No traço da pluma de Waldir Araújo*

 

 

 

Filomena Embaló

fembalo@gmail.com

01.09.2008

 Filomena EmbalóConheci Waldir Araújo numa recente estada em Lisboa. A primeira impressão que me causou foi de alguém muito afável, acolhedor e bem humorado, qualidades indispensáveis a um bom contador de estórias. Deu-me também a impressão de alguém atarefado, dinâmico, cheio de projectos, pois encontramo-nos para um “bate-papo” em directo nas ondas da RDP África, entre duas das várias ocupações que ele tinha nesse dia.

Fora da antena, inevitavelmente, falámos de um tema que nos liga: o prazer da escrita e a sua motivação. Waldir publicou recentemente o “Admirável Diamante Bruto e outros contos”, que o estreou na área do conto, confirmando assim o seu talento literário, revelado ao longo das diversas publicações de prosas e poemas que tem espalhados por sites culturais portugueses e brasileiros.  Ofereceu-me um exemplar dessa obra com a “recomendação” de que lhe desse a minha opinião. Preocupação normal de quem assume a responsabilidade de publicar e partilhar com os leitores os seus escritos.

O que é prometido é devido e li o Admirável Diamante Bruto e todos os outros contos, de uma só assentada!

Foi uma viagem que, então, empreendi através de uma escrita fresca, fluida e sem pretensões, colorida com os tons do nosso tchon e perfumada com os cheiros característicos das nossas paisagens... Sim, porque a forma de escrever de Waldir Araújo atira-nos para o meio das cenas que descreve, transformando os leitores que somos em personagens que vivenciam por dentro o enredo de cada trama.

Foi também um visitar de crenças e lendas que povoam o imaginário colectivo guineense, imaginário esse que cria uma simbiose entre o autor e o leitor quando partilham valores e vivências comuns. Waldir soube explorar essa magia do conto, aproximando-o das referências culturais guineenses e implicando assim o leitor no próprio enredo que descreve.

Com uma tessitura devidamente estruturada, em cada conto, a narração progride de um começo que revela uma espontaneidade natural, prendendo a atenção do leitor e levando-o, progressivamente, a desenvolver uma curiosidade, para mergulhá-lo, em seguida, num desfecho inesperado.

Um subtil humor desliza da sua pena, tornando divertidos até os cenários que a estória quer dramáticos.  Essa subtileza tão própria dos contadores de estórias dos djumbais, que Waldir manipula com perícia no momento certo e na cena certa.

Mas como um contador de estórias não cumpre a sua função se a sua narração não deixar uma lição de vida ou de moral, Waldir não descurou esse aspecto. E um fio condutor caracteriza o conjunto destes contos: pôr em evidencia uma força, uma fraqueza, uma qualidade ou ainda um sentimento dos protagonistas de cada enredo, para através desse exercício mostrar que todo o ser humano, querendo, pode “comandar” o seu destino graças ao seu livre arbítrio.

Foi assim que a persistência do realmente tenaz e não menos admirável Admirável Diamante Bruto o levou a realizar o sonho da sua vida. A confiança e a auto-estima reconquistadas de Ernesto Nanqui trouxeram de novo o reconhecimento dos outros e o redimir de Carlos Nhambréne transformou o medo que inspirava em respeito. Não esquecendo que o paciente amor de Mimito Adão conquistou a mulher amada.  Porém, o estranho desejo de vingança de Rachid Ismael conduziu-o à morte, enquanto que a bravura de Saliu dignificou-o ao sacrificar a própria vida. A honestidade do ladrão que virou Pai Natal concedeu-lhe o perdão dos seus actos reprováveis. Mas a fértil imaginação do velho Arnaldo Alvarenga fê-lo ser apanhado na mentira. Infelizmente, Morgado foi vítima da sua a angústia incontrolável e Sara sucumbiu ao vício que lhe destruíra o casamento. A firmeza de Gabriel Mendes revelou a sua integridade... Enfim, em cada estória uma mensagem, em cada mensagem um ensinamento que o leitor é livre de colher...

Admirável Diamante Bruto e outros contos é sem dúvida um livro a ler. Waldir Araújo revelou-se um excelente contador de estórias que sabe, com muito humor, aliar a imaginação à realidade e transformar o fantástico em real, proporcionando ao leitor agradáveis momentos de lazer. Esta sua obra deixa-nos antever uma bela carreira literária que contribuirá, sem dúvida, para o engrandecimento das Letras guineenses.

Que a imaginação lhe seja fértil e a pluma ligeira!  

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* Waldir Araújo nasceu em 1971, em Bissau, Guiné-Bissau. Em Portugal, fez os estudos secundários e iniciou o curso de Direito, que trocou pelo Jornalismo. Desde 2001, é repórter da RDP-África, em Lisboa. Em setembro de 2004, foi-lhe atribuída uma Bolsa de Criação Literária pelo Centro Nacional de Cultura português, para a investigação sobre uma comunidade em Cabo Verde. Em 2008 publicou o seu primeiro livro, Admirável Diamante Bruto e Outros Contos”,  um conjunto de treze contos, preparando-se agora a editar  Confessionário de bolso, uma colectânea de poesias, enquanto finaliza um romance inspirado nas várias convulsões sociopolíticas que o seu país tem atravessado.


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