O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DAS NOSSAS CRIANÇAS (2)

Filipe Sanhá *

filipesanha@iol.pt

15.12.2009

Filipe SanháNo meu primeiro artigo, neste segmento, sobre esta temática, abordara o papel destacável do Mestre Jean Piaget, bem como uma pequena alusão a um outro grande Mestre, Sigmund Freud. Dissera que os dois são os mais proeminentes teóricos que investigaram este domínio, com uma profunda assertividade. Na verdade não podemos estar alheios e indiferentes a algumas críticas rotulantes de que a Psicologia, nomeadamente, a Psicanálise, é um luxo e destina-se aos mais bem posicionados na esfera social e económica. Nada mais falso! A Psicologia faz parte da vida dos homens, mesmo sem se aperceber disso ou sem conhecimentos científicos específicos. Hoje irei viajar nas teses do Mestre de Viena, porque sem esta “insurreição” nessas teses, o trabalho que pretendo empreender a seguir, estaria incompleto, sob ponto de vista de conceitos e de justiça. Deste modo, Freud, nas suas investigações sobre o nascimento e desenvolvimento da inteligência, posiciona-se, inequivocamente, como um dos “ dinossauros” da Psicologia.

 

 Na realidade a psicanálise afigura-se-me como uma das ciências que mais revolucionou o século XIX. Sigmund Freud, seu fundador pode ser comparado aos grandes obreiros da história da humanidade, tais como Copérnio, que estudara e concluira que a Terra não era o Centro do Universo e Darwin que defendera a ideia de que o homem não era o elemento fulcral do mundo animal. Embora alguns autores a defendessem como uma razão ocidental, penso que ela é transversal a todas as civilizações do nosso planeta. O que ela exige, antes de tudo, é uma tradução e adaptação às realidades culturais e históricas de cada civilização e cultura. O grande mérito das suas teses e teorias, prende-se com a questão do inconsciente. Pensava-se, e isso era defendido em todas as escolas da época, que a substância do ser se limitava ao consciente. Foi uma ousadia científica destacável desafiar essas teses defendidas pelos grandes pensadores, antes e durante esse período. Em consequência disso, Freud, foi, injustamente, rotulado de louco e outros adjectivos menos abonatórios, por defender que a parte mais significativa do homem é a que não se vê, não se apalpa, mas que comanda a nossa vida psíquica, a que deu o nome do inconsciente. Ao destacar esta importante descoberta, associou-lhe outra variável de extrema importância e significado, ou seja, a sexualidade, como factor primordial na explicação do fenómeno do recalcamento e de substituição. A sua explicação sobre sexualidade infantil quase lhe ditara a “sentença de morte” nas hostes científicas oponentes do seu tempo. Na verdade o cientista afirmara com precisão de que a criança não é inocente e assexuada, como se pensava ser, mas pelo contrário, existe na criança uma manifestação sexual, evidente. Para ele o esquecimento da nossa sexualidade infantil deve-se, fundamentalmente, a dois fenómenos: amnésia e educação. Esta importância atribuída à sexualidade infantil levou – o ao estabelecimento de estádios/fases do seu desenvolvimento, em oral, sádico - anal e fálico, como pré - genitais, seguidos do período de latência e fase genital. O modo de alimentação, porque a boca como zona erógena manifestando-se no reflexo de sucção, é descrita como estádio oral. O estádio sádico – anal manifesta-se através da evacuação e excitação da mucosa anal e o fálico através dos órgãos genitais. O período de latência é fase de dessexualização e recalcamento e está ligado à educação e a idade escolar. Na puberdade, que ocorre já na sexualidade adulta, deu-lhe o nome de fase genital. A libido ou seja os impulsos sexuais nos adultos e crianças, provem da mesma fonte, embora na criança as suas características sejam, ligeiramente, diferentes, por serem inconscientes e auto-eróticos. Para muitos autores, o mestre de Viena, tinha no inconsciente, uma procura constante de prazer, nomeadamente o sexual, passando a ser instituídos como princípios. O princípio do prazer seria o comportamento acabado de ser explicado e o princípio da realidade, que, em função da necessidade de acomodação ao mundo exterior surge como uma modificação do princípio do prazer. A forma subtil como a criança canaliza a sua energia sexual para objectos socialmente úteis e adequados à realidade, sob a forma idealizada, chamou-lhe sublimação, que seria o corolário de realizações sociais, culturais e estéticas.

 

Em qualquer um dos dois proeminentes estudiosos, encontramos uma preocupação com o desenvolvimento intelectual e social da criança.

Destaco que não será, forçosamente, indispensável a realização e passagem de todas as crianças, por todas as fases, de forma sequencial, obrigatória. Isto, porquê? A psicologia diferencial, dá-nos uma mão nesta reflexão, porque há crianças, que pelas suas características diferenciadas e específicas, “surpreendem - nos”, com desempenhos excepcionais, a que podemos chamar de talentos, porque são manifestações comportamentais que se situam fora da mediana da sua faixa etária. Sabemos que a escola, como entidade/instituição formal versa, essencialmente, sobre essa mediana, a que a pré-primária também não consegue fugir. Todas as que lhe “ fogem”, são um “ problema”, ou seja, abaixo e acima da mediana são “crianças problema”, muitas vezes pela impreparação da grande maioria dos docentes, a nível planetário, nesta matéria. Hoje, há conhecimentos, embora limitados, sobre as crianças, com dificuldades de aprendizagem, sendo muitas delas canalizadas para o chamado “ensino especial”. Acima da mediana, também constituem “um problema” para muitos docentes/professores, porque, por vezes, mesmo identificadas, como acima do “ normal”, não deixam de ser “problemáticas”, porque há falta de conhecimentos psicopedagógicos, dos respectivos profissionais para lidar com a situação, para não falar de países, mesmos os desenvolvidos, com instituições específicas para o desenvolvimento continuado e sistemático da sua aprendizagem, em velocidade cruzeiro.

 

Em todos os países, há uma idade, normalizada, para a entrada no ensino primário. Todavia, há crianças, que “fogem” a essa norma, são as que designamos de maturidade precoce. Os principais agentes identificadores são os pais, vizinhos, amigos dos pais e os educadores. O normal nestes casos, quando essa identificação é feita, encaminha-se a criança para profissionais, altamente qualificados, para a respectiva avaliação, confirmação e validação da eventual precocidade. Em quase todos os países desenvolvidos esta avaliação tanto pode ser feita, individualmente, ou por uma equipa multidisciplinar de profissionais (médicos, psicólogos, pedagogos, assistentes sociais, etc.). No caso português, por exemplo, são os psicólogos a quem compete essa tarefa.

 

Destaque-se que na Direcção Regional de Educação do Norte, em Portugal (DREN, que vai da área Metropolitana do Porto à região Transmontana), esses psicólogos carecem de uma credenciação para tal, de forma, a que, os seus relatórios sejam aceites e validados, podendo assim, a criança, dar o salto qualificativo, precoce de acesso ao ensino primário, por direito próprio e mérito. Estes psicólogos fazem parte de uma lista, que pode ser consultada na GOOGLE: psicólogos credenciados pela DREN. Fazendo parte dessa honrosa lista, avaliei/avalio crianças sinalizadas, de alguns anos a esta parte, cujos resultados/desempenho escolares/académicos e profissionais, têm – me deixado satisfeito para prosseguir, com toda a modéstia que deve presidir qualquer trabalho científico. Todavia, convém vincar que esta avaliação, que é multifactorial, é demorada e exige a presença física da criança e do psicólogo, porque é necessário, não só uma bateria de testes aferidos (de que Portugal, felizmente, não carece), mas também uma observação atenta, sistemática, para que o parecer final, em relatório, seja, minimamente, credível e fiável.

 

Para podermos contribuir nesta lógica do rigor, estaremos nessa situação, quando tivermos a nossa Associação CONTRIBUTO, constituída, com as respectivas delegações Regionais, e espaços de atendimento apropriados para o efeito. Relativamente ao aconselhamento vocacional, embora exija quase as mesmas condições, poderá ser feito, on-line, por implicar jovens do 9º ao 12º ano, visando as opções profissionais no ensino superior ou técnico profissionais. Em qualquer das duas situações, estarei disponível, para aconselhamentos solicitados, através do e-mail: didinhocasimiro@gmail.com. Todos estes aconselhamentos terão a cobertura confidencial, no concernente à transmissão dos respectivos resultados.

 

Oportunamente, abordarei, as questões relacionadas com o que, habitualmente, designamos de “génio” e “sobredotados”, nomeadamente, as suas semelhanças e diferenças com a maturidade precoce, que acabo de descrever.

A todas as crianças, em especial, e a todos os CONTRIBUINTES, em geral os meus votos de um FELIZ NATAL e um excelente NOVO ANO.

 

Filipe Sanhá

 

* Psicólogo, Mestre e Doutorando pela Universidade de Coimbra (Portugal)

O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DAS NOSSAS CRIANÇAS Filipe Sanhá 01.12.2009

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