PENSAR A GUINÉ COM A IMPARCIALIDADE POLÍTICO-PARTIDÁRIA

 

 

Por: Mamadu Lamarana Bari

mlbarry1@gmail.com

15.04.2009

Prof. Dr. Mamadu Lamarana BariCaros Compatriotas

Li com muita atenção todos os artigos de Didinho – A Guiné-Bissau com Realismo. Pude entender nele o seu lado humanista. Ou seja, ele não é apenas solidário com o sofrimento alheio, mas também imparcial e com o ponto de vista coerente, fruto da formação e do comportar de um Homem de Bem. "Dai ao Cezar o que é de Cezar, mas também não basta dizer que é mulher de Cezar para ser honesta precisa provar”. Então cabe ao Dr. Fadul após todas essas manifestações de solidariedade à sua pessoa pelo covarde espancamento sofrido, pronunciar a respeito do que se falou e se escreveu com relação ao desabono à sua conduta como homem público que ele é e foi ao longo de muitos anos pelos serviços prestados à Nação Guineense. Cabe a ele exclusivamente esta defesa. As outras vítimas de maus tratos sofridos pela ensandecida fúria do poder, as minhas reconhecidas dores e votos de solidariedade. Não me esqueci de ninguém nos meus atos de repúdio, apesar de não frisar nomes, mas as ênfases que dei no repúdio aos atos ignóbeis praticados pelos donos do poder contemplam a todos indistintamente. Ao Dr. Pedro Infanda, que não se sinta abandonado mesmo que a imprensa falada e escrita no exterior não tenha dado maior cobertura ao seu bárbaro espancamento, a justiça não demorará a bater às portas, ele como jurídico sabe bem disso.

A todos os guineenses, meus irmãos, visíveis e anônimos, eu só sei de uma coisa... Cada um de nós quer o bem para a Guiné. Formas de protestar são diversas, mas não devemos esquecer que escamotear a verdade sendo parciais só porque sou simpático ou não aquela pessoa, apenas piora a nossa forma de ser vistos cá fora como cidadãos inaptos para conduzir o destino de um país, dada a tamanha brutalidade que usamos para solucionar as nossas dores do peito. “É o que dizem, os guineenses têm coragem para morrer, mas não têm coragem para dizer a Verdade”.

Eu não sou candidato a nada e nunca tive pretensões a cargos. Se assim fosse teria voltado para a Guiné quando o falecido Ministro de Economia e Finanças Dr. Bartolomeu Simões Pereira, ex-colega de trabalho no Ministério do Plano da época de Dr. Vasco Cabral, havia me feito o convite para assumir a Direção Geral das Relações Econômicas Internacionais. Mas a minha resposta foi categórica dizendo que precisava aprender ainda mais um pouco da Economia. A minha contribuição a este site está isenta de qualquer pretensão de projeção. Ela está sendo feita por questões de militância a uma boa causa que foi posta em prática a partir de 2003 pelo seu idealizador e construtor Didinho. Não julguem que estou desabafando contra quem quer que seja, até porque considero todos os guineenses meus irmãos e entre irmãos não se dá margem a debates infrutíferos. Apenas estou pontuando as minhas justificativas sobre o que penso da imparcialidade e da verdade como libertação da mente.

Muitos vivem fora da Guiné há muitos anos, mas nem com isso deixaram de prestar serviços à Guiné, seja pelo enriquecimento curricular agregando valor ao país, seja colocando-se à disposição como colaborador na academia, no serviço público, enfim em todos os setores de atividades pública e privadas do país.

Certa feita no meu discurso de saudações aos novos Imortais da Academia Brasileira de Ciências Econômicas, Políticas e Sociais, reconhecidamente chamada de Academia Nacional de Economia – ANE alertava que “... A academia é o ato de convivência em busca do saber a partir de aprimoramento de experiências. O ato de se doar ao serviço desta Instituição é, sobretudo, o de contribuir para o despertar da consciência cidadã, com a qual, todos possam se empenhar ao trabalho cívico de consolidar a edificação desta nação de cidadãos livres em todos os sentidos, pelo crescimento e melhoramento do grau de escolaridade da nossa população. Este despertar cidadão não se resume apenas a um dever cívico, mas também a uma atitude moral vinda da nossa reflexão para alertar que algo precisa ser feito para que tudo funcione na mais perfeita harmonia. Chamo, a esta reflexão, o estado de CONSCIÊNCIA. A cobrança moral, para a concretização dessa atitude chama-se a AÇÃO. Portanto, é sob esta simbiose consciência-ação que na modernidade educacional trabalha-se a CONSCIÊNCIOLOGIA como despertar do ser cidadão” (BARI, 2007).

Continuando o meu pensamento eu diria em outra oportunidade na Defesa do Memorial que é a partir da academia que se constroem idéias transformadas em sonhos que num amanhã se tornam realidades. Os precursores da nossa Liberdade Pátria: Amilcar, Agostinho Neto, Mário Pinto de Andrade, Marcelino dos Santos, Vasco Cabral e muitos outros construíram junto o sonho de vermos os nossos cinco países da África lusófona independentes. Foi a partir da academia, enquanto estudantes do império que esse sonho floresceu. Por que não afirmar também que suas ações afirmativas como cidadãos das colônias nasceram da Consciência construída a partir da luta pelo reconhecimento do homem africano colonizado como cidadão.

“... A liberdade de ser e de fazer sempre foi o maior dos meus desejos não só por fazer parte dos princípios da educação do Africano - auto-estima, arte de criar etc. - mas também por conviver com a situação que nascia dos apelos das forças democráticas no mundo. Liberdade, liberdade..., direito de ser, de pensar e de conduzir o próprio destino. Essas são as razões que me ligam à vida acadêmica. É na academia que sinto essa liberdade, a liberdade de pensar e de gerar conhecimentos. Razão por que abandonei a “promissória carreira política” na Guiné-Bissau depois da independência”. (BARI, 1999).

Portanto, meus amigos falo conscientemente o que penso e o que é necessário ser dito sem ter que pedir licença, porque entendo como diz o nosso bom criol “na conbersa de garandis qui cabaz de sinta ta tchingantadu”. Somos todos adultos e conscientes. Não devemos omitir a verdade, ainda que saibamos que há verdades conforme o entendimento e o interesse dos interlocutores.

Em outra ocasião, quando da Palestra proferida na Universidade Federal de Pernambuco, em comemoração ao XXX aniversário da Independência da Guiné-Bissau eu dizia em certas passagens do discurso “... Aos jovens compatriotas, pioneiros de ontem e desbravadores do saber de hoje só resta a certeza de que a Guiné-Bissau é assunto de todos nós, temos que ter a coragem de pôr o dedo na ferida para podermos ter a noção de que alguma coisa precisa ser feita. Não é necessário recorrer-se à força das armas para exigir mudança. Não é necessário recorrer ao passado para atribuir culpa a quem quer que seja. É necessário, sim, arregaçar as mangas para reconstruir a Guiné-Bissau, física, ideológica e economicamente. Cada um a seu modo, os ferreiros com suas alforjas, os camponeses com as suas enxadas e os intelectuais com as suas idéias”.

Como vimos meus irmãos apesar de apelarmos para que o passado seja esquecido, os acontecimentos atuais e mais recentes nos mostram que o passado está mal resolvido. Então, não há outra maneira senão voltar ao passado pendente e buscar a solução.

A solução está em ser paciente, está em saber dialogar, está em admitir atos falhos e buscar a redenção, está em enxergar em cada um como potencial colaborador, está em respeitar as idéias e opiniões do próximo, Enfim está na procura da VERDADE. Chega-se a essa verdade com letras maiúsculas com o exercitar da democracia. Havíamos mostrado ao mundo o sinal democracia quando se implantou o regime parlamentarista no sistema do governo e aprovou-se o multipartidarismo. Então, porque não deixar que as instituições da República falassem pelo País e atribuíssem o direito de cobrança a quem do dever pelo funcionamento do aparelho do Estado. Não importa se a Guiné é o mais pobre país do mundo, mas tem quadros à altura para imprimirem mudanças necessárias e o povo ansioso pelas mudanças para o bem-estar social. Não podemos parar no tempo. Discursos vindos da cartilha política dos tempos da independência, do gênero nós que fomos à Luta é que sabemos o destino do país porque o Povo no-lo confiou (Centralismo Democrático com base na democracia revolucionária) não serve mais para a Guiné. Segundo o filósofo carnavalesco brasileiro – Joãozinho Trinta – “a pobreza é coisa dos intelectuais, o povo gosta de luxo”, ironizando aos pseudo críticos de que se gastavam mundos e fundos para se brincar apenas em dois dias no ano. Parafraseando eu digo que a pobreza intelectual é coisa de politicagem. A Guiné por menor e mais pobre que seja em termos de potencialidade econômica comparada aos Estados Unidos, Inglaterra, Brasil etc., pode ser igual a eles na aplicabilidade e garantias de liberdades democráticas. Senão, por que tantos sacrifícios materiais e humanos para nos tornarmos uma Nação Livre. Que continuássemos colônia.  

Assim eu penso e está isento de juízo de valores.

Vamos continuar a trabalhar.  

Mamadu Lamarana Bari


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