O golpe do general António Indjai

 

José Gama *

josegama99@gmail.com

01.04.2010

José GamaEm finais do ano passado haviam indicadores de tendências retalhadoras em meios militares guineenses antecedidas de desconfianças que levavam o Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, tenente-general, José Zamora Induta a pernoitar próximo à fronteira de São Vicente, por alegadas razões de segurança. Chegou a declinar, em meados do ano passado, uma convocatória na embaixada de Angola, alegando questões de segurança. (Angola presta atenção especial a este país, em Janeiro despachou, para Bissau um operativo do SIE, Luis Mateus Santos para trabalhar na missão diplomática)

A atitude de Zamora Induta foi compreendida em meios competentes, que o consideravam como a autoridade guineense que mais dominava a informação de ocorrência militar e civil no país. Chegou a ter o seu próprio braço privado de inteligência por intermédio de redes habilitadas que lhe são fieis. Era na pratica, um co-presidente para a área da defesa e segurança. As suas informações falharam num dado, ao conformar-se que gozava da fidelidade do seu adjunto, o major general António Indjai.

António Indjai foi também adjunto do falecido general Baptista Tagme Na Waie quem dirigiu os militares revoltado que retalharam a morte do seu antigo chefe matando o então presidente Nino Vieira, na sua residência. Indjai é o comandante do batalhão de Mansoa, situado a cerca de 60 KM da zona norte de Bissau (com maior numero de efectivos). Na Guine-Bissau o mais poderoso entre os militares é a figura militar que comanda o batalhão de Mansoa.

No seguimento da Morte de Tagme Na Waie, António Indjai viu-se ofuscado pelo então capitão de mar e guerra, Zamora Induta que diante do duplo assassinato de Tagme e Nino proclamou-se porta voz do exército. Em condições normais era, António Indjai quem deveria assumir interinamente a chefia da forças militares diante o vazio verificado. Não foi isso que aconteceu, o primeiro Ministro Carlos Gomes Júnior, moveu influência colocando José Zamora Induta como novo CEMGFA e António Indjai como seu vice. Ignoraram que é Indjai a figura mais poderosa naquele país (por ter o batalhão de Mansoa). As autoridades terão ignorado este detalhe.

O “mais velho”, António Indjai que é um veterano de guerra terá iludido, o “miúdo” Zamora Induta fazendo lhe crer que lhe prestava lealdade. Não souberam identificar os seus interesses pessoas para satisfazer. Em conseqüência, António Indjai começou, em finais de 2009, a manter ligações com Bubo Na Tchuto que se encontrava na Gâmbia refugiado por alegadas perseguições.

António Indjai enquanto Vice do CEMGFA ajudou o Almirante Bubo Na Tchuto a regressar ao país no sentido de se materializar um assalto militar que terá falhado. O Almirante entrou com ajuda de uma Canoa, foi a sua casa vestir a farda e se dirigiu ao estado maior da marinha. Tinha como objectivo primário destruir ou queimar o paiol de armas próximo a base aérea de Bissalanca, que é o maior no país. Seria, uma medida para deixar desarmado os seus adversários. Desistiu do plano, na sequência de sugestões segundo a qual, ao invés de prosseguir com a acção deveria reclamar de volta, junto as autoridades, o seu cargo de chefe de estado da marinha. Em reação, as autoridades na pessoa de Zamora Induta e de Carlos Gomes Junior decidiram prende-lo provocando a sua fuga na sede das Nações Unidas enquanto que cerca de sete elementos que consigo estavam foram presos e interrogados.

Nas ultimas semanas, o major general Antonio Indjai havia sido despachado para Cuba em tratamento medico . Não havendo voo directo de Bissau para Havana o lógico seria partir para a fronteira mais próxima e de seguida pegar um avião no país vizinho e seguir o destino preconizado . As analises sugerem que o mesmo não terá chegado a viajar e que terá se mantido algures. Na manha de Quinta feira, surpreendeu as pessoas ao aparecer a chefiar movimentações militares.

O que se conclui é que o mesmo terá simulado ausência do país para por detrás mandar soltar o Almirante Bubo Na Tchuto que se encontrava refugiado na sede das Nações Unidas e este por sua vez dar um “golpe militar”, eliminando o Chefe de Estado Maior, Zamora Induta para de seguida, Antonio Indjai ser declarado novo CEMGFA pelos golpistas.

Isto é, as 10h30 de Quinta feira, militares afectos a Antonio Indjai invadiram o Gabinete do Primeiro Ministro, Carlos Gomes Júnior e levaram lhe para a base de Amora. Em simultâneo um grupo de militares dirigiu-se a sede nas Unidas em Bissau para dali remover o antigo chefe da Armada, José Américo Bubo Na Tchuto que de seguida foi ao Estado Maior da Marinha. Passados 55 minutos, da detenção do PM, os militares soltaram o Primeiro Ministro levando-o de volta para o Palácio do Governo. António Indjai que é agora o novo líder das forças militares ameaça matar o primeiro Ministro em resposta a manifestação da população que saiu a rua em solidariedade deste.

Em paralelo as movimentações militares, foi verificado que o CEMGFA, tenente-general José Zamora Induta estava incontactável. Um dos seus telemóveis dava desligado enquanto que o outro, a ligação caia na mensageira. Há informação de que o mesmo esta detido na base aérea de Bissalanca. Na linguagem militar adaptada ao procedimento da forma de acção dos militares guineense é sinônimo de que estará ou poderá ser abatido. Aconteceu com o ex- chefe da junta militar, Ansumane Mané, nesta mesma quando no passado, os seus colegas golpistas (Veríssimo Seabra, Zamora Induta e etc.) torturam lhe acabando por lhe matar após ter sido detido. Foi depois declarado morto na sequencia de uma suposta fuga.

A situação da Guine Bissau é seguramente a queda do governo de CADOGO, conforme é também conhecido . Quanto ao futuro perspectiva-se a formação de um governo de incitativa presidencial. Braima Camara “Ba Kekuto” que sempre foi visto como o preferido do Presidente Malan Bacai Sanha para este cargo.

 

* José Gama é  representante na África do Sul do Clube dos angolanos no exterior www.club-k.net

- Formado em Geofísica pela Tuks University em Pretória, com distinção em Física Moderna
- É  finalista do curso de Relações Internacionais pela University of South Africa.
- É articulista do Jornal Angolense e tem comentado para SABC Internacional, televisão sul africana  sobre política externa.


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