NÔ Djunta mons para um amigo, “ um irmão”
 

 

 

Leonardo dos Santos

leo5581@hotmail.com

28.04.2012

 Leonardo SantosN`tone; fiquei tamanha feliz, (que parecia uma criança,) ao ver-te na TV, naquele dia em que apresentaram os candidatos a eleição. Gritava: - Olha, é o N`tóne! … É o N`tóne! A minha filha, surpreendida com a motivação, – nada habitual, sobretudo nesses momentos de crise – perguntou-me:- Quem é o N`tóne?

- É o que está fardado, é o meu irmão! Avancei para a televisão com o dedo indicador esticado, ao apontar a tua imagem. É a reacção de quem, há mais de trinta anos, não via um “ irmão!”

Não sei por que, não gostei de te ver fardado! Pareceu-me que estavas embrulhado e atado numa coisa que não sabia explicar, ao certo, o que era. A sério, tive essa sensação! Não fosse a cara e corpo, que herdaste do nosso tio “Forçon,” não te reconhecia. Aliás, aproveito esta oportunidade para te confessar, nunca gostei da ideia de te terem feito um tropa … foi como pegar num homem e o embrulhar na pele de cabra de mato! Olha, esta foi exactamente a figura que assemelhaste na TV: - O meu irmão N`tóne transformado numa cabra de mato. (não levas a mal a minha comparação) – passo a explicar:

N`tóne, tu és, desde a turma do Prof. Marciano, - no tempo de “bundinha para fora,” e das nossas brincadeiras de CACOMA, - um intelectual no verdadeiro sentido da palavra; - um génio, um superdotado. Olha, tu me conheces, não sou daqueles que bajulam, (de resto, não tenho motivos para tal) ou que enaltece uma pessoa somente para a doirar e a encantar aos olhos dos terceiros (tu não precisas desse favor). Sei que, mais do que ninguém, tu sabes do teu valor. Descuidas, penso eu, em o trazer cá para fora. Perdes em” lengas lengas” e o tempo passa – eis a razão deste e-mail: chamar-te atenção, como amigo, “um irmão,” para que reponhas os pés no chão, reergues a cara, (esta é a palavra precisa) olhas para a frente e siga o teu caminho; percurso que Deus te traçou de nascença, porque, como já disse, vieste ao mundo lapidado.

Força, N`tóne! Eu, o Armando, o N`djencle, o Tuto, o Cito, o Zé de Sáta, o N`dongó, o Augusto, o Justem, o DOFEGO … e todos outros manos, te queremos ver N`tóne, o nosso N`tóne de Bândé, e não um Capitão, Tenente-coronel, Brigadeiro, General ou Marechal Afonso Té. Tão bem te ficaria as graduações referenciadas, qualquer uma delas seria bem merecida. Mas, por seres distinto, onde quer que encontre, é um pleonasmo o uso destes patentes; de nada te servem, sobretudo no nosso país onde estão ligados a ignorância, a brutalidade, a selvajaria, aos inadaptados da sociedade, aos cruéis assassinos…

N`tóne, ao ver-te na TV, nas apresentações dos candidatos a eleição Presidencial, (momentos em que me torno criança), sinto um forte estalo na minha nádega - como aquele que o tio “Forçon” nos dava, quando nos repartia as asneiras cometidas (por não saber quem é culpado.) Com estas repetidas chamadas de atenção, por me achar também culpado da situação… não poderia deixar, ao menos tentar, estender-te a mão. A minha se junta {embora sem autorização, sei que não desdenhariam, por se tratar de uma missão nobre – ajudar um amigo (irmão)] a de Armando, N`djencle, Tuto, Cito, N`dongo, Zé de Sáta, Augusto, Justem, DUFEGO… e a de todos outros manos que te querem bem! Queremos-te do nosso lado como N`tóne, o nosso N`tóne de Bandé. Não percas mais tempo nas lengas lengas dos Coronéis e senhores Ministros, ainda estás a altura de fazer muitas coisas úteis à ti, à nós, e à sociedade Guineense. - És um intelectual, profissão a que Deus te destina: agarra-te aos livros, investigas, faça proveito do teu cérebro, ponha-o em nosso benefício. Tens muito por onde começar, assim como o que contar; podes! …

Entende direito o que te estou a dizer! Não quero referir a falta de raciocínio no que tens feito e estás a fazer. Sei que, em tudo, no que entras, encara-o com a seriedade e responsabilidade – estão a faltar resultados, ou pelo menos não estão a ser palpáveis. Por isso, o público apresenta, como sendo tua, obras destorcidas e muito “porcalhadas “ – em que somente, quem não te conhece, acredita. Creio eu, algo está mal, com o teu desempenho – peço desculpa, se me engano!

O desnorteio do teu predestino, se deve, (na minha opinião), o fato de teres sofrido aquelas rasteiras - a vida por vezes nos prega - que te levou a desviar de um percurso glorioso e enfiar nas matas como as cabras de mato. Sei, vais dizer, com toda a razão, que sentes muitíssimo orgulhoso de o teres feito; concordo contigo! – Repito, és uma jóia, sobressais mesmo no meio da floresta densa! Acho que o “time” não te foi favorável.(a idade…) Não era à altura ideal de teres deixado a cidade e uma vida escolar brilhante! Mano N`tóne, o que vou dizer, há muito que é do teu conhecimento, – tu que nenhum pormenor escapa, por mais ínfimo que seja -trinta e tal anos atrás; dizias, em apreço, e repetias: - “eu não sou uma cabra de mato, esta é que pode vangloriar-se de ser “de mato,” ” a própria denominação a enaltece. Entre ti e este animal, há um modo de viver incompatível – tu és N`tóne de Bândé, o nosso N`tóne. Reparaste, indubitavelmente, que, na família cabrais de mato, existe uma hierarquia inflexível, determinante nos momentos de dividir espólios do território conquistado e o domínio do ”curral “- As disputas pelas posições cimeiras originam cornadas ferozes, fatais, entre os seus membros. O elemento do grupo que atingir o topo da hierarquia, - detém o controlo de todo o “curral” e do território conquistado – é denominado de macho dominante ou “Cabrão de mato”. (peço desculpa por parecer grosseiro, mas é o nome próprio.) Torna-se responsável pela divisão dos espólios subjugados. – Distingue-se, no meio, por possuir cornos mais alto de todos, por andar, de olhos abertos e pálpebras a piscar incessantemente, preocupadíssimo com a posição de domínio do “ curral” e de todas as cabras que nele vivem. Na hierarquia abaixo deste, estão os Cabreiros; de cornos um pouco acima de média, bem aprumados, predispostos a serem utilizados, estão permanentemente ao serviço do Cabrão. Marcham com focinhos erguidos à cheirar no ar as intentonas e denuncia-los à Chefe. Movimentam-se incessantemente pelo rebanho fora e envolvem-se em combates pela posse de espólios, das cabras e para estar mais próximo do Cabrão. A seguir-lhes, sempre a nível descendente, vem os Bodes, “os mancebos;” (a maioria no curral, quase todo o rebanho é bode; isto porque, todas as classes anterior referidas, a toda altura se passa à bodes. Até as cabras e cabrinhas, nos momentos de desenrasque, os imitam) possuem cheiros característicos e estão em reboliços constantes atrás das caudas do Cabrão, dos Cabreiros, das Cabras e das Cabrinhas. Por lidarem, de perto com o macho dominante e com as fêmeas, (saber os momentos propícios em que lhes devem proporcionar encontros …”á dois,” a função principal), faz pouco uso dos seus medianos cornos. Prefere utilizar muitos berros, quase a falar, e abundantes gestos com patas. São bastantes conhecidos como aduladores e intriguistas. No inferior desta hierarquia estão os cabritos de mato; cabritinhos de cornos incipientes e inofensivos. Não dão grande importância ao rebanho. Irrequietos e brincalhões, gostam de saltitar e de abanar os seus corninhos. Coitadinhos, seguem a alternativa que Deus lhes destinam, por estarem sob a tutela de um Cabrão de mato!

Como vês, “irmão” N`tóne, acharam, tu reconheces, que não és “ Cabra de mato;” não tens qualidades para a ser; não podes misturar no rebanho e ascender a posição de mancho dominante, o Cabrão, tornar-se detentor em absoluto de todas as Cabras e Cabrinhas de mato; és o N`tóne de bandé, o nosso Ntóne.

Imbuído de um espírito curioso e teimoso, próprio dos dotados, deixaste ficar no curral, deslocado do meio, a analisar se lhe descobre a essência. Foi a tua desgraça! O infortúnio te pregou a segunda rasteira: O Cabrão, enfraquecido por constantes lutas pelo controle e domínio do território e do curral, descobriu-te num meio inóspito, por seres distinto de todos, e viu em ti um baluarte seguro para perpetuar o seu poder. Vem-lhe à mente fazer-te da mesma espécie; “a família dos Cabrais de mato; embrulhou-te na pele de Cabra de mato,” te pós uns cornitos artificiais semelhantes a dos Cabreiros.

Fiel, valente e destemido, usaste de toda a tua inteligência (mesmo quando não bastava) para o defender contra os Cabreiros candidatos ao posição de macho dominante – esqueceste que, no meio, de nada serve ser inteligente; não és uma cabra de mato, não passaste por etapas necessárias para ser cabreiro – alegam que “ bu djante demais!” os teus cornitos não são duros e mortíferos; cedo, descobriram que tinham fraca utilidade…

Por um triz te perdíamos, Ntóne!

Deus te protegeu, para que cumpras o destino!

Já estava de espírito deitado, pensando que irias retomar o teu percurso, quando de repente te vejo de nova embrulhado e metido noutra encrenca: os Bodes, bajuladores deserdados, com cios e cedentes das Cabras e Cabrinhas, incapazes de viver sem estar atrás dos rabos …, convencem-te de que és um político; pessoa que os conduzirão do novo ao pote de mel e leite…daí, tornar-te numas figuras horripilantes, foi um passo. Carregam o teu disfarce, Guiné fora, numas procissões “dengues:”

- Afonso Té à Preside-te, Afonso Té à Presidente!

Em algazarra, correm com o teu embuste pelos recantos da Guiné – sem respeitar a tua estatura, (um intelectual, um ser superior, um homem de mundo.

As duas imagens que carregam como sendo teu, que eu vejo na televisão, “eu que te conheço tão bem,” nem por unha te assemelham! Mesmo nesta escolha acertaram, o que demonstra uma falta clarividência política! … Um bom político escolhe antecipadamente a personagem que irá representar, - dá preferência a actual e a bem sucedida - antes de subir ao palco. Com sucessivos ensaios se ajusta a sua qualidade.

Já que te queriam fazer representar – [uma coisa do que não és capaz; - és muito real, (igual a ti mesmo), fiel aos amigos e teus compromissos, conciso, destituído de ambiguidades (um cientista). (Qualidades que faltam aos nossos políticos)] – que escolhessem uma personagem que ajustasse as tuas qualidades; que te mascarassem de um Nelson Mandela ou de um político familiar; um Pedro Pires – exaltaria as tuas qualidades. Em vez disso, baixaram-te tanto ao camuflarem-te (imagem que vejo na TV) de Idi Amin; uma figura sinistra da qual a África tem má memória! Na campanha seguinte vestiram-te de (carambuá) uma túnica farta, com um bivaque longo de pele de leopardo enfiado na cabeça à imitar Sekou Touré – um personagem agoirento e de comportamento dúbio – duas figuras anacrónicas, que ninguém de bom senso gostaria de fazer reviver!

Não te vejo nesta campanha eleitoral, não participaste nela, ainda bem!

P` esperança que m`tem na bô, Ntóne, pega bu caminho. Larga és! …

 

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