O Silêncio dos Tabanka Djaz Grita nos meus Ouvidos

(Ponto de Vista)

 

“Si bu sta dianti na luta, passa dianti pô, finkanda purmeru dubi i kasa ke nô misti Kumpu.”

 

Zé Carlos

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Rui Jorge  da Conceição Gomes Semedo

 

rjogos18@yahoo.com.br

 

27.02.2010

 

 

Rui Jorge SemedoOito anos nos separam do lançamento do último álbum dos Tabanka Djaz, (Sintimento 2002), e a força da saudade me obrigou a rabiscar algumas linhas reflexivas para expressar sentimento de admiração e de apreço que tenho pelo trabalho dos Tabanka Djaz, e, sobretudo, igualmente aproveitar para lhes dar “empurrões” nas costas e dizer-lhes que devem continuar a proporcionar-nos as suas agradáveis e ricas ofertas musicais.  

 

O surgimento dos Tabanka Djaz nos finais da década de 1980, mais precisamente em 1989, foi crucial em dar fôlego de continuidade à existência no país de um grupo musical de valor. Contribuindo assim largamente para não deixar morrer a semente que brotou dos solos férteis dos fantásticos Cobiana Djaz, Mama-Djombo, N´kassa Cobra, África Livre, Capa Negra, Tchifri Pretu, etc., grupos que na sua maioria desapareceram na senda do entretenimento nacional e internacional devido a fatores de várias ordens que aqui escuso abordar.

 

Infelizmente, apesar de não ter tido a sorte de acompanhar e vivenciar as atuações desses grupos pioneiros, devido à minha tenra idade na época, hoje como amante da música, faço de suas obras musicais e não só, uma fonte de concentração e de inspiração para poder produzir meus trabalhos. São músicas que penetram o meu coração e fazem fluir o meu imaginário num frenético exercício de tentar minimamente entender a realidade em redor.  

 

A meu ver, Tabanka Djaz é uma das grandes maravilhas em termos da cultura guineense, apesar de não ter tido o merecido reconhecimento nacional, isso tanto da parte da grande massa, como da do poder político representado pela tutela da cultura. Aliás, esse último nunca investiu de forma séria e responsável na promoção dos valores culturais, nesse sentido, vale dizer que tanto quanto os Tabanka Djaz inúmeros grupos, indivíduos e outros setores da cultura também sofrem com a ausência de uma política clara e responsável que valorize e dê espaço à produção e crescimento da cultura nacional.

 Em relação à grande massa talvez os sacrifícios do quotidiano aliado ao elevado índice do analfabetismo a obrigue a desinteressar-se em procurar na cultura um elemento libertador e sinalizador dos passos para uma independência efetiva.

 

O país precisa acompanhar mais de perto seus homens de cultura, vibrar com eles em uníssono e fazer deles (músicos, escritores, escultores, pintores, artesões, cineastas, etc) verdadeiros embaixadores e representantes da nossa identidade. Pois é nas suas produções que se expressam os sentimentos da paz, da alegria, do amor, do trabalho, e podem ser considerados vozes da linha da frente na luta ante a violência humana, animal e ambiental.

Onde estão os Tabanka Djaz? Será que o grupo se desfez? Quando é que voltarão a aparecer no mercado discográfico? Essas são na verdade, entre outras, as indagações que frequentemente a grande maioria dos fãs guineenses dessa prestigiada orquestra que proporcionou aos verdadeiros amantes da música momentos ímpares de gloria costuma colocar.

 

Inegavelmente, sua contribuição musical marcou uma nova fase no processo da inovação, divulgação e promoção do Gumbé. Um grupo fantástico que saiu de uma animação dos bares e discotecas de Bissau para conquistar os palcos mundiais, tanto nos Palops e/ou na CPLP quanto nos outros mercados onde a música guineense até então era pouco conhecida e divulgada. No entanto, esse projeto vencedor cheio de profissionalismo foi impulsionado por Micas Cabral, Juvenal Cabral, Jânio Barbosa, Carlos Barbosa e Dinho Silva e, obviamente, sem esquecer que na fase embrionária contou com nomes como Aguinaldo Pina, José Carlos Cabral e Rui Silva.

 

Após o incontestável sucesso que resultou na produção de quatro Cd´s a começar pelo Tabanka (1990); Indimigo (1994); Sperança (1996) e Sintimento (2002) várias digressões pelo mundo e prêmios conquistados marcaram momentos de grandes êxitos do grupo.

 

 

Como a vida nos obriga a conviver com o bom e o mau momento, em 2006 os Tabanka Djaz sofreram um duro golpe com o desaparecimento físico de um de seus elementos, o maestro Carlos Medeiros Barbosa (Calosinho). Desse período a esta data o grupo se remeteu quase que a um silêncio absoluto, sem mais oferecer um trabalho aos fãs que ansiosamente continuam à espera.

 

De certa forma, a participação individual de seus elementos nos projetos musicais continua a ser um estímulo, na medida em que nos permite acompanhar parte de seus trabalhos. Particularmente, continuo a acreditar e vou sempre acreditar que os Tabanka Djaz ainda vão proporcionar aos guineenses e aos amantes da música e da cultura grandes momentos, aliás, essa seria a mais pura e eterna homenagem de recordar Calosinho e Rui Silva. E estes, com certeza, por onde estiverem, se sentiriam bem pelo fato de os colegas continuarem a fazer o que eles mais gostavam e que tinha grande significado nas suas vidas.   

 

De acordo com a Secretaria de Estado dos Desportos e Cultura, este ano será organizado o Festival Nacional da Cultura (FESNAC), provavelmente em maio, e a sociedade guineense se sentiria honrada em ter nesse evento a presença dos Tabanka Djaz, tendo em conta que há muito que não se tem a oportunidade de vibrar em Bissau com os sons do grupo.

 

Logicamente que será uma oportunidade ímpar de reencontrar grandes nomes da música nacional e poder proporcionar aos guineenses momentos inesquecíveis de entretenimento.  Lembro-me que a última vez que tive o privilégio de assistir a uma atuação dos Tabanka Djaz foi em 1997, em Bissau, no ex-Hotti Hotel e foi uma noite inesquecível e indescritível. E, nessa noite só não tive uma oportunidade: a de poder apertar as mãos de todos os elementos dos Tabanka Djaz e dizer-lhes: vocês merecem a minha admiração e respeito! Afinal, isso era apenas uma questão de tempo, hoje tenho esta oportunidade de manifestar e poder dar-lhes com as palavras expressas neste texto um grande abraço de admiração e carinho.  

 

Se me permitem, gostaria de dizer que sempre tenho admirado os guineenses produtores da arte e cultura, aqueles que honesta e profissionalmente atuam não para ganhar indevidamente o dinheiro, mas para produzir e valorizar esta nobre e mais antiga arte que é a música. Força Tabanka Djaz, força na sua caminhada, o seu compromisso com esta sociedade é grande e mais êxitos ainda virão.   

 

Tabanka Djaz

 


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