HOJE, A MINHA QUESTÃO É ...

Fernando Casimiro (Didinho)

didinhocasimiro@gmail.com

11.09.2013

Hoje, a minha questão é ...

Quando se diz que os guineenses, pelo facto de a Guiné-Bissau ter a língua portuguesa como sua (única) língua oficial, têm mais afinidades com os demais países e povos lusófonos do que propriamente com os países vizinhos da Guiné-Bissau, de que percentagem de guineenses estamos a falar, quando, a Guiné-Bissau (contrariamente a Portugal, Brasil, Angola e Moçambique, por exemplo, em que até analfabetos se expressam mal ou bem em português) tem mais de sessenta porcento de analfabetos que desconhecem por completo a língua portuguesa, pese embora cinco séculos de colonização portuguesa?

Será que, pelo facto de termos o português como língua oficial e na lógica da afinidade sustentada pela língua portuguesa... todos os cidadãos guineenses que nunca se pronunciaram na língua de Camões, por desconhecerem por completo a essência dessa língua, estão para lá, das afinidades de referência entre povos irmanados pela língua comum, neste caso, apenas referenciando a língua portuguesa?

O cidadão timorense (podia ser angolano, moçambicano, são-tomense, português ou brasileiro, por exemplo) que fala português, (em Timor também a maioria não fala o português...) é mais irmão, mais próximo, tem mais afinidades comigo, só porque falamos ambos a língua portuguesa, do que o Watna, o N´dapas, o Bacari, a Adamá, a Binto e tantos outros guineenses (como eu) que não falam o português...?

Qual é a língua de comunicação entre os guineenses, independentemente das etnias existentes, e até, entre guineenses e estrangeiros, incluindo cidadãos de países vizinhos?

Será o português, ou é o kriol?

Os guineenses que, não falam, não sabem ler ou escrever o português, tal como os povos nossos vizinhos, nossos irmãos, separados pelas fronteiras da colonização, devem ser considerados como...(?) ou desconsiderados como...?

O que é a lusofonia para a maioria do povo guineense?

Ressalve-se a importância e o consequente uso e benefício da língua portuguesa como língua oficial da Guiné-Bissau (por uma elite que não chega a ser suficiente para a caracterização/definição da Guiné-Bissau como um país lusófono, mas a meu ver, um país onde também se fala o português), pela sua estruturação e expansão a vários níveis de exigência e de utilização, numa perspectiva e num contexto que tem a ver com a Globalização nos seus vários quadrantes; porém, é chegada a hora de se promover o kriol como língua oficial, numa perspectiva identitária, de unidade nacional, de promoção de valores e princípios de "berço", ou da viabilização natural da socialização primária com o suporte linguístico "materno", quer através dos pais, dos familiares e dos educadores em geral, por exemplo, como também, através dos canais de informação/comunicação, pedagogicamente concebidos para o efeito.

As nossas crianças perdem-se no tempo da aprendizagem sociológica, porquanto, não sendo o kriol, língua oficial da Guiné-Bissau, apenas ao entrarem no sistema de ensino oficial, entram de facto, num sistema estruturado de aprendizagem que desvaloriza ou ignora o que seria o processo da socialização primária sustentada pela língua materna, neste caso, o kriol.

A elevação do kriol ao estatuto de língua oficial, contribuiria para a sua estruturação enquanto veículo de maior importância na comunicação entre os guineenses e consequente afirmação e evolução enquanto língua, mas sobretudo, na sustentabilidade que se conseguiria na socialização primária e os consequentes ganhos na educação/formação das nossas crianças, futuros homens e mulheres com responsabilidades a nível da promoção de valores e princípios considerados como positivos para a sustentação da Paz; para o trilhar dos caminhos do desenvolvimento do país, tendo em vista ganhos que possibilitem o bem-estar comum!

A maioria dos problemas da Guiné-Bissau, é de ordem social. Não podemos continuar a desperdiçar as vantagens da aprendizagem através da socialização primária, ignorando o kriol, enquanto instrumento fundamental de comunicação e partilha dessa aprendizagem, única no tempo e através dos melhores pedagogos para o efeito, os pais!

É que a língua portuguesa só chega e a poucos guineenses, a partir dos 6/7 anos de idade, quando a criança perdeu muito tempo, sem o suporte de uma língua valorizada, como devia ser o kriol!

O homem novo que se pretende para a Guiné-Bissau, terá necessariamente que ser educado, na sua primeira fase, através da sustentabilidade do kriol, que, para tal, deverá afirmar-se e evoluir como língua oficial, complementado com mais valias em forma de "normas nacionais de educação para a socialização primária". Para tal, equipas multidisciplinares englobando quadros de várias áreas científicas poderiam e deveriam contribuir neste grandioso e infinito desafio que visa a construção da Nação, que continuo a dizer que (ainda) não temos!

Ninguém leva o português ou outra língua para lá de Bissau, cidade capital, onde o português é relativamente falado, a nível institucional, para comunicar/conversar com a maioria das populações de outras regiões da Guiné-Bissau. Como é possível compreender um povo, ignorando a sua forma de comunicar, quiçá, a sua principal ferramenta de comunicação?

Não sou contra a lusofonia, nem contra a língua portuguesa, porém, sou a favor da valorização da língua através da qual, me faço entender com todos os meus irmãos guineenses, independentemente das nossas diferenças (étnicas e outras) e essa língua, é o kriol, ou crioulo!

Sou a favor da busca de soluções para os problemas da Guiné-Bissau, através daquilo que une/junta todos os guineenses e, isso, verdade seja dita, só pode ser alcançado através da afirmação e valorização do kriol.

Vejamos quanta sabedoria expressa na maioria dos poemas de autores guineenses, em kriol...

Quantas recomendações nas músicas em kriol, dos nossos músicos...

Quanta riqueza etno-linguística, suportada pelo kriol, verbal/oral, se vai perdendo ao longo dos séculos, o que equivale dizer, a nossa história, a nossa identidade, ontem, imaginando/perspectivando o amanhã...

Vamos continuar a trabalhar!


A Guiné-Bissau é a soma dos interesses de todos os guineenses E NÃO DOS INTERESSES DE UM GRUPO OU DE GRUPOS DE GUINEENSES! Didinho


VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!

Cultivamos e incentivamos o exercício da mente, desafiamos e exigimos a liberdade de expressão, pois é através da manifestação e divulgação do pensamento (ideias e opiniões), que qualquer ser humano começa por ser útil à sociedade! Didinho

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