INEFICIÊNCIA DAS FORÇAS ARMADAS

 

Bruno César Pinto *  

 brucin85@hotmail.com

04.11.2009

Bruno César PintoOs acontecimentos dramáticos ocorridos na Guiné-Bissau convocam, sem dúvida, o pensamento crítico e um olhar atento sobre a governação em África e os caminhos da paz, regional e mundial. Há um facto simples que paira acima do caos aparente e do alucinante alinhamento mediático das “notícias”: o exército como símbolo da destruição de uma sociedade civil. Em vez de funcionar como factor de ordem constitucional, a “tropa”, numa dantesca inversão dos papéis, fomenta a desordem e a instabilidade. O que é isso? Uma simples “gaffe” jurídica? Não, trata-se de um problema político mais profundo. O catálogo local de golpes, ligações ao narcotráfico e traições políticas não deve aprisionar o pensamento num “paroquialismo” empobrecedor. É necessário descer para aí uns três séculos e tentar compreender como se constrói a estabilidade num país. Medir, enfim, a distância entre o estado da natureza e o Estado. Huntington, num livro esquecido de 1968 (A ordem política nas sociedades em mudança), criticando Kwame N'krumah, tocara no aspecto decisivo: ao contrário da suposição romântica, o “bom governo” não é descoberto. Este fora, aliás, o grande equívoco de um certo nacionalismo autoritário, com o seu rendilhado burocrático que entravava, em larga medida, o investimento estrangeiro e a redução do desemprego. O “reino político” é construído e não achado. Na Europa, a partir da paz de Westefália (1648), a atenção dos estadistas e homens públicos mais esclarecidos voltou-se, justamente, para o difícil problema da “construção de Estados”. Uma rica tradição filosófica formou-se neste domínio.

A guerra não é necessariamente um mal africano. O “fetichismo” mediático é insustentável. De Thomas Hobbes a Clausewitz, ela atormentou a consciência crítica e mobilizou, num gesto de cidadania, os “antídotos” necessários. Combate-se pela guerra; combate-se também pela paz. Trata-se de uma opção fundamental dos povos e das suas elites. Em África, mais de trinta anos após as independências, discute-se, sobretudo a “ajuda” externa. As instituições, as verdadeiras fundações da prosperidade, são esquecidas. Acredita-se, por isso, num “príncipe” qualquer ao virar da esquina. Hum!, a boa fé das nações... Em África confia-se, antes de tudo, na magia dos políticos. Quando é que se discutirá a política? A sociedade civil é um fenómeno extraordinário: é o patamar de exigência em que aquele que possui a “espada” se submete ao cidadão desarmado. Para mais informações, ver Ernest Gellner, Conditions of liberty: civil society and its rivals, Penguin Books, 1996.

  *  Graduando em Ciências Sociais (Antropologia, Ciência Política e Sociologia), pela Universidade Federal do Maranhão - Brasil.


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