O REGRESSO DOS QUADROS: UM INTERESSANTE COMENTÁRIO DO EMBAIXADOR GIL FERNANDES

 

Fernando Casimiro (Didinho)

didinho@sapo.pt

18.10.2009

Fernando Casimiro (Didinho)Recebi ontem, 17, um comentário do Dr. Gil Fernandes, destacada figura da diplomacia guineense dos tempos da luta de libertação nacional e do pós-independência.

A luta de libertação nacional, contrariamente ao que algumas pessoas pensam, não foi bem sucedida unicamente pelo poder das armas. Cabral tinha os seus emissários de confiança que nos  corredores internacionais tudo faziam para conquistar o tal apoio internacional essencial para a sustentação da luta armada e, consequentemente, para a afirmação e aceitação do PAIGC como único e legítimo representante dos povos da Guiné e de Cabo-Verde.

O embaixador Gil Fernandes era um dos homens de confiança de Cabral nessa tarefa, tal como o Dr. Victor Saúde Maria, o embaixador Inácio Semedo Jr., dentre um grupo restrito de pessoas capazes, habilidosas na arte de falar e de representar condignamente.

Se durante a luta de libertação nacional a implementação da diplomacia era vital para o PAIGC, com a proclamação da independência tornava-se fundamental dar seguimento às conquistas possibilitadas por essa acção diplomática.

Isso foi feito e a Guiné-Bissau tornou-se num caso de sucesso em todo o mundo, pois essa diplomacia elevou bem alto todo um percurso libertador justificado como sendo um acto de cultura.

O comentário enviado pelo embaixador Gil Fernandes, a propósito do meu artigo "RUI JORGE SEMEDO, UM DOS MELHORES EXEMPLOS DOS NOVOS VALORES GUINEENSES!", aborda no geral, a questão do regresso dos quadros guineenses. Um assunto sempre na ordem do dia e por diversas vezes referenciado no nosso site por diversos colaboradores.

Ao ler o interessante comentário do embaixador Gil Fernandes, não posso negar que, na verdade, gente qualificada incomoda!

Não é difícil perceber que a Guiné-Bissau, abdicando dos seus melhores quadros, continuará a marcar passo.

Há muitos quadros dispostos a regressar para trabalhar honestamente, ajudando nas suas áreas de formação, sem exigirem cargos e mordomias, mas são-lhes bloqueadas todas as portas, pois aos "donos do poder" não interessa haver na Guiné-Bissau quadros capazes, honestos e que pensam pelas suas próprias cabeças.

Também não interessa aos quadros medíocres o regresso de guineenses mais capacitados!

Na Guiné-Bissau de hoje, alguns quadros capazes fazem parte da governação, é verdade, mas a maioria deles presta vassalagem aos "donos do poder", chegando a defini-los como seus patrões, pois alegam que são eles quem lhes paga os ordenados, o que é totalmente descabido, pois quem paga os ordenados aos funcionários públicos é o Estado e não o Presidente da República ou o Primeiro-Ministro...

Na Guiné-Bissau de hoje vemos alguns quadros capazes, é certo, que antes de estarem na governação criticavam o "sistema", apontavam o dedo a este e aquele; manifestavam-se comprometidos com o interesse nacional e...chamados pelos "donos do poder", esqueceram-se do compromisso para com o país, já não apontam o dedo a ninguém e, toca a aprender como enriquecer da noite para o dia.

Estando na governação ou nas estruturas afins, já se começa a pensar permanecer eternamente no cargo e ninguém quer ouvir falar do regresso dos que estão no exterior, pois quanto menos concorrência, mais garantias de permanência no cargo.

É vergonhoso o que se constata desta triste realidade!

Deve-se continuar a debater esta questão, a bem dos interesses da Guiné-Bissau, pois com incompetentes não há desenvolvimento!

Vamos continuar a trabalhar!

 

COMENTÁRIO DO EMBAIXADOR GIL FERNANDES

Dr. Gil Fernandes

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Olá Didinho:

Acabo de ler no site as suas palavras de encorajamento ao Rui Jorge. Enquanto houver jovens como ele, haverá esperança para esse martirizado país. Ao ler essas palavras lembrei-me de um poema que li em Dakar nos anos sessenta – imagine.

O poema é atribuído ao rei de “Abomei” e dizia  qualquer  coisa como....” se todos os filhos do reino regressassem e contribuíssem com um só dedo para tapar os buracos do cântaro que está vertendo água, - o Reino seria salvo.”

Como deve saber, aquando do golpe do Nino Vieira eu era embaixador da Guiné-Bissau em Washington e na ONU. Escrevi uma carta ao Nino pedindo imediatamente a minha demissão. Conhecendo bem o Nino, eu sabia que era puro oportunismo político. Ciente também das deficiências acadêmicas e morais dele, tive a certeza que a Guiné tinha pisado num plano inclinado que a levaria inevitavelmente ao fundo do poço, Nino incluído.

Entrei no sistema da ONU como alto funcionário. Aposentei-me quatorze anos depois.

Fui a Bissau oferecer os meus dedos ao Ansumane para tapar alguns buracos do cântaro.

Festas, recepções, promessas, boas-vindas etc. etc. Emails. telefones, endereços foram trocados.

O Ansumane teve o fim que todos sabemos.

Volto para Guiné anos depois sob o actual governo, presidido então por Henrique Rosa, para oferecer de novo os meus dedos para tapar alguns buracos do tal cântaro que agora jorrava água por todos os lados. Boas-vindas, promessas, recepções, festas, etc etc. Endereços, emails, telefones, trocados.

O Nino sai do poço, volta ao poder - teve o fim que todos sabemos.

Não quero de maneira nenhuma desencorajar o Rui - mas será que esse cântaro ainda tem conserto quando gente qualificada incomoda?

Rezemos.

Gil Fernandes

Joinville, 17/10/09

 

RUI JORGE SEMEDO, UM DOS MELHORES EXEMPLOS DOS NOVOS VALORES GUINEENSES! Didinho 08.10.2009

O REGRESSO DOS QUADROS... Samuel Vieira  04.07.2009

 

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