OS TRUNFOS DO GENERAL

 

Nino Vieira

 

Por: Djiudigalinha

11.05.2007

 

Após a ressaca causada pelo desgosto da composição do último Governo "liderado" por Martinho Dafa Kabi, torna-se cada dia mais evidente, que o General Presidente está a restaurar e a consolidar o seu poder na Guiné-Bissau. A formação deste ultimo Governo é a prova cabal de que, o General Presidente tem um golpe de rim político inigualável na Guiné-Bissau.

Os sinais da "revitalização" desse poder são evidentes e visíveis. O General Presidente até já está a mudar o tom dos seus discursos. O Homem já fala "à Kabi" dos velhos tempos. O discurso sai mais melodicamente ameaçador com requintes de "chefe maior". Entusiasma-se e até dá ordens directas e expressas aos seus esbirros de confiança; incentiva ao cumprimento da lei e,... até dá-se ao desplante cínico de apelar ao combate à droga (... essa bela e apetecível "linguiça" que lhe está presidencialmente pendurada no seu guloso e insaciável pescoço). Imaginem, o Homem está em plena e boa forma que, até, a criançada do bairro da Presidência já grita em coro e em correria desenfreada, o velho e preferido refrão do ditador: "Kabi! Kabi!

Kabi! ... claro, que no fim a criançada estende a mão para receber os habituais Cfa's pelo cenário montado. Pena..., é que, essa criançada não sabe que esse monstro cujo nome cantarolam inocentemente privou muitos de entre eles, de conhecerem, seus pais, tios avôs e parentes.

Posta esta breve consideração sobre a "popularidade" do Kabi Na Fantchamna, vou agora, analisar os trunfos de manga que o General Presidente detém neste momento na Guiné-Bissau, começando pela Assembleia Nacional Popular (ANP), Supremo Tribunal de Justiça (STJ), Governo, Forças Armadas, Partidos Políticos e terminar na Sociedade Civil.

Ao General Presidente, segundo a sua concepção ditatorial de Estado, o PRESIDENCIALISMO é o regime que melhor serve e que deve vigorar na Guiné-Bissau apesar de a Constituição prever o contrário, ou seja o semi-presidencialismo. Assim pensou, e assim agiu. Logo após a sua tomada de posse demitiu o Governo legitimo do PAIGC e impôs de seguida, um Governo de iniciativa presidencial formado com base nos seus compromissos e jogos de interesses.

Na senda dessa concepção de Presidencialismo de Estado ou "Estado do Presidente", o General Presidente manda às favas a Assembleia Nacional Popular (ANP), que à parte o acto de tomada de posse do General Presidente, este órgão, foi ostensiva e deliberadamente ignorada e afrontada pelo General Presidente e seu Governo de Iniciativa Presidencial.

Quando finalmente, este órgão ousou desafiar os desmandos do Ditador, assumindo o protagonismo de derrubar o seu Governo Ditatorial através de uma Moção de Censura, tudo fez o General Presidente para o inviabilizar. Não o conseguindo, o General Presidente, volta a dar cartas da sua maquievelice política e, num jogo de mestre de influências, após a queda do seu executivo, volta a impôr no presente Governo a sua vontade e colocar os seus homens de confiança nos lugares chaves, isto é, nos Negócios Estrangeiros, na Administração Interna, nas Finanças, na Defesa, nas Pescas e nos Recursos Naturais.

O General Presidente, contrariamente ao que se previa, volta a ter as rédeas do poder e da decisão nas suas mãos. A ANP terá que esperar por melhor oportunidade para se desforrar do Kabi Na Fantchamna.

O Supremo Tribunal de Justiça (STJ), este, enquanto liderado pela Suprema Dama das Conveniências, constitui neste momento o principal garante de cobertura legal das acções anti-democráticas do General Presidente. Com essa presidência do STJ, o General Presidente, sabe que está à vontade, pois sabe que, em qualquer instância que se encontre um imbróglio político constitucional à sua magistratura ditatorial, a Suprema Dama lá encontrará uma qualquer fórmula de "sanação" para os seus atropelos e pesadelos de gestão democrática. A sintonia e a paixão entre essas duas figuras, é tão forte que, quanto mais cresce a empatia entre eles, maior se torna o Palácio da Suprema Dama que não pára de crescer em graça e extravagância em plena Avenida Amilcar Cabral. De um simples andarzito pago com o "souvenir" da admissão da candidatura do General à Presidência da República, a "Céu Cabeça Pelado" está a fazer um visível Palacete (embora de gosto discutível) com triplo orçamento, pois de um lado, tem os perdiens do General Presidente e do outro, tem as "ajudas de concubinato" do ex-todo poderoso Ministro da Defesa e por ultimo quando precisa vai ao Cofre da Justiça cuja fonte de rendimentos nunca larga mão, seja que governo e presidente for. E, não se pasmem das boas relações entre o General Presidente e a Suprema Dama, é que, também o STJ é inquilino supremo do General Presidente e como tal, as relações não podiam deixar de ser muito cordiais,... relações comerciais de inquilinato obligé...

Como se disse atrás, este Governo, não é mais do que a emanação da vontade do general Presidente. É constatável a desolação e incredulidade da maioria dos Guineenses quando foi anunciado a constituição deste novo Governo. Este novo Governo patenteia inquestionavelmente o reforço e a consolidação dos poderes do General Presidente. Se restam dúvidas, analisemos então os seus principais actores em função das suas relações com o General Presidente:

Martinho Dafa Kabi, o Primeiro Ministro indicado pelo PAIGC, desobedeceu clara e ostensivamente as instruções superiores do Partido e rendeu-se à sedução do General Presidente, aceitando as alterações impostas por este.

Sabe-se hoje, que essa trama foi astuciosamente urdida e conduzida sob os auspícios do maquiavélico e ambicioso Soaro Sambu, que também aliciou o Daniel e o Marciano a virarem as costas ao actual Presidente do PAIGC.

Resumindo o Dafa Kabi está às ordens do General, e se não está é uma questão de tempo, pois basta começar a mostrar-lhe a cor do dinheiro, do pó branco e fazer-lhe provar algumas mordomias e logo estará no papo. É uma questão de tempo para se ver.

O Baciro Dabo, seu esbirro preferido, custe o que custar tinha que entrar nesse Governo e assim quis e assim, foi. Este incontornável agente do General, é o homem indicado para todos os serviços sujos e nada melhor que o ministério onde tudo se urde, tudo se intriga e tudo se inventa. Um ministério à medida do "Muntrus". Com este mestre da intriga e da divisão estamos para ver quais serão as suas relações com as Forças Armadas em particular, com os Serviços de Informação Militar.

O Issufo, este é e será sempre, o seu financeiro predilecto. E o seu homem de confiança para todas as montagens financeiras, desde lavagens de dinheiro, empréstimos fictícios até desvios de procedimentos.

A São Nobre, embora uma novidade no seu universo de confiáveis, de momentos, é apenas o assumir de uma nova vaga de "Ninodependência" e fruto de ligações que acaba de dar corpo à luz do dia, mas que se supõe-se de longa data e com pontos de ligações mais importantes a descobrir.

O Soaro Sambu, há muito, agente fiel do General Presidente que bufava todas as acções do Governo de Gomes Junior e da campanha do Malam Bacai para o General e os militares, tinha que ser recompensado e ficou com a pasta da Energia e Recursos Naturais onde os interesses franceses devem ser bem salvaguardados por um homem da sua inteira confiança. Essa pasta foi-lhe confiada, para assim dar continuidade a um sujo negócio de exploração petrolífera que montara e assinara em tempos com os parceiros franceses do General e que o então PM Gomes Junior anulou por não servir os interesses do país.

O Daniel e o Marciano, estes devem ser tratados em parelha, pois nenhum larga o outro. Há muito que estes ilustres senhores, já estão com o General através da mediação do agente Soaro. Estes, não reconhecendo as suas limitações desde que provaram o gosto do poder, das viagens e os ares da governabilidade acham-se importantes e ministeriáveis em todos os Governos do PAIGC. Porém, como se queixavam a todo o mundo que o Cadogo Junior não lhes deixou aproveitar nada no seu Governo saindo com uma mão à frente e outra atrás, agora, ambos têm ministérios apetecíveis para o mamanço do taco e podem perfeitamente dar vazão à sua gula e entrar no círculo da corrupção do Governo do General Presidente.

Enfim, o General Presidente, baralhou e deu cartas neste novo Governo e continua a reinar, dividindo pela ganância, intrigas e traições.

Nas Forças Armadas, o General Presidente conseguiu com sucesso aplicar a política de dividir para melhor reinar. A raia miúda da tropa está neste momento mais entretida com o negócio da droga e com o seu bem-estar, construindo vivendas e adquirindo viaturas top de gama que de momento deixaram de se envolver em assassinatos de pessoas e a intrometer-se na vida política... é a lei do mercado do narcotráfico que chegou às casernas militares.

Por outro lado, como sempre, o problema volta a pôr-se a nível das chefias militares. A guerra dos galos está presente e em polvorosa. Em contrabalanço à guerra dos dois titãs da guerra, o General Presidente, vai mantendo em sentido a situação gerindo as rivalidade e servilidade que as duas figuras de proa da ala militar activa, o Tagmé Na Waye e José Américo Bubu Na tchut lhe dispensam. Dessa rivalidade cega o General tem sabido tirar cirúrgica e interesseiramente os devidos proveitos e manter o equilíbrio da sua magistratura e segurança. Num jogo perigoso, por um lado, o General Presidente, vai armando, financiando e cobrindo de mordomias, um, o Bubu (em quem sempre confiou e por ser, seu agente antes dos tempos da Junta Militar), e vai por outro lado, enfraquecendo e marginalizando o outro, o Tagmé, quem, apesar das aparências, não se fia que este lhe tenha perdoado a humilhação que lhe infligira aquando do caso 17 de Outubro. Neste cenário de cortar à faca, vão-se traçando armadilhas de parte a parte. Um quer "queimar" o outro com o negócio da droga e "lavar-se" assim dessa suspeita, o outro, sentindo-se "vitima", segura-lhe o seu "rabo de palha", o Iaya Dabo que como se sabe, conjuntamente com o Bacar Danado e mais dois agentes do Baciro Dabo, está envolvido no assassinato do Comodoro Lamine Sanha, e pelo que sabe, este já declarou que agiu a mando do Mano Baciro e,... este em consequência, depreende-se que tenha agido... a mando do seu eterno Boss. De momento, os dados da confrontação estão lançados e, seguramente, um dos lados há-de pisar o risco e pode surgir uma fatalidade na Guiné-Bissau. Os ingredientes de uma potencial tragédia estão lançados e creio que será uma questão de tempo para que um dos lados dê o passo fatal.

No cenário dos partidos políticos, o General Presidente não deixa em mãos alheias os seus créditos de grande manipulador e divisionista por excelência. No seio do PAIGC, para além da sua quota de dissidentes que pode representar cerca de 13/14% de peso nas decisões nos órgãos de direcção, o General Presidente, na obsessão de arredar Gomes Junior da Presidência do PAIGC, depois de "engatar" o Malam Bacai, seduziu agora o Dafa Kabi, a quem propôs uma aliança prometendo apoiá-lo no assalto ao cargo de Presidente do PAIGC. Ao Soaro como intermediário dessa sedução, foi proposto o posto de Secretário Permanente e futuro PM, caso essa ala vença a próxima corrida à presidência do Partido e as legislativas subsequentes. Esse piscar de olho ao Martinho pelo Presidente, tem em mente aliciar a ala dita "balanta" do partido e também o bloco da "Escola Piloto" que lhe é alegadamente próximo.

O resto do trabalho de disseminar a divisão e fragilização das bases e estruturas do Partido que apoiam Cadogo estará a cargo de Soaro, Daniel e Marciano, tidos até há bem pouco tempo como "fiéis de Gomes Junior e que se "mutaram" de armas e bagagens para o feudo do General. Decerto que, seguir-se-ão outros, ao que se diz, a própria Satu Camara que é apontada como figura parda desta estratégica de transmutação.

Relativamente ao PRS, o General Presidente além de já contar com os seus homens de confiança, o Sola Na Quilim, o Alberto Nambeia, o Alamara Nhassé, o Dionisio Kabi, o Artur Sanha, o Certorio NA Biote, acaba de "pescar" também o Sory Djalo graças aos "sukus di bas" irresistíveis de Baciro Dabo durante a "mediação" para a saída do decreto Presidencial de nomeação do novo Governo. No PRS a confusão está instalada e a liderança do Kumba Yala será doravante, estratégica e sucessivamente posta em causa até a sua descredibilização como político e líder da comunidade balanta.

No que toca ao PUSD, o General Presidente maquiavelicamente como é seu timbre, acrescenta ao ingrediente da sua permanente confusão, o patrocínio e sustentação do novo partido do Doutourissimo Fadul. Porém, o rosto visível da apresentação deste processo, o Rosa Ca, um indefectível do General Presidente e defensor acérrimo da teoria da supremacia papel sobre as outras etnias deixa antever a estratégia que se esconde atrás desse novo partido satélite do General Presidente na sua cruzada de esfrangalhar as estruturas dos principais partidos guineenses e promover a sua teoria de: uma só cabeça a pensar, um só homem a dirigir, um só chefe a decidir..., enfim o presidencialismo puro tal e qual o do seu vizinho e inspirador do Senegal, Maitre Abdoulaye Wade.

A criação do novo partido de Korca Embalo, o PPD vem também nessa linha de estratégia e tem em vista o aliciamento do eleitorado Fula, que fieis aos princípios da sociedade vertical, garantirão decerto um número significativo de votos para o somatório do "bornal" do "Séf".

Ressalta aqui um dado importante nas congeminações do General Presidente em esvaziar a importância, o equilíbrio e a credibilidade dos partidos políticos e por arrastamento da ANP dentro do contexto democrático da Guiné-Bissau. Essa táctica assenta num esvaziamento premeditado com o fim único de se justificar um "Absolutismo" de ideias e de decisão na Guiné-Bissau que deve ser concentrado numa só pessoa. Este papel assenta que nem uma luva, à medida e dentro da concepção daquilo que pensa o General Presidente que deve ser o "seu Estado" na Guiné-Bissau.

Por fim, resta falar da Sociedade Civil, que apesar do reconhecido esforço excepcional de alguns dos seus destacados elementos que em quaisquer circunstâncias sempre se posicionaram em prol dos supremos interesses da Guiné-Bissau, é também justo realçar, que a maioria dos seus "activos" estão porém, a tornar-se facilmente aliciáveis e basta um piscar de olhos do poder para desempenhar cargos ou usufruir de "kurus" mudam rapidamente de discurso e "bandam-se" com facilidade para o outro lado. Como reserva da sociedade o "bunker" da sociedade civil está a apresentar fissuras que pode comprometer o esforço dos seus mais dignos representantes em defender os interesses da Guiné-Bissau em todos os planos e quadrantes. É preciso, afastar-se de oportunistas, tais como, os Idriças Djalos e muitos outros que, a coberto de pretensos estados gerais e da reconciliação estão a promover a absolvição dos crimes do General e a edificação do Estado do General.

É bom porém lembrar, que num jogo de cartas, o naipe de trunfos conta muito, mas também a excelência do jogador é um dado a ter em conta. O Real Madrid em tempos e o Chelsea de Mourinho recentemente deram o exemplo, que não é por possuir Galácticos que se forma uma grande equipa e se ganham jogos. O General Presidente tem grandes trunfos e também, bons e belos argumentos, mas ainda não ganhou o jogo.

Com perseverança e coragem estamos a tempo de inverter o curso dos acontecimentos e poupar a Guiné-Bissau de uma nova tragédia de submissão de vida e pertença que poderá definitivamente enterrar as nossas raízes como Nação e Estado Democrático moderno.

Vamos continuar a contribuir.

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VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!

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