De: Isabel Maria Garcia de Almeida
Enviada: domingo, 8 de Março de 2009 13:38
Para: didinho@sapo.pt
Assunto: GUINÉ-BISSAU: VALE A PENA ACREDITAR!

 

Caro Didinho,

 

Entre outras fontes de informação referentes à Guiné-Bissau, leio e divulgo regularmente os artigos publicados no teu site, embora nunca tenha contribuído de forma activa, porque penso que outros o fazem melhor do que eu.

 

Para os que não me conhecem, sou nutricionista de formação, mas o meu currículo profissional, iniciado, como tantos outros jovens da minha geração, em 1975, numa idade ainda precoce, aos 17 anos, alguns anos antes da realização dos meus estudos universitários, fez de mim uma trabalhadora no domínio do desenvolvimento social de base.

 

Tenho por hábito, em determinadas circunstâncias fazer apontamentos para mim própria, à laia de "guião" para a minha vida. Desta vez resolvi partilhar uma dessas reflexões com mais pessoas, ainda que não tragam, na essência, nada de novo...

 

Aproveito a oportunidade para felicitar e agradecer todos quantos, neste fórum de debate ou em outros sobre a Guiné-Bissau, têm dado o seu valioso contributo para que o nosso país e as gerações vindouras tenham um futuro digno e merecido.

 

Aproveito também a oportunidade para felicitar e encorajar, neste dia 8 de Março, todas as  mulheres e homens comprometidas (os) com a causa da justiça e igualdade social.

 

Ironia da destino ou sinal dos tempos? O CEMGFA foi a enterrar no último dia 8 de Março, da década iniciada no ano 2000. Talvez represente um virar de página, em que as mulheres guineenses estejam a ser interpeladas para uma maior assumpção de protagonismo e responsabilidade política.

 

Um bem haja a todos!

 

 

GUINÉ-BISSAU: VALE A PENA ACREDITAR!

 

 

 

 

Por: Isabel Maria Garcia de Almeida (Bélita)

 

Isabel Maria Garcia de Almeida

 

08.03.2009

 

Mais uma ilusão? Quantas vezes julgamos ter “batido no fundo”? Quantas vezes recolhemos das ruínas das incontáveis tragédias os retalhos de esperança, ânimo e energia, costurando-os para reiniciar com esperança e coragem a luta pela sobrevivência das nossas pessoas, dos nossos filhos e demais dependentes e do nosso martirizado povo e país, apesar do clima de crescente instabilidade, insegurança e desconfiança…

 

Todos confundidos, lideranças políticas, militares, sociedade civil e população em geral, estamos a pagar cada vez mais caro o nosso precário sentido de prevenção e pró-actividade, especialmente no domínio dos conflitos sócio políticos e militares…

 

A voz corrente é novamente “desta vez tudo acabou… agora vamos poder ter sossego, paz e estabilidade”!

 

Será que acreditamos verdadeiramente neste sentir ou é apenas mais um bálsamo para os nossos corações e espíritos… para nos permitir continuar a vida de sonâmbulos que temos levado desde o pós-independência?

 

O que aconteceu estes dias na Guiné-Bissau revela que a nossa imaginação e criatividade comuns não atingem o âmago dos problemas existentes, nem o limiar do que os grupos antagónicos em conflito são capazes de perpetrar.

 

A actual situação faz prever dias de maior turbulência, violência crescente, angústia, desespero e desagregação completa do estado e da sociedade guineense se não forem tomadas medidas imediatas e adequadas.

 

É preciso sair deste estado de sonambulismo, acordar desta longa noite de pesadelos cada vez mais tenebrosos!

 

Há mais de 2 décadas que estamos a confrontar-nos com esta situação chocante de violência e instabilidade, durante algum tempo abafada e progressivamente ensurdecedora! Além de sonâmbulos, estamos a ficar surdos e cegos… completamente anestesiados…

 

Todo o tipo de informação e análise social, política e militar foi feita, tanto no plano interno como internacional. Falta é tomar decisões acertadas. Não podemos dar-nos ao luxo de mais uma vez aplicar soluções paliativas aos nossos problemas.

 

Todos nós amantes desta terra, devemos concentrar toda a nossa criatividade e empenho na resolução definitiva dos nossos problemas, sob pena dos nossos filhos e netos não poderem vir a falar de país e muito menos de nação.

 

Encontramo-nos face a uma derradeira oportunidade para “aprender com a nossa própria experiência, aprender com a experiência dos outros…”, como dizia Amílcar Cabral.

 

Como todas as comunidades, as diferentes comunidades étnicas guineenses possuem as suas próprias formas de prevenção e dissipação de conflitos, no plano técnico-científico também muitos estudos foram feitos, trabalhos publicados e sistematizadas metodologias para a resolução de conflitos. Houve exemplos de estratégias aplicadas a outros países com sucesso, nomeadamente África do Sul nos pós apartheid e Ruanda pós genocídio.

 

É imperioso e urgente colocarmo-nos completamente acima das nossas diferenças, contradições e ambições pessoais e/ou de grupo para nos concentrarmos no essencial e no que nos une, os supremos interesses da nossa terra e das nossas populações.

 

É doloroso fazê-lo, mas temos que admitir que estamos perante um Estado falhado, o qual tem que ser literalmente reconstruído das cinzas, de 3 décadas de instabilidade, indisciplina, desorganização, corrupção e impunidade.

 

Naturalmente não seremos todos culpados, mas todos somos responsáveis e a cada nível devemos todos assumir as nossas responsabilidades individuais, sociais e políticas.

 

O povo guineense está ávido de paz, boa alimentação, saúde, saber, modernidade e prosperidade, e tudo o que conseguiu, fê-lo por moto próprio, remando contra a maré que as lideranças maquiavélicas insistem em impor-lhes.

 

Há factores positivos e objectivos que nos podem inspirar, animar, encorajar e devolver a esperança a cada um e a todos nós: a beleza e diversidade natural do nosso país, a sua riqueza cultural, a criatividade, optimismo e energia do seu povo, a sua alegria, o sentido de solidariedade e de hospitalidade, perfil teimosa e sistematicamente contrariado pelos comportamentos, atitudes e práticas das lideranças políticas, militares e demais grupos sociais, apenas motivados pelos respectivos interesses e ambições pessoais…

 

As lideranças políticas e militares vêm intoxicando as suas comunidades de origem para se aproveitarem do seu espírito de solidariedade e induzir de forma criminosa, contradições, antagonismos, rivalidades e ódios.

 

Não fossem as características do povo acima referidas, este pequeno país não teria feito a luta que fez e não poderia ter sobrevivido a todos estes anos de desgovernação e de violência.

 

Só um povo com a maturidade e tolerância do povo guineense pode sobreviver a todas as catástrofes sociais a que tem sido submetido sem enveredar por ajustes de conta entre famílias e comunidades e mergulhar numa guerra civil complexa e interminável.

 

É preciso agir antes que a prolongada erosão provocada por estes ciclos de violência e permanente intoxicação conduzam a uma aniquilação total deste belo país e deste povo maravilhoso.

 

Somos todos interpelados a um empenho patriótico mais sério e abnegado: governo, cidadãos guineenses vivendo no país ou na diáspora, parceiros de desenvolvimento internos e externos.

 

Todos juntos devemos identificar a melhor estratégia, planificar, organizar e materializar o que deve ser feito, com patriotismo e responsabilidade, mas a classe política dirigente e a sociedade civil organizada têm que assumir obviamente o maior protagonismo e a sua responsabilidade histórica intransmissível.

 

É preciso traduzir a diversidade, sabedoria e tenacidade do nosso povo em programas bem estruturados, para combater sem tréguas o obscurantismo e o oportunismo, em todas as suas formas, PROMOVENDO O SABER E A EXCELÊNCIA para (re) construir o país e a sociedade…

 

 

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