HOMENAGEM A EDSON INCOPTÉ

 

Por: Mamadu Lamarana Bari

 

mlbarry1@gmail.com

 

Prof. Dr. Mamadu Lamarana Bari

 

19.05.2008

 

 

Meu caro Irmão Didinho

 

Gostaria desta forma prestar uma singela homenagem ao nosso jovem e promissor profissional que desde cedo começa a mostrar-nos, nós da antiga geração o que é repensar a construção de uma Nação. Portanto, solicito que seja publicado no site www.didinho.org , na integra, esta mensagem, bem como o poema que a subscreve.

 

Após a leitura de um dos contributos que nos brindaste, para mim, não resta outra coisa se não dizer que é verdadeiramente emocionante e encorajadora a certeza de que algo precisa ser feito pela Guiné. As contribuições que acabaste de nos brindar trazem reflexões antológicas como essa do Edson Incopté. Sim senhor, este menino ainda vai longe. Há muito, com todo o meu percurso acadêmico, que não lia uma reflexão de fundo e de forma como esta de Edson. Realmente focou o cerne do problema: pensar o desenvolvimento da Guiné.

 

Ainda ontem tive um sonho sobre a nossa querida Bolama. Nesse sonho estava eu e mais um grupo de companheiros dos velhos tempos de Bissau e de Bolama, cujos semblantes não me foram revelados, num barco a motor atracando no cais de Bolama. Tinha como timoneiro nada mais nada menos que o nosso eterno e saudoso Bedel do Liceu Honório Barreto (hoje Kwame N'Krumah), Mussa Dabó (Cowboy). Que Deus o tenha e lhe dê a vida eterna. No meio do canal de Bolama havia dois monumentos, figuras simbólicas do desenvolvimento cultural e da eternidade espiritual, oferecidos pela China. O barco atracou com sucesso e todos nós desembarcamos em festa. Bolama estava linda como merecia e merece. Bolama Capital, berço e símbolo da cultura contemporânea guineense.

 

Meu querido irmão Didinho, precisamente hoje ao ler as contribuições com que nos brindas todos os dias deparo-me com a brilhante reflexão do Edson. Obrigado meu Deus pelos talentos que  estão nascendo a cada dia na Guiné, ou oriundos dela. Ontem contávamos aos dedos da mão os quadros superiores da Guiné, hoje temos um montão que não cabe mais contar, mas sim cadastrá-los todos porque são importantes e são também reservas preciosas, ou seja, recursos humanos com que a Guiné pode e poderá contar para o seu crescimento e desenvolvimento. Bastavam apenas o titulo e as imagens para entendermos o que precisa ser feito para que a Guiné volte a ser Guiné. Ah! Guiné n'dei san, quem te viu e quem te vê. A praga será de termos assistido à badjudessa da mãe que hoje é a Guiné-Bissau. Onde estão os marabus, os balobeiros, os guias espirituais cristãos e muçulmanos para orarem para que a nossa fatídica sorte se transforme em pelo menos esperança de que um dia seremos felizes?

 

 Como forma de homenagem e sentimento por tudo quanto a Guiné hoje vive, transcrevo um pedaço da canção do nosso poeta e saudoso José Carlos Schwarz, companheiro da maioria dos meninos de Pilum e de Santa Luzia, desde os primórdios em Santa Luzia até aos finais nos Coqueiros, de bolanhas de Antula à Segunda Ponte. "... Paulo Nanque de Bateria, Cabo na Kudji muntudu. Mundo tem qui rabida, pa bu odjal de utru manera, mundu tem que cedo, pa bu tenel na bu roçon... Paulo Naque, quil dia qui ka tchiga tem ku tchiga..." Faço votos para que com a profunda reflexão e o exame conscienciológico possamos todos colocar o dedo na ferida e façamos da dor que sentimos a esperança e a alegria de um amanhã melhor para todos os guineenses e de todos os querem nos ajudar a fazer da Guiné um país do futuro como o meu amigo Wagner Gomes "Baruk" profetizou. 

 

Realmente, algo tem que começar pela cidade de Bolama para que se possa entender a unidade que se quer e se deve fazer em Bissau e para a Guiné. Corremos quanto antes, porque dos herdeiros de Firkidjas de Bolama só resta Lúcio da Silva, Paulo Kaiangô já nos deixou, Sangara tem razão ao cantar lembrando dos Firkidjas de Bolama. Não quero citar nomes para não ferir susceptibilidades alheias ao esquecer de mencionar pessoas que merecem ser lembradas, mas vamos dizer assim: saudade eterna a todos os Firkidjas de Bolama.

 

 

Destinos Nunca Dantes Pensados

 

Bolama e Bissau

Dois destinos nunca dantes pensados

Cidades da Guiné que as águas separam

Mas com passados comuns ainda enigmáticos.

 

Bolama de Paulo Kaiangô e de Lúcio da Silva

Cadê a esperança que viste nascer

Na rapaziada dos teus filhos.

Da dança do salão da praça ao n'gumbê de Intachá

Do batuque de Luanda-Sintra a cambança de Djidi Cobra

Os de Nhala e Bissasmá que o digam.

 

E tu Bissau que ergues desafiante nas margens de Geba

À imponente Bolama que disfarçada se firma atrás de Djidi Arca

O que tu nos falas da tua sobrevivência traçada intra-muro da Amura.

É verdade, conta só entre nós e que ninguém escuta.

Há uma vala subterrânea da Estátua Maria da Fonte ao Hotel Portugal. 

 

O que tem enterrado naquela canoa.

Ela é algo verdadeiro ou apenas uma imaginação

Daqueles que a Paz duradoura sonham à Guiné.

 

Bissau dos Correias, Pinheis, Pereiras, Vieiras, Mendes

Mas também dos Djalós, Barrys, Baldés, Dabós, Manés, Camarás,

Mangos, Tés, N'bundés, Sancas e Baticãs etc..

Bissau Velho, Bissau do Intim, de Antula, de Pilum e de Bandim.

Bissau de Banculem, de Sintra, e de Gambiafada a Bissau Novo.

Bissau de Achada de Burro ao Tchon de Papel.

Afinal onde é o centro da verdade do seu cerne revolucionário.

 

Escuta, e aqueles lá de Burúrê,

Que ninguém saiba decifrar esta palavra.

Aqueles nossos filhos que embrenharam na mata

Para algo de novo trazer como esperança de um dia melhor

Penduraram a Chuteira. desistiram da Luta.

Ou esperam que a nova geração, a geração dos Incoptés

Apontem o caminho, caminho de esperança e de felicidades.

 

Ah! Guiné não ficará que nem a lã de Poilão ao vento

O que importa é que Bolama e Bissau são unhas e carnes

Do mesmo corpo, corpo de badjuda que virou mulher de repente

Os que assistiram à badjudessa sentados hoje pereceram.

Ainda vamos continuar sentados, quer dizer, a futura geração.

 

O importante não é que se da Luta participamos,

Quinhão nosso primeiro.

Mas  ensemble dividir o resultado.

Assim todos sentirão coparticipé do ônus do Progresso.

O interessante não é isoladamente colher frutos

Do Progresso ou viver o amargor do Retrocesso

O fundamental é que todos pensem a Guiné

Como verdadeiros guineenses que somos.

E trabalhar para o seu desenvolvimento

 

Quem de uma Nação pensar construir

Com sacrifícios: com a fome e com a miséria

Fantasmas as cidades povoarão

Ou de escombros e de buracos as casas e as ruas serão. 

Então todos dirão bye, bye Guiné

É isso que assistimos.

E porque não quebrar as correntes das inflexibilidades

Em que estamos amarrados.

 

Repensemos as nossas atitudes.

 

 

Dudu Bari

Salvador-BA

 

 


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