OBSERVAÇÃO SOCIOLÓGICA

 

 

Bruno César Pinto *  

 brucin85@hotmail.com

12.07.2010

Bruno César PintoOs homens não esperam a existência da sociologia para ter idéias sobre a sociedade; eles formam um conhecimento espontâneo ou ainda o que Durkheim, retomando um termo de Bacon, chama de prenoções. Qual lugar atribuir a esses fatos sociais? A resposta de Durkheim é que estas idéias, como toda outra representação, como todo outro sistema social formado, são objetos da sociologia, mas elas não podem servir em nenhum caso de elementos constitutivos para a ciência. A sociologia deve ser construída se opondo ao conhecimento espontâneo.

        Esta ruptura não é tão simples de realizar quanto parece, pois o conhecimento espontâneo possui uma poderosa capacidade de se infiltrar no raciocínio cientifico. Por que? Em razão do hábito, da contradição, essas idéias adquirem uma autoridade sobre todos os indivíduos; nem o cientista escapa delas, quer no plano da danificação de seu trabalho, quer nos diferentes momentos da demonstração, o que exige que ela faça um esforço constante para se desvencilhar desse conhecimento espontâneo. Além do que, estas prenoções podem frequentemente encontrar um apoio nos “sentimentos”, nas paixões. Certos fatos ou idéias, aos quais uma grande força sentimental está vinculada, não poderão ser criticados ou estudados friamente pelo cientista senão com grande dificuldade, pois ele vai necessitar separar-se penosamente dos modos tradicionais - normalmente confortáveis – de pensar. Finalmente, o conhecimento espontâneo tem isso de terrível que não é eliminado de toda eficácia. Ele indica, com uma precisão grosseira, mas suficiente para a prática, o caminho a seguir na vida cotidiana.

        O império das prenoções é particularmente forte na sociologia geral – Durkheim visa, aqui, a sociologia dinâmica de Augusto Comte ou o evolucionismo de Herbert Spencer – e ele assola em certos ramos especiais (a economia política e, sobretudo, a moral). Nestes casos, como ponto de partida, encontram-se as idéias que os teóricos fazem de tal ou qual fenômeno. Assim, não há ruptura com as prenoções, o que há é unicamente uma sábia elaboração das prenoções, o que Durkheim chama de ideologia. Ele constrói sua visão de ciência em contraposição a esta da ideologia, como resume o quadro seguinte.

 

Ciência e Ideologia Segundo Durkheim

 

Tipo de

conhecimento

Objetos

Ferramentas

Critério de validade

Fim

Horizonte temporal

IDEOLOGIA

Idéias

Prenoções

Útil

Prática

Futuro

CIÊNCIA

Fatos

Conceitos

Verdadeiro

Compreensão

Presente

Fonte: ver nota de rodapé.

 

        Uma injunção resulta desse conjunto de considerações: “É necessário afastar sistematicamente todas as prenoções” (R, 31). A ciência tem a necessidade de rigor e não pode em nenhum caso compor com as prenoções meio falsas/meio verdadeiras. Portanto, o mais simples é romper claro e definitivamente com elas: “Não é aos nossos prejulgamentos, às nossas paixões, aos nossos hábitos que devemos pedir os elementos da definição que nos é necessária; é a própria  realidade que se trata de definir. Logo, coloquemo-nos em face dessa realidade” (FE, 32). É necessário, para retomarmos uma formula que foi objeto de muitas discussões, considerar que “os fenômenos sociais são coisas e devem ser tratados como coisas” (R, 27).

  *  Graduando em Ciências Sociais (Antropologia, Ciência Política e Sociologia), pela Universidade Federal do Maranhão - Brasil.


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