GUINÉ-BISSAU: um longo caminho a percorrer

 

 

Por: N´hobsan Pedro Djata *

midanadjata@yahoo.fr

Rabat, 04 de Março de 2009

 

Bissau, 7 de Junho de 1998, um país mergulhado na guerra civil; Maio de 1999, um país libertado do sofrimento, devastado pela guerra. Em 2000, as eleições presidenciais, esperança moribunda, desilusão dos partidários da tese «a esperança nunca morre». Em 2005, os guineenses expressaram as suas frustrações e a doença de não saberem em quem confiar, as urnas falaram e o General Presidente foi eleito.

Em Março de 2009, a morte trágica deste último e do seu amigo-inimigo e acolhedor em 2005, Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, veio confirmar a tese segundo o qual «na Guiné-Bissau, tudo é possível» e, o que os guineenses só não podem fazer é transformar o sol em lua.

A Guiné-Bissau, país que nunca compreendi e onde vivi a maior parte da minha existência fez mais uma vez a primeira página dos jornais e da imprensa mundial, não pela proeza alcançada pelos seus filhos no domínio do desenvolvimento mas sim pelas suas derivas, brutalidades e uso de força como último recurso; recordo assim o famoso ditado segundo o qual «Ó nô murri tudo ou nô vivi na paz eternamente», tradução (Ou morremos todos ou vivemos em paz para a eternidade).

Em dez anos (de 1999 a 2009), a Guiné-Bissau mergulhou-se no fundo dos oceanos e deixou-se levar pelas ondas poderosas do Saltinho, do rio Geba e do rio Corubal até ao Oceano Atlântico. Em dez anos, a Guiné-Bissau recuou, desmaiou, se me permitem, vou emprestar o famoso adágio e transportando-o ao país inteiro «Guiné-Bissau dismaia ma i ka murri» preferível ao «Bolama dismaia ma i ka murri» e foi-lhe diagnosticada uma doença grave, ficando internada no hospital «Simão Mendes», sem remédio capaz de lhe curar essa doença crónica; está em risco de vida, continua a tremer, a gemer e à espera do dia do julgamento final. Enfim, em dez anos, a Guiné-Bissau entrou simplesmente no inferno.

A incerteza e o medo de ver o dia seguinte fazem parte do quotidiano dos guineenses, que continuam a viver do dia-a-dia porque nunca se sabe quem será a próxima vítima. E, como filho da Guiné que sou «fidju di tchon» uma multiplicidade de questões me preocupam e me deixam sem sono.

- Será que vamos continuar a resolver os nossos problemas na Guiné-Bissau sempre pela força das armas?

- Será que o povo da Guiné-Bissau não merece a paz e a tranquilidade?

- Será que os conceitos tão proclamados da democracia e dos direitos humanos não existem no dicionário dos guineenses?

- Quem manda na Guiné-Bissau? Será…será…será…? Questões recorrentes, respostas misteriosas e infundadas.

O destino do nosso país continua a ser adiado. Portanto, temos um longo caminho a percorrer, caminho feito de pedras, lamas e obstáculos onde só a vontade, a perseverança e o espírito de sacrifício podem triunfar.

Na Guiné-Bissau, os nossos problemas nunca se resolvem pela via pacifica; a arma de fogo é a via mais legal da expressão «matchundadi» «maturidade e coragem» enquanto nas nações modernas e civilizadas, integradas na globalização em curso, tudo se resolve pela via das negociações, concessões diversas e compromissos entre as partes em conflito. Todavia, a inércia e a má fé assim como a passividade faz com que aqueles que acham ter o direito de repor a constitucionalidade ajam desse jeito.

O povo, extasiado, amedrontado e fatigado já pediu a paz e a tranquilidade mas ironicamente vota sem medir as consequências dos seus actos políticos e cívicos nos «aventureiros políticos» para conduzirem o destino da nação.

Os conceitos da democracia e dos direitos humanos, ausentes no dicionário guineense ou então ignorados pelos guineenses, deixam lugar para todos os tipos de violações e ameaças dos quais o povo se encontra submergido.

A democracia definida como Poder do povo, para o povo e com o povo (Abraham Lincoln), é utilizada como o último recurso dos desesperados para poderem alcançar o que nunca poderiam alcançar honestamente com o trabalho. Quem nos daria a oportunidade de termos uma Escola Nacional da Administração Pública, à imagem da escola do mesmo nome em França, em Marrocos e em vários outros países, capaz de formar a elite da classe dirigente guineense ao mais alto cargo da nação porque temos uma carência de elites; uma crise de elites é visível na Guiné-Bissau.

Os Doutores «fantoches» sem visões políticas, utilizando diplomas «comprados», «fictícios» ou «mal adquiridos» são numerosos na Guiné-Bissau. O povo analfabeto é sempre enganado, instrumentalizado ou utilizado cegamente para o cumprimento das ambições pessoais de alguns. O senhor José Manuel Fortes (Zé Manel) tinha expressado nesses termos «Formadus sim forma bô danu carro», o que quer dizer que aqueles que não são capazes de levar este país ao bom porto deveriam dar a oportunidade aos que são capazes de cumprir esta tarefa difícil mas possível.

A questão recorrentemente posta na Guiné e em toda a parte do mundo: quem manda na Guiné-Bissau, não encontra resposta porque os políticos eleitos nas eleições ditas transparentes e justas têm como mentores e conselheiros aqueles que merecem o respeito e o medo, les seigneurs de la guerre (os senhores das armas). Estes últimos fazem e desfazem a história. Ameaçam e apoiam quem quiserem em nome da estabilidade governativa, sem se preocuparem com o texto sagrado da Constituição várias vezes violada, saqueada e despejada em pedaços.

A Guiné-Bissau perdeu dois (2) dos seus filhos, aqueles que marcaram a história desta jovem nação com apenas 36 anos; uma história escrita com caneta de ouro e letras vermelhas, cores de sangue desde as colinas de Boé até à proclamação da independência, e da independência aos dias de hoje (2009). Estes dois homens apesar de todos os defeitos e derivas merecem luto nacional e cerimónias fúnebres dignas do nome «combatentes da liberdade da pátria».

Quanto aos meus irmãos guineenses, uma nova era deve ser proclamada, alto e forte; a era da promoção da democracia, da proclamação dos direitos humanos e liberdade de expressão e marcha em direcção ao desenvolvimento.

Esta marcha para o desenvolvimento iniciada em 1973 com a proclamação da independência nos matos de Cassacá em direcção a Bolama (primeira capital da Guiné-Bissau) e transportada para Bissau deve prosseguir. E, desta vez, devemos depositar as nossas armas e fazer falar a matéria cinzenta, apostar em «méritocracia», privilegiar a competência e o saber fazer (o homem certo no lugar certo), privilegiar o diálogo e «ajustes de contas» nas urnas, inculcar assim aos nossos jovens os valores da democracia onde os adversários são opostos pela ideologia partidária mas unidos pela preocupação de desenvolver o país, preparar assim um caminho sem obstáculos e barreiras para as gerações vindouras e fazer face às exigências do modernismo e do século XXI em que estamos inseridos.

 * Estudante do último ano de Mestrado em Estudos Diplomáticos Aprofundados na Faculdade de Ciências Jurídicas, Económicas e Sociais de Rabat (Marrocos). Diplomado em Gestão Administrativa pelo Ciclo Superior da Escola Nacional de Administração de Rabat

  

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