em que os militares assaltaram uma esquadra da polícia, tiraram da cela um prisioneiro da Polícia Judiciaria e espancaram-no até à morte?

 

Quem não se lembra do que voltou a acontecer há algumas semanas, quando militares voltaram a assaltar a esquadra da Polícia Judiciária para tirarem de lá um prisioneiro?

 

Quantas vezes os militares não formaram barreiras impedindo que os polícias fizessem o seu trabalho?

 

Todas as ideias quanto a esta questão são bem-vindas e devemos ponderar todas elas. Mas a minha continua a ser favorável ao envio de uma Força Multinacional para a Guiné-Bissau. Pela simples razão de que não caio nas lábias de nenhum Primeiro-ministro hipócrita e covarde que agora abandona à sua “sorte” o seu aliado número. Muito menos caio nas lábias de um presidente que habituamos a ver sem pulso e que agora parece sair bem na fotografia por ter simplesmente cumprido o seu papel. Aliás ter tentado cumpri-lo, porque nada está ainda resolvido!

 

Vamos encarar os factos com realismo.

Vamos, pelo menos tentar, resolver os problemas e parar de adiar a resolução.

Vamos opinar e buscar soluções, pois é com argumentos e contra-argumentos que vamos encontrando formas de resolver os nossos problemas.

 

Estamos juntos!

 


PROJECTO GUINÉ-BISSAU: CONTRIBUTO - LOGOTIPO

VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!

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