O ESTADO DA SAÚDE NOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

 

Prof. Joaquim Tavares

J.TAVARES, MD, FCCP, FAASM

joaquim.tavares15@gmail.com

02.10.2008

 

Quem quer que venha a ser o próximo presidente dos Estados Unidos (Obama ou McCain), terá uma dura tarefa de tentar endireitar a saúde nos Estados Unidos; alguém

disse que tentar corrigir os excessos e desmandos que se verificam a todos os níveis (doentes, médicos, seguradoras de saúde e hospitais) é como tentar tirar uma comida de

biliões de dólares da boca de um leão...sem exageros.

 

1- O PACIENTE/UTENTE

Como doente, as opções são:

1.1 - Não ter seguro de saúde: um exemplo de um doente de que eu fazia parte da equipa que lhe tratou há 6 anos quando foi admitido com choque séptico; depois de uma estadia

de 30 dias no hospital, recebeu as contas do hospital e dos médicos que tomaram conta dele; do hospital, a quantia a pagar era de 235.000 dólares!!! Felizmente para o doente, o

facto de ser um arquitecto de sucesso permitiu-lhe negociar um plano de pagamento (ainda hoje está a pagar as contas); mas, muitos outros doentes não têm meios e têm que

declarar a bakrupcy (bancarrota), vender as suas casas ou ir às poupanças...

 

1.2 - Ter um seguro privado que pode ser HMO (Health Maintenance Organization), significa que podes ser visto só por médicos que têm contrato com essa seguradora - ou PPO (podes consultar um médico fora do grupo, mas tens que pagar, obviamente); mesmo assim, não é barato; como exemplo, a minha família tem um HMO com opção de PPO e pago 934 dólares s mensais por este pacote.

 

1.3 - Se tens mais de 65 anos, o governo dá uma segurança (Medicare) que cobre tudo, excepto os medicamentos (geralmente, enquanto estás a trabalhar, cada mês, o governo tira um montante do teu ordenado para cobrir o teu seguro depois dos 65 anos de idade; o único problema é que com o envelhecimento da geração “Baby Boom” (a geração nascida logo após a segunda guerra mundial), o Medicare irá à falência por volta de 20020 - (?) Quem irá pagar pelos cuidados médicos dos idosos nessa altura? Se pertences ao grupo dos”pobres”- salário mensal de menos de 1500 dólares (salvo erro) o governo dá-te um seguro que é o Medicaid que cobre os cuidados médicos básicos.

 

1.4 - Obter o seguro através do emprego (o patrão contribui com 15% e tu dás o resto); se perdes o emprego, lá se vai o seguro...

 

2- O MÉDICO/PROVEDOR

Não há dúvidas de que os médicos dedicam muitas horas (de 48 a mais de 86 horas semanais de trabalho) e merecem ser compensados; mas há muita gente que pensa que o salário é demasiado; vou resumir a tabela que acompanha este texto (da Magazine Medical Economics):

Salário médio de um obstetra (antes de pagar aos empregados e outras contas = 500.000 dólares anuais – à volta de 40.000 dólares mensais; depois de pagar tudo, o liquido é de 220.00 dólares anuais – à volta de18,800 dólares mensais). Dependendo das horas trabalhadas, pode ir a mais de 50.000 dólares mensais (liquidos).

Podem também ver na tabela o ordenado médio para um cardiologista invasivo (liquido de 30.000 dólares mensais; pode ir a 100.000 dólares mensais, dependendo do volume de pacientes). Paradoxalmente, um médico interno (o que mais trabalha, na minha opinião) está no escalão mais baixo, com o salário mensal entre 9.000 dólares a 25.00 dólares mensais (há excepções que vão aos 30.000).

Donde vem todo este dinheiro? Do governo (Medicare), das seguradoras privadas, dos doentes.

Por isso, mesmo dentro da comunidade médica de raça negra, há certas reticências, porque o Obama prometeu aumentar os impostos às pessoas que ganham mais de 22.000 dólares mensais (à volta de 250.00 dólares anuais); ou seja, 5% da população. A questão que vejo muitos colegas afro-americanos colocarem é: vamos ser leais a um afro-americano ou vamos ser leais ao nosso salário?

 

3- SEGURADORAS

São negócios de biliões de dólares, com directores ganhando balúrdios; o lema das seguradoras: encurtar a estadia dos doentes nos hospitais, evitar/negar o máximo de testes /exames possíveis e aumentar os prémios que os utentes devem pagar; no fim do ano, quanto mais sucesso tiverem nas estratégias acima mencionadas, mais bónus recebem os directores e médicos que trabalham para a companhia.

Têm contratos com certos hospitais onde os seus associados recebem descontos avultados quando são admitidos; se és associado e fores para um hospital errado, estás tramado (vais pagar a conta toda).

Tenho a certeza que ninguém vai chorar se o Obama ou o McCain tentarem diminuir a influência destas seguradoras privadas.

 

4- HOSPITAIS

A maioria dos hospitais são privados; alguns são hospitais do Estado (ainda tem que se pagar, mas como são subsidiados pelo Estado, alguns pacientes não pagam), ou dos veteranos, onde todo o serviço é grátis (o senão é que os doentes não podem fazer queixas de indemnização contra o médico!!!).

Os hospitais também fazem parte de um negócio muito lucrativo e os directores ganham muito bem.

Como se pode ver, o novo presidente vai ter as mãos cheias, porque tentar mudar muito do que aqui se falou, vai mexer com muitos estilos de vida...

Um conselho aos guineenses que vivem aqui nos Estados Unidos: antes de aceitarem um emprego, a primeira pergunta a fazer: há seguro de saúde?

Infelizmente aqui, quando se tem dinheiro, pode-se ter todas as mordomias e sofisticações das últimas tecnologias em medicina; quando não se tem dinheiro ou seguro de saúde, muitas pessoas até evitam de ir ao médico.

Felizmente, qualquer criança nascida nos Estados Unidos, tem, automaticamente, protecção de seguro de saúde até à idade adulta.

Não foi assim que Hipócrates idealizou a Medicina!

 

 


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