GUINÉ-BISSAU: TUDO DESMORONA COMO UM BARALHO DE CARTAS

 

 

 

 

 

Por: Watna Almeida

 

 Praia, 09 de Março de 2007

 

 

“ DJININTONS QUI BIDA CU NBALA NA SABURA..,

SIM QUIRI SIBI CUMA MANGA DI PRETUS NA MURI CU CANSERA”

 

 

 

São palavras e letras de uma canção do grande Músico Guineense, Sidónio Pais, feita há mais de vinte anos, e que relata situações que, curiosamente, ainda continuamos a assistir na Guiné-Bissau. As mesmas situações que outrora se debateram e tanto se tentaram ultrapassar mas que, infelizmente, ainda se encontram na mesma.

 

Actualmente o mundo, está a ser confrontado com questões relacionadas com a evolução, com o crescimento, com a inovação, com o desenvolvimento, com as novas tecnologias, com a introdução de uma nova dinâmica organizacional, com avanços na Ciência e na Medicina, com o respeito dos direitos do Homem, com a solidariedade e o espírito de união, com a Democracia e clarificação de jogos democráticos, com principal destaque pelo respeito das leis e das Constituições que regem as Repúblicas, com a valorização dos recursos Humanos e credibilização das instituições do Estado, com o reforço de apoio às instituições e sectores privados baseado numa verdadeira parceria rumo ao desenvolvimento, com a luta contra a pobreza, com a definição de políticas claras de defesa e da segurança, com uma política de educação acompanhando a evolução do mundo tecnológico, assim como a sua importância para o desenvolvimento e troca de conhecimento entre os povos;

 

A Guiné-Bissau, estando inserido num contexto algo atípico, que por mais que se pretenda estabelecer uma análise acabamos sempre por ser confrontados com obstáculos de variadíssima ordem ao ponto de voltarmos  ao princípio; A nossa questão baseia-se numa mentalidade estúpida de que somos os maiores e que sabemos fazer tudo basta darem-nos dinheiro, somos acima de tudo matchus, sabemos mais do que ninguém trabalhar, usar a força quando é preciso, bater nos mais desfavorecidos porque são esses que gostam de complicar, somos sempre os donos da razão quando somos nós a mandar e o resto são perturbadores, a violência não nos assusta muito menos a morte, somos os maiores …, vivemos numa cultura de intimidação e de violência, usando a força só quando somos donos de patentes…

 

O contexto hoje é outro, as lutas hoje são outras o nosso inimigo hoje, também é outro… Tudo mudou, é preciso que os Guineenses tomem isso não como uma simples observação mas como um dogma que veio para ficar.

 

O desenvolvimento é o nosso principal desafio, a inovação, criatividade, a produtividade, a competência, as novas tecnologias, o acreditar, a esperança, a imagem, o respeito pelas pessoas e instituições, a redução da pobreza e a união, são palavras que devem-se situar no centro de discussão de ideias e de observação comum rumo ao desenvolvimento;

 

Muito tem sido o sofrimento do tão martirizado povo Guineense, desde a sua história que muitos ainda teimam em se orgulhar mas, na realidade sem menosprezar os seus aspectos positivos, até hoje estamos e continuamos a pagar por tanta violência da pesada herança que a luta de libertação nacional nos deixou, isto sem esquecer o sete de Junho de 98 que ainda se encontra vivo na mente de todos; Os hospitais são exemplos desta violência, sem meios e sem condições mínimas de funcionamento onde tudo é prioridade, onde duas mulheres grávidas são postas na mesma cama na maternidade, onde por mais que cheguem os apoios eles são insuficientes para cobrir a tamanha necessidade e urgência dos utentes que na sua maioria são pessoas carenciadas com dificuldades a nível financeiro e no tocante à alimentação. Escolas sem condições usando ainda o Kirintim, falta de giz, de cadeiras e secretárias nalguns casos, a má nutrição por parte dos alunos, falta de professores qualificados, um ensino superior debilitado com necessidades básicas de funcionamento e sem apoios do Estado.

 

 Resumindo, temos uma taxa de mais de 70 porcento de analfabetos com a agravante das mulheres constituírem a sua maioria.

A maior parte das nossas infra-estruturas são da época colonial, sem quaisquer acções de manutenção, estradas debilitadas, falta de energia eléctrica e de controlo policial, indícios de corrupção, discredibilização das instituições públicas e do próprio Estado, os militares ainda hoje a terem uma palavra directa no rumo dos acontecimentos e da governação, políticos desgastados sem estratégias e com falta de visão, uma juventude sem referências, sem rumo e sem apoios, a droga, a prostituição e a criminalidade retratam o nosso quotidiano actualmente;

 

“Frustração”  é a palavra que encontro para descrever o actual estado de espírito da maioria dos Guineenses quadros e jovens Guineenses que se encontram dentro e fora do país, muitos como eu, resolveram deixar tudo e regressar, num espírito nacionalista para em conjunto  num espírito democrático, de conhecimento e responsabilidade contribuir para a edificação de um Estado de Direito pluralista e Democrático com aposta clara no desenvolvimento e revirar de rumo da actual situação insustentável na Guiné-Bissau, outros fora do país, mas com vontade de  regressar e de vir dar o seu modesto contributo, mas... no actual contexto afirmo mesmo que é uma pura utopia, e assim nem daqui a cem anos iremos lá chegar.

 

Hoje a Guiné-Bissau pode orgulhar-se dos seus filhos que se encontram a trabalhar e a dar os seus máximos na diáspora. Verdadeiros profissionais que vêm tapando a vergonha que é o país actualmente no mundo, contribuindo através das suas remessas que diariamente vão enviando às suas famílias, aliviando o sofrimento dos magro salários que ainda tardam em ser pagos.

Devem ainda os Guineenses, sentirem-se orgulhosos por terem o país que têm com enormes potencialidades e de grandes recursos que poderão servir a todos no futuro;

 

Defendo que a sobrevivência de uma sociedade não depende só dos recursos naturais, mas, principalmente, de uma sociedade com conhecimento, dos seus recursos intelectuais, se de facto é esta a nossa premissa então devemos abster-nos de preconceitos e aceitarmos o nosso atraso com consciência de que tudo depende de nós e não dos muitos dinheiros comunitários que todos os dias ouvimos com satisfação que a comunidade internacional doou ao nosso país mas que na pratica não são visíveis os resultados para o povo;

 

A realidade é esta, nua e crua, mas a esperança e a vontade de fazer e de contribuir ultrapassam a realidade, e se assim é são os próprios guineenses que actualmente foram confiados pelo nosso martirizado povo que devem dar o primeiro passo e fazer da reconciliação a nossa bandeira e do desenvolvimento o nosso principal inimigo a vencer.

 

PROJECTO GUINÉ-BISSAU: CONTRIBUTO - LOGOTIPO

VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!

Projecto Guiné-Bissau: CONTRIBUTO

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