OPORTUNISMO VERSUS RESPONSABILIDADE NO USO DO ESPAÇO PÚBLICO

 

Djodji (o primeiro)

14.04.2009
 

Pessoalmente, prefiro dirigir críticas nomeando os criticados, dando-lhes assim hipótese de defesa ou até de me processarem em termos cíveis ou criminais, se for caso disso. O facto de escrever com pseudónimo não quer dizer que não me apresento ou que não possa ser responsabilizado pelas minhas críticas.

Critico directamente o Sr. Fadul, porque tenho como me defender em termos legais, se for caso disso. É claro que o Sr. Fadul também tem a coragem de expressar as suas ideias. Errado é fazer o uso do título de Presidente do Tribunal de Contas de um país e Presidente de um partido político (ainda está por esclarecer a legalidade do acumular dessas duas funções!) e do seu estatuto de vítima recém espancado, para lançar suspeitas, em vários órgãos de comunicação social de um país estrangeiro, apenas com base nas suas convicções pessoais, porque provas ninguém as viu.

Com isso, não quero de forma alguma rejeitar as hipóteses levantadas e defendidas por esse homem. Mas, o estatuto político e social guineense do Sr. Fadul exige que ele tenha mais correcção na forma de denunciar, sob pena de expor para além das nossas fronteiras, a leviandade e a ausência de carácter dos nossos políticos e, particularmente, do nosso Presidente do Tribunal de Contas.

Torna-se oportuno perguntar “que imagem para a Guiné-Bissau”!?

Ou seja, se o Sr. Fadul tem na sua posse os dados que corroboram a sua tese sobre os autores do duplo assassinato na Guiné-Bissau, que aja de forma mais responsável, aquela que o seu estatuto político e social guineense exige, solicitando reuniões ao mais alto nível com as autoridades da ONU, ou da dita comunidade internacional, expondo e defendendo a sua tese e, ainda, solicitando directamente, a rápida intervenção desses organismos internacionais.

Mesmo que venha a ser feita essa denúncia, não deixa de pecar por tardia, porque, após as primeiras eleições e nomeações democráticas que o nosso país conheceu, várias foram as atrocidades cometidas pelos militares, incluindo a que levou o próprio Sr. Fadul a ser indicado como Primeiro-Ministro de Transição, sem que o próprio tenha tido a frontalidade de recusar o cargo e propor a intervenção da ONU, com o objectivo de encontrarmos a paz e a estabilização permanente do país.

 Depois disso, sucederam-se vários atropelos à Carta Magna e à independência da actuação dos representantes do Estado, não me tornando jamais fastidioso exemplificar com a invasão do nosso espaço aéreo por um aparelho militar de outro Estado, com um mercenário a bordo, que viria a tornar-se Presidente da República, saído de umas eleições no mínimo polémicas e transformando o Sr. Fadul como conselheiro pessoal, equiparado a um chefe de governo e com todas as regalias de um Primeiro-Ministro.

Conhecem a maior afronta ao poder democrático (ou seja, atribuído pelo povo) que essa total desobediência aos governantes eleitos!? Já não me lembro quem foi o autor da frase “ se vires a liberdade alheia a ser violada e não agires, quando chegar a vez de defenderes a tua própria liberdade, poderá ser tarde”, mas aplica-se muito bem ao Sr. Fadul.

Sinceramente, tenho muita pena que a bravura anti-Ninista do Sr. Fadul, que outrora levou-o a assumir o cargo de Primeiro-Ministro de transição e a conceder entrevistas acusando-o de actos criminosos, se tenha atenuado com a possibilidade da sua nomeação para cargos com regalias não atingíveis para muitos quadros guineenses que fizeram os seus percursos académicos de forma linear e exemplar, sem necessitando de ajudas de amigos bem posicionados na sociedade portuguesa.

 Se o Sr. Fadul fosse um homem com rigor de carácter como defende, jamais aceitaria ser conselheiro de um ditador suspeito e publicamente responsabilizado por muitos guineenses e pelo próprio Fadul, por inúmeros crimes acontecidos na Guiné-Bissau, antes que este fosse julgado e cumprisse um castigo, ou fosse absolvido pelas instâncias da justiça guineense. 

Na minha óptica, é oportunismo sim, aproveitar o estatuto de vítima de espancamento e, ainda, das facilidades que os amigos portugueses lhe concederam via comunicação social portuguesa, para lançar a informação em primeira mão da sua candidatura à Presidência da República da Guiné-Bissau, enquanto acusa um dos possíveis adversários, de assassinato do Ex-Presidente da República e do Ex-CEMGFA.

Não tenho nenhum candidato predilecto, mas sem dúvida que não será o Sr. Fadul!!! Também vos garanto que se houvesse algum candidato cujo perfil, percurso pessoal, profissional e político me preenchessem, estaria aqui a escrever para o defender, sem quaisquer complexos.

Olhando para o percurso pessoal e político do Sr. Fadul, não há forma de não aplicar-lhe o rótulo de “Surfista”, ou seja, aquele que se posiciona conforme a onda.

Não tenho como discordar que o Sr. Fadul tem tido a coragem de expressar as suas ideias. Pena é que as suas ideias têm cambiado conforme as necessidades pessoais… Também não tenho como discordar que Fadul foi um duro crítico do regime de Nino Vieira, e teve a coragem de assumir o cargo de Primeiro-Ministro de Transição, mas convém acrescentar que, toda essa coragem tinha por trás actos militares comandados pelo malogrado Brigadeiro Ansumane Mané, possivelmente como CADOGO está a actuar hoje.

Vamos continuar a ser responsáveis no uso do espaço público, quer sejamos simples cidadãos, quer sejamos políticos ou governantes, sendo que estes últimos ainda devem ter maior responsabilidade e cautela na forma como usam esse espaço, principalmente quando está em causa acusações que podem agravar a já frágil situação sócio-política guineense.

Djarama Contributo.


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