PALAVRAS AÇUCARADAS

NÃO COMBATEM A POBREZA

 

 

 

Por: Adulai Indjai

 

Adulai Indjai, jornalista guineense

 

25.09.2007

 

 

O passado faz o presente e o presente prepara o futuro, mas a Guiné-Bissau nunca conheceu a verdadeira história do seu passado. O presente da Guiné-Bissau nunca existiu, porque não houve timing para que pudéssemos vivê-lo.

Será que um dia iremos conhecer o valor do futuro?... Esta é a minha questão….

 

"Palavras açucaradas não combatem a pobreza. Precisamos, isso sim, de acções concretas”, senhor General!

 

Estou aqui como qualquer um dos verdadeiros filhos da Guiné-Bissau, analisando o seu discurso açucarado como é habito. Desta vez fiquei impressionado ao ler um discurso repleto de coisas boas e lindas que ajudam-nos a compreender qual é o verdadeiro estado da Guiné-Bissau, onde consta o reconhecimento da fragilidade da classe política guineense a todos os níveis. Dizemos em crioulo "ora ku dunu di kasa ta tchami si fidjus ta nornori".

 

Guiné-Bissau que completou os seus 34 anos de vida com o título de primeiro pais narcotraficante de África, mas sem capacidade de produção de cocaína assim como outros tipos de drogas que hoje circulam no país... Na época da campanha de castanha de caju estarmos a lutar contra o narcotráfico... brincadeira!  

 

Fiquei impressionado ao ler o discurso do general, que diz: “O problema do narcotráfico que assola o nosso país representa um grande perigo para a democracia guineense, razão pela qual não pouparei esforços para que seja implementado o Plano de Emergência para o Combate ao Narcotráfico na Guiné-Bissau". Tenho muitas dúvidas Sr. General, com todo o respeito que tenho pelo senhor e pela sua valentia de combatente.

 

Somente em jeito de lhe refrescar a memória, gostaria de lhe relembrar que há bem pouco tempo desapareceu do cofre forte do Estado a cocaína apreendida pelas autoridades da Guiné-Bissau. Quem é que roubou esta droga, o Zé povinho? Não, Sr. general..... Já estamos fartos de discursos açucarados!

 

Já se passaram 34 anos de independência e ainda estamos a enfrentar problemas de base, especialmente a nível da Saúde e da Educação, problemas estes que alguns países como Cabo-Verde, por exemplo,  conseguiram encontrar vias para as suas soluções, e nós tudo que temos no nosso país, nestes dois sectores são ainda da época colonial, ou foram construídas com recursos externos.

 

Acabamos de ouvir o discurso de abertura do ano lectivo onde ainda estamos a pedir materiais didácticos a Portugal. Onde param as receitas do Estado da Guiné-Bissau,.... quem é o verdadeiro traficante de Droga, o pobre povo?.... Queremos resposta Sr. general..... são !!!! etc...

 

Guardei do discurso do Sr. General esta passagem que é muito interessante: "A esperança que nasceu há 34 anos continua por realizar porque temos enormes desafios em matéria de desenvolvimento socio-económico, da consolidação da democracia, da estabilidade política e da boa governação política, económica e social". Bravo!

 

É fácil escrever e ler um discurso mas quando este vai ser dirigido a um povo que sofreu 11 anos de luta pela libertação, e 34 anos de luta pela independência, pensamos que é uma forma de insultar esse mesmo povo. Não podemos estar a falar de desenvolvimento socio-económico e na consolidação da democracia ou na estabilidade política, num país dirigido pela força do poder e não da razão....

  

Tiro o meu chapéu para aplaudi-lo, Sr. general, por ter reconhecido que a única riqueza do povo da Guiné-Bissau é o seu capital humano.... Sr. General, o Sr. compreendeu isto quando? Anteontem? Espero bem que não, porque a Guiné-Bissau tem tido sempre homens e mulheres com vontade de aprender para estarem à altura de responder aos problemas gritantes da pobreza que tem sufocado o povo, mas o Sr. e os seus cúmplices nunca se deram ao trabalho de se preocupar com isso.

 

Hoje, ouvindo falar de capital humano questionamos sobre qual é o real estado do sistema educativo e da formação do homem guineense, bem como, o que é que o senhor pensa em relação aos jovens quadros do país que estão espalhados pelo mundo fora a baterem-se para um dia irem enfrentar o seu sistema político repleto de corrupção e redes de máfia...?

 

Assistimos de perto os nossos pobres irmãos que estão a estudar na Rússia enfrentando sérios problemas, sem falar dos que estão no Brasil por conta de familiares que ganham magros salários no final do mês, isto se houver salário.... Senhor General, tenha santa paciência, é preciso um pouco mais de respeito para com este povo...

 

Bla, bla, bla, estamos a discutir o futuro da nação.... este é o cenário desenhado no discurso do General, quando falava da instabilidade governativa e parlamentar, mas pelo meu conhecimento patético da constituição da República Guiné-Bissau, o senhor é o chefe máximo da nação, então manda todo mundo para o desemprego e convoque eleições legislativas, talvez, desta vez, o pobre povo vai de novo perder o seu tempo para ouvir as promessas de sempre, batendo-se para conseguir um verdadeiro dirigente...Mas na verdade, o senhor não tem condições morais para o fazer não é?

 

Orgulho barato não alimenta um homem inteligente, mas quando fazemos parte da máfia política não é fácil de decidir a favor dos mais fracos...

 

Senhor General: hoje este homem chamado Guiné-Bissau completou 34 anos de vida, como o Sr. bem disse, sem alguma perspectiva, um homem de 34 que ainda continua residir em casa dos seus pais, sem ter condições para construir a sua própria família, que nunca pensou em organizar-se como homem para poder ter uma família como deve ser, a Saúde e a Educação que são base da família, ainda não bateram à porta da Guiné-Bissau.

 

A corrupção e a injustiça moram mesmo junto à entrada da sua casa, os conflitos e a instabilidade continuam a ser o pão nosso de cada dia, vivendo da mão cheia de esmolas dos seus vizinhos e amigos de longa data.  Era este o desejo dos cinco elementos fundadores do PAIGC? Queremos a resposta!

 

Senhor General, o Sr. é um político muito experiente, sabe ou finge não saber que o dever fundamental do detentor do poder público é trabalhar pelo bem comum da sociedade, pois,  só assim é que se pode salvaguardar os direitos fundamentais dos cidadãos. É justamente por causa destas premissas que os direitos do poder não podem ser entendidos noutra base que não seja a do respeito pelos direitos do homem, que passa por dar uma vida condigna aos elementos que estão sobre a alçada do poder.

 

O bem comum que a autoridade serve no Estado, só se realiza plenamente quando todos os cidadãos estão seguros dos seus direitos. Sem isso, o que acontece é o desmoronar da sociedade, como é o caso que  vivemos hoje e no passado recente, onde os cidadãos participaram na oposição à autoridade do Estado aderindo a um conflito que hoje acabamos por perceber que não serviu para nada a não ser para atribuir patentes de Generais de Poilão de Brá a uns tantos militares 

 

Para terminar deixo-lhe, Sr. General, uma palavrinha de amigo: Peça aos seus acólitos que trabucam com sinceridade e serenidade, porque o poder muda de mão!... e quem viver verá!

 


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