Os meandros da conspiração do dia 1 de Abril

 

Fernando Casimiro (Didinho)

didinho@sapo.pt

01.06.2010

Fernando Casimiro (Didinho)Artigo enviado para publicação e assinado por "Cidadão de Boa Vontade". Por saber quem se trata e por me ter sido solicitado, assumo total responsabilidade pelo artigo em questão, por razões que se prendem com a salvaguarda da integridade física do autor, que reside em Bissau, onde exerce a sua actividade profissional.

 

Os meandros da conspiração do dia 1 de Abril

À medida que o tempo passa, as verdades sobre o móbil e os protagonistas dos acontecimentos do dia 1 de Abril 2010 que culminaram com a detenção arbitrária do Chefe do estado-maior das Forças armadas, aparecem ao de cima.

Nunca tive dúvidas que, o que aconteceu nesta data foi simplesmente o problema do narcotráfico associado à luta no interior do PAIGC pelo controlo do poder. Mas esta convicção é reforçada cada dia que passa através de revelações públicas e nos circuitos fechados que vêm chegando aos meus ouvidos.

Depois dos acontecimentos dos dias 1 e 2 de Março 2009 e a consequente realização das eleições presidenciais, o país foi dirigido por uma aliança entre o Carlos Gomes júnior e Zamora Induta. Este último, sempre enganou o primeiro acerca do seu controlo efectivo das forças armadas enquanto uma questão crucial para o exercício do poder na Guiné-Bissau.

Não vale a pena abordar aqui o conhecido caso de droga no Cufar que esteve na origem de todo o problema onde o António Indjai é o protagonista central da aeronave que aterrou naquela localidade sul do país. O que interessa neste momento é, descortinar os contornos da cabala política e militar em curso que de certeza culminará com a demissão do governo de Carlos Gomes júnior se senão vejamos:

 

·       O primeiro-ministro não quis dar o seu aval para a nomeação do sanguinário António Indjai como chefe do estado-maior.

 

·       O presidente da república e os seus sequazes estão a aproveitar este incidente do qual são fortes cúmplices, para vingar e derrubar o teimoso Carlos Gomes júnior.

 

·       Os famigerados do PRS querem com este complot donde participaram activamente para a sua materialização, chegar ao poder em nome de um insustentável governo de consenso que irá ser legitimado pelo presidente Bacai dentro de algumas semanas, caso o Gomes júnior continuar firme nas suas posições.

 

Estes são entre outros os problemas e os planos em curso já a uma grande velocidade prestes a serem consumados. A demora do regresso do Gomes Júnior provocada segundo fontes dignas de crédito ao conselho dado pelos serviços secretos de Portugal devido aos perigos sérios de perda de vida que corre, está a apressar a consumação do seu afastamento. Aliás, as recentes declarações do presidente da república Malam Bacai Sanhá numa entrevista à Jeune Afrique onde afirma peremptoriamente que alguns políticos estão envolvidos nos assassinatos de Março 2009 é uma prova evidente desta tese.

Para já, estas declarações concertadas do presidente Sanhá com o Dr. Amine Saad, constituem de um lado uma intimação ao Gomes júnior para ser ouvido no Ministério Público e, consequentemente, o seu afastamento sob argumentos jurídicos falaciosos que estão a ser preparados pelo maquiavélico procurador Dr. Amine Michel Saad que sempre funciona ao lado da força. Do outro lado, as mesmas declarações servem ainda como forma de chantagear o primeiro-ministro para aceitar a nomeação dos barões de droga na Guiné-Bissau nomeadamente o António Indjai e Bubo Na Tchuto. Este último, já tem uma carta-branca do chamado tribunal superior militar que o ilibou das acusações de tentativa do golpe do estado em 2008. Este pseudo órgão judicial militar que no fundo é uma extensão do gabinete do estado-maior, ouviu apenas uma semana atrás o omnipotente Bubo Na Tchuto e, ontem dia 31 de Maio é ilibado de todas as acusações que impendiam contra ele sem ter ouvido as testemunhas chaves, entre elas o próprio António INDJAI que em viva voz, afirmou que foi contactado pelo Na Tchuto para subverter a ordem constitucional, para não falar das acusações do próprio promotor da justiça militar Arsénio Baldé na altura porta-voz do estado-maior e que hoje concedeu visto ao Bubo esquecendo das suas graves acusações que fez contra este.

O epicentro deste imbróglio conspiratório é sustentado juridicamente pelo terrível procurador-geral da república Dr. Amine Saad que está a acelerar os processos dos assassinatos de altas figuras do estado com o único propósito de facilitar a agenda política do Malam Bacai e os seus correligionários ávidos ao poder. Este grupo dos descontentes do PAIGC liderado pelo corrupto Soares Sambú que nunca consegue viver fora das rédeas do poder, tanto assim, nunca poupou esforços para esmagar e afastar o Gomes Júnior.

Hoje, a estratégia é imputar ao Carlos Gomes Júnior a responsabilidade moral dos assassinatos para depois afastá-lo da governação de certo sucesso que tem feito em comparação com os anteriores governos. Se é verdade que o Gomes júnior tem responsabilidade moral nestes assassinatos sobretudo do caso 5 de Junho, no mínimo, seria uma loucura e insensatez do Dr. Amine Saad e Malam Bacai Sanhá de tentar em vão ilibar o sanguinário António Indjai nestes assassinatos criminosos imputando-os exclusivamente ao Zamora Induta e CADOGO. É do conhecimento público que o Indjai foi quem supostamente orientou as operações que matou a sangue frio o presidente Vieira, para além das suas responsabilidades noutras mortes.  

Eu, não sou partidário do CADOGO muito menos do Zamora Induta, aliás acho que a aliança entre os dois dificultava sobremaneira a cooperação estratégica que deve existir entre os órgãos de soberania. O Zamora é um ambicioso e sanguinário também, mas ele era um interlocutor lúcido e moderado disposto a levar avante uma reforma profunda nas forças armadas. Contudo, era visto pelo presidente Sanhá como uma ameaça à sua afirmação enquanto presidente da república, pois ele só obedecia as orientações do Gomes Júnior com quem tinham jurado mutuamente fidelidade.

O presidente da república está atrapalhado ao ponto de usurpar as competências dos órgãos judiciais em anunciar que existem políticos envolvidos nos assassinatos. Estas suas declarações são o prenúncio da instabilidade política no país porque com a queda do governo, e a nomeação dos dois barões de droga nas chefias militares teremos o narcoestado consolidado, em consequência a comunidade internacional abandonará a Guiné-Bissau. Neste momento os principais colaboradores do Bubo Na Tchuto no cartel da droga que abandonaram o país depois da sua partida para Gâmbia, estão a regressar em massa para ocuparem os respectivos postos ministeriais que lhes são confiados.

Porquanto, quero com este exercício advertir e aconselhar seriamente o presidente Malam, que, a aliança que está a ser empurrada é extremamente perigosa para o seu futuro político e para os guineenses em geral. Trata-se de uma aliança insustentável que poderá conduzir o país a uma situação de colapso total e até uma guerra civil com contornos imprevisíveis.

 Sr. Presidente, é preciso ponderação, acima de tudo coragem para salvaguardar os interesses superiores do país caso contrário, o nosso futuro comum ficará irremediavelmente comprometido e não será imune de responsabilidades.

 Em nome do interesse superior do país!

Cidadão de Boa vontade


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