POSICIONAMENTOS E CONTRADIÇÕES

 

Flávio Wintacem Fernandes *

19.06.2009

Na qualidade de guineense, venho através deste artigo manifestar o meu apoio total à candidatura do Sr. Henrique Pereira Rosa, às presidenciais de 28 de Junho no nosso país. O que me leva a exprimir-me por este meio, é o facto de ter lido uma opinião no blog ditadura do consenso e visto que nesse blog não me foi possível fazer nenhum comentário in situ, tomei a liberdade de o fazer através do site didinho –“ Nô Djunta Mon”, que é um espaço, na minha opinião, propício para tal exercício.

Costuma-se dizer que «só os burros é que não mudam», de facto esta tomada de posição inequívoca a favor do candidato Koumba Yala por parte do bloguista ditadura do consenso, é no mínimo estranha. Mas a Guiné também já nos habituou a este tipo de atitude na política, portanto, não foge à regra. Todavia gostaria de sublinhar aqui algumas das incongruências desta forma de fazer política e de estar nela, típico do nosso país nos tempos que correm.

Querer denegrir a imagem e atingir a honra e o bom nome do candidato Henrique Rosa, alegando que ele é português e que lutou de armas na mão matando irmãos nossos contra a independência da Guiné, fim de citação, é simplesmente um argumento de quem não tem nenhum e tenta tapar o céu com a peneira. Não sei onde é que o nosso jornalista esteve durante o consulado de Koumba Yala, hoje Mohamed Yala e na altura da independência, Manuel Joaquim? O que lhe posso garantir é que o Sr. Henrique Rosa, figura que dispensa apresentações na nossa sociedade e cujo desempenho demonstrado durante o curto período de um ano como Presidente interino, desempenho esse, reconhecido pela comunidade internacional, está muito acima dessas acusações. No entanto, o mesmo não se pode dizer dos 3 anos em que Koumba Yala esteve no poder, visto que foi o pior período da história da Guiné, onde se conheceram todos os tipos de violações por parte do Presidente da República, entrando em conflito com outros órgãos de soberania (Assembleia Nacional Popular e Poder Judicial), provocando com isso uma grave crise institucional, o que esteve na origem da sua destituição pelos militares, logo após a criação de um Governo de iniciativa Presidencial, em violação flagrante da Constituição da República. Não fosse a intervenção do Presidente Senegalês Wade, que manifestamente influenciou a decisão do Supremo Tribunal na altura, o que permitiu a participação de Nino Vieira e Koumba Yala nas eleições de 2005, se calhar o país estaria em Paz neste momento, e teríamos esquecido, a maior desgraça vivida pelo Povo da Guiné, pior que a Guerra colonial, que foi o conflito político-militar de 7 de Junho de 1998. Só quem não quer ver, é que não vê quem é realmente, o candidato capaz e com perfil, neste caso falo no singular, nestas eleições presidenciais, onde todos sem excepção são candidatos, desde ”porcos”, “vacas”, ”cabras”, “cães”, etc., são todos candidatos à magistratura suprema; mas a forma de fazer política no nosso país também já nos habituou a este tipo de opções, onde os interesses pessoais são colocados sempre acima do interesse geral, estamos aqui para ver. Recentemente o candidato do PRS às presidenciais acusou o PAIGC de “atrocidades”, visto que segundo ele, esse partido e os seus líderes estão na origem das mortes de Amílcar Cabral, Nino, Tagme, Hélder e Baciro, esquecendo-se do Ansumane Mané, acho que o lapso é propositado. Ao sugerir que os responsáveis do PAIGC, Carlos Gomes Júnior e Malam Bacai devem responder perante o Tribunal Penal Internacional, ele exclui-se deliberadamente da lista, uma vez que ele próprio esteve em conluio com muitas mortes provocadas pelo PAIGC no início da independência (como informador - “PIDE” ao serviço deste partido), quando ainda estava em Portugal. Nessa altura muitos guineenses foram presos torturados e alguns deles assassinados pela polícia política do PAIGC, quando regressaram à Guiné para dar o seu contributo e a função do «Manuel Joaquim» em Portugal, na altura, era fornecer as informações, sobre aqueles que não comungavam das ideias do Partido Estado e da Unidade entre a Guiné e Cabo-Verde, que aliás, vimos no que deu. Com efeito, a famigerada independência veio a transformar o país 3 décadas depois num “pedinte internacional”, cujos, alguns dos candidatos presidenciais, sugerem hoje, a sua colocação sob a administração das Nações Unidas, assim como a intervenção de uma força militar de manutenção da Paz e outras incongruências, de gente que pensa a política só para resolver ambições pessoais. COMO É POSSÍVEL SER CANDIDATO PRESIDENCIAL, QUANDO SE IGNORA TUDO DA ADMINISTRAÇÃO E NÃO SE CONHECE NENHUM DOSSIER RELATIVO AO FUNDO MONETÁRIO, AO BANCO MUNDIAL OU À UNIÃO EUROPEIA? SÓ NA GUINÉ! COMO SE PODE SER PRESIDENTE NÃO CONHECENDO AS REGRAS DE FUNCIONAMENTO DO ORÇAMENTO GERAL DO ESTADO E OUTROS INSTRUMENTOS QUE REGEM O FUNCIONAMENTO DE QUALQUER ESTADO DIGNO? É de facto pena que a comunicação social não faça o seu papel nestas eleições e aqui também incluo a RTP-África, que deveria promover debates entre os candidatos, a fim de elevar o nível das discussões e permitir ao mesmo tempo, clarificar os projectos que cada um dos candidatos preconiza para enfrentar as dificuldades actuais e futuras do país (vários meses de salários em atraso; soluções para a reestruturação do sector educativo e da saúde, a possibilidade de cumprir com as metas definidas em conjunto com as organizações de Bretonwoods que deverá permitir ao país beneficiar do perdão da sua enorme dívida externa, a incontornável reforma das Forças Armadas e de Segurança; etc.). Os conjuntos dessas soluções não cairão do céu, mas sim, terão que ser pensadas e elaboradas políticas claras e eficazes para ir ao encontro desses problemas, sem a solução dos quais o país, isso sim, desaparecerá do mapa e aí temos dois vizinhos que nutrem ambições de hegemonia manifesta. Gostaria igualmente de comentar as afirmações do seu ilustre candidato, que manifesta a sua intenção de mudar a capital do país de Bissau para Boé, caso ganhe as eleições. É melhor preparar-se porque seguramente terá necessidade de o acompanhar em tal digressão. De facto ele habituou-nos a este tipo de saídas, que só podem ser ou de um ingénuo ou de alguém que, como ele, nunca trabalhou, de forma que não tem noção daquilo que está a propor aos guineenses, a não ser que também já vendeu a Guiné à Líbia como fez com o antigo Bissau Hotel por 1 milhão de dólares e afirmou ter entregado o dinheiro aos militares. Também anunciou durante o seu anterior mandato a construção de 100 mil casas e disparates do género; agora quer fazer uma Universidade (de certeza que ele não sabe o que é, apesar de dizer que é licenciado em filosofia, ele que mostre o diploma) e um Liceu com uma capacidade de 30000 alunos diz ele. Repare, afirmei há pouco que ele nunca trabalhou, foi um excesso de linguagem e peço desculpa, porque o ex-Ministro Filinto de Barros teve-o por alguns escassos momentos como staff do seu gabinete nos meados dos anos 80, ele pode confirmar as capacidades técnicas e administrativas do Dr. Mohamed Yala, a quem foi entregue uma guia de marcha para o Liceu Kwame N'krumah donde tinha sido enviado pelo ex-ministro Manuel Rambout Barcelos, para ver se, como filósofo, ele dava-se melhor com o ensino. Aliás ele de facto não deve ter ideia da mão-de-obra especializada e não especializada e ainda menos do custo de um empreendimento desse vulto; assim como não tem ideia do número de professores e técnicos em educação e administração, que é preciso mobilizar, para fazer funcionar um estabelecimento de ensino dessa envergadura, sobretudo num país que nada faz para atrair os seus quadros que estão na diáspora, que ainda não são poucos. O malogrado Dr. Vasco Cabral, pensador eminente e um brilhante quadro do PAIGC, identificou-o muito cedo, tanto assim que correu com ele da sede do partido donde ele não saía; e visto que o nosso eminente doutor nem tinha capacidade intelectual para desempenhar funções no “departamento de quadros do partido”, foi então oferecer-se como professor sabem de quê, de formação militante, vejam só! É este o perfil de um candidato à presidência que determinadas pessoas nos querem impingir, nunca! O ilustre jornalista não sabe, porque se calhar na altura apesar de estar ausente da Guiné, não seguiu bem o que se passou em 1999, quando o dito Dr. Kumba Yala foi eleito com 72% de votos. Na realidade isso, só foi possível, porque todos aqueles que queriam a mudança na Guiné, os que queriam romper com os sucessivos ciclos de desmando e de violência do PAIGC e do Nino Vieira no país, se juntaram e votaram no mal menor, que era precisamente, o Kumba. Mas a história mostrou-nos que nem sempre a opção do mal menor contribui para a solução do problema, qualquer solução viável tem que ser criada e não cair do céu. É por isso meu caro, que o Povo da Guiné se reconheceu na candidatura de um homem honesto, religioso, respeitador dos valores universais e humanos, como um líder que o saberá tirar da tirania de um grupo de gente que nos pretende ter como reféns sob pretexto de nos terem dado a independência. A verdade é que sem o apoio do Povo, os que dizem que foram à luta e nos deram a independência, ninguém regressava, porque morreriam todos à fome, não fosse os alimentos que lhes eram fornecidos pelo Povo e se assim fosse, estaríamos hoje em Paz. Porque uma coisa é certa, ou com o PAIGC ou sem ele a Guiné um dia seria independente e na Paz!

 Se calhar, Deus não o permita, se o candidato Mohamed Yala vier a ganhar as próximas eleições, como o afirma, o nosso ilustre jornalista, terá que pedir um visto de entrada em Portugal, caso a sua autorização de residência esteja fora de prazo e poderá beneficiar dos serviços da RTP-África, com o qual se sente neste momento, muito incomodado, por não darem o devido valor ao seu actual líder e candidato presidencial, às eleições de 28 de Junho próximo

 * Mestre em Ciências Geográficas; Consultor em Sistemas de Informação Geográfica (SIG)

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