A liberdade é um direito que assiste a homens ou mulheres, grandes ou pequenos, ricos ou pobres, crentes ou ateus, mas que  nunca chega a ser absoluto na acção porquanto estar condicionado por leis. Felizmente que assim é, porque as leis são os limitadores da autonomia que a liberdade nos concede. É o Estado, através dos seus órgãos competentes (Assembleia Nacional Popular), quem legisla, por forma a criar princípios que traduzem a definição do conceito de liberdade em função da necessidade da coabitação ou da vivência em comunidade dos seus cidadãos. As leis condicionam as liberdades e colocam o Estado como o gestor de toda a sociedade, evitando o anarquismo. É a liberdade um direito absoluto no pensamento, mas restringido na acção por forma a que o colectivismo se sobreponha ao individualismo na procura de consensos  para o equilíbrio do relacionamento entre pessoas numa sociedade que se quer justa ainda que condicionalmente livre. Didinho

Indecência

Hoje exponho aqui a minha tristeza e indignação para que outros mais não fiquem tristes e indignados como eu, devido à notícia  publicada a 28/09/2004, no site www.guine-bissau.com e assinada pela jornalista Zezinha Fernando Biombo tendo como título: " Amilcar Cabral não nasceu na Guiné-Bissau ". Para uma melhor compreensão do meu estado de espírito, transcrevo a cópia da notícia publicada, dando-a a conhecer para análise e interpretação por quem ainda não teve essa oportunidade.

Amilcar Cabral não nasceu na Guiné-Bissau

 

O escritor e Poeta guineense Felix Siga revelou ontem a Guiné-Bissau.Com que o fundador da nacionalidade guineense Amilcar Cabral nao nasceu em Bafatá como tem sido pregoado pelo mundo fora.


Para Felix Siga, Amilcar Cabral nao é guineense. Pois, o seu boletim de nascimento é falso e foi forja
do por Rafael Barbosa para convencer o ex-Presidente da Guiné-Conacri Ahmed Sekou Turé aceita-lo residir em Conacri.

Face a este cenario, considerou que Amilcar Cabral, com excepçao da sua participaçao na luta da libertaçao nacional, nao faz parte da historia da Guiné-
Bissau .

Felix Siga desafia seja quem for, para lhe mostrar colega de escola de Amilcar Cabral em Bafatá. No seu entender, se Amilcar Cabral tivesse nascido em Bafata teria ainda lá alguém que pudesse conhecer, pelo menos, filhos ou netos dos seus colegas que estudaram com ele o ensino primario em Bafatá.

Quanto a sua produçao literária disse que prepara para publicar um livro intitulado « DO ETEREO AO VITAL PULULANDO » .

Felix Siga disse ainda que é um livro do seu sonho. Se o publicar realizará o maior sonho da sua vida.

Ē um livro de poemas « esotericos » que dinamizam o espirito humano em todos os sentidos e aspectos.

Felix Siga afirma que é um livro de poemas profundamente inspirados nos valores femininos da Guiné-
Bissau .

Para
além do « DO ETEREO AO VITAL PULULANDO », Felix Siga garantiu a Guiné-Bissau.com que tem guardado na gaveta 14 livros, porquanto nao possui ainda meios financeiros para os dar estampa.

Sublinhe-se que Felix Siga já publicou em 1996 o seu primeiro livro intitulado « ARQUIOLOGO DA CALÇADA » editado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa (INEP)da Guiné-Bissau.

Fuente: guine-bissau.com

Por: ZEZINHA FERNANDO BIOMBO

 

 

A notícia com o título:" Amilcar Cabral não nasceu na Guiné-Bissau", longe de ser uma descoberta do século com direito a atribuição de prémio Nobel, não tem nenhum argumento digno que a fundamente e como tal não ser concludente.

 Quero enaltecer o excelente trabalho de informação e divulgação que o site www.guine-bissau.com tem feito e como tal, não querer pôr em causa o sentido patriótico da sua missão de informar, divulgar e unir toda a " família guineense ". 

No entanto, aproveito para questionar o sentido do termo notícia, uma vez que, ao contrário de uma opinião que reflecte o modo de pensar de cada um, a notícia ser um acontecimento e como tal, ter de ser provada, ou então não passar de boato. Ora a entrevista, se assim se pode chamar, concedida a Zezinha Fernando Biombo por Felix Siga, não tem nenhuma credibilidade que justifique a sua publicação como notícia, porquanto ser uma inverdade.

É sobre esta falsa declaração que a tristeza toma o sentido de preocupação, porquanto os principais valores necessários à estabilidade político-social (e também económica) do país e identificados como sendo: A reconciliação e a concórdia nacionais, continuarem a ser contrariados pelo espírito da discórdia e da divisão do povo guineense através da tentativa de imposição dum nacionalismo fora do contexto patriótico e suportado por referências de características tribais. Poder-se-á dizer que se trata de um caso isolado, obviamente que desejaria que assim fosse, mas a preocupação é legítima por tudo o que se tem constatado a nível de comportamentos na sociedade guineense  nos últimos anos.

A notícia não tem fundamento porquanto Amilcar Cabral não passar a ser conhecido só depois de  optar por estabelecer o secretariado do PAIGC em Conacry. Portanto, não seria por querer convencer o então presidente Ahmed Sekou Turé a deixá-lo residir em Conacry, que teria que forjar a certidão de registo de nascimento a dizer que era guineense. Todo o percurso escolar, académico, associativo e profissional de Amilcar Cabral, tinha necessariamente registos dos seus dados, sendo a data e o local de nascimento, quase que obrigatórios. Para além do mais, o brilhantismo de uma inteligência rara num meio discriminatório em relação aos negros, atribuía-lhe destaques que passavam pelo controlo rigoroso dos seus movimentos, dada a capacidade nata de liderança e a lucidez de pensamento demonstrada na altura e que atormentava as autoridades coloniais. Amilcar Cabral era bem conhecido do regime colonial português e se esta falsa notícia agora levantada correspondesse à verdade, seria o próprio regime colonial o primeiro a tirar partido da situação na altura, desacreditando Amilcar Cabral e por conseguinte a luta pelas independências da Guiné e de Cabo-Verde.

 Mesmo que Cabral não tivesse nascido em Bafatá, quem poderia questionar a sua identidade de guineense, depois de tudo o que fez, dando inclusivamente a própria vida pela Guiné-Bissau?

Não queiramos dar tiros nos nossos próprios pés, não queiramos fazer com que outros deixem de nos considerar, não deixemos que a inveja tome conta de nós.

Reconheçamos, valorizemos e orgulhemo-nos  do que é nosso!

A liberdade, como disse, é um direito que nunca chega a ser absoluto...

Fernando Casimiro ( Didinho )

05. 10. 2004

www.didinho.org