Guiné-Bissau hoje

 

Fernando Casimiro (Didinho)

didinho@sapo.pt

24.09.2010

Estimados camaradas da Associação de Jovens para Acção e Cidadania pela Guiné-Bissau (AJAC - GB);

Caros camaradas da Associação de Jovens Imigrantes (AJI);

Ilustres convidados, compatriotas e amigos da Guiné-Bissau;

Ao iniciar a minha intervenção, quero agradecer o convite que me foi endereçado pelas Associações organizadoras desta iniciativa que visa assinalar os 37 anos da proclamação da independência da República da Guiné-Bissau.

Se me permitem, por achar pertinente um esclarecimento sobre a questão, ressalvo que os guineenses, por esta altura, comemoram os 37 e não 36 anos da proclamação da independência da Guiné-Bissau, tão notória é a contradição nas diversas divulgações e referências sobre eventos comemorativos alusivos à data.

Efectivamente, a proclamação da independência foi proferida no dia 24 de Setembro de 1973, nas matas de Madina de Boé, pelo então Comandante João Bernardo "Nino" Vieira, na qualidade de primeiro Presidente da Assembleia Nacional Popular, previamente constituída. É esta data, que ficou registada como o dia da Proclamação do Estado, que passou a ter como primeiro Presidente, Luís Severino de Almeida Cabral.

Quando se fala em 36 anos, confunde-se a proclamação da independência, a 24 de Setembro de 1973, com o reconhecimento dessa independência, por parte de Portugal, potência colonizadora, a 10 de Setembro de 1974.

Ora, o que os guineenses comemoram ou assinalam, é o dia 24 de Setembro e não o dia 10 de Setembro, o que equivale dizer que, comemoramos a proclamação do Estado anunciada há 37 anos e não há 36!

Entrando concretamente no tema que me foi proposto abordar, decidi trazer-vos uma outra visão do que habitualmente caracteriza o debate sobre a Guiné-Bissau de hoje, do nosso dia-a-dia.

Apontar o que está bem ou mal na Guiné-Bissau, tem sido uma constante na minha vida, pelo menos nos últimos 7 anos, por isso, achei interessante apresentar, nesta comunicação, a relação entre a Guiné-Bissau hoje e os jovens, para mostrar-vos que, para além de tantas causas sobejamente conhecidas que caracterizam os nossos insucessos, como povo e país, há uma razão que foi crucial no pós-independência e que bloqueou a projecção de áreas e etapas de desenvolvimento do país até aos dias de hoje.

Na Guiné-Bissau do pós-independência não houve PASSAGEM DE TESTEMUNHO da geração da luta de libertação nacional para a geração da luta pelo desenvolvimento nacional - jovens formados e capacitados.

Os que lutaram com armas de fogo pela independência da Guiné-Bissau, ainda hoje teimam em ser donos da terra, impedindo os que podem lutar com as armas do conhecimento, de assumirem o papel de força geradora do desenvolvimento do país.

Falar da Guiné-Bissau de hoje, implica, necessariamente, recordar a euforia de uma vivência única que foi o anúncio da proclamação unilateral da nossa independência.

Convidado por Associações de Jovens, esta minha intervenção destina-se essencialmente aos jovens, com quem partilho hoje algumas das minhas recordações aquando da proclamação da independência da Guiné-Bissau.

Tinha eu 12 anos de idade e de vivência juvenil da Guiné, dita portuguesa; já aluno do 3º ano do Liceu Honório Barreto, experimentado na arte de sintonizar a estação da Rádio Libertação, apesar das constantes preocupações e recomendações dos meus pais.

A proclamação da independência foi para mim, na altura, como que uma desforra pelo assassinato de Amilcar Cabral, ocorrido a 20 de Janeiro do mesmo ano.

Lembro-me que foi o abrir de alas para muitos jovens, sobretudo na casa dos 17 anos para cima, que deixaram suas casas e familiares para entrarem nas matas da Guiné, eufóricos, decididos a juntarem-se aos combatentes do PAIGC para o derradeiro esforço da libertação total da Guiné do jugo colonial português.

A cada dia que passava, dava-se conta que mais rapazes e raparigas tinham seguido pisadas de outros e outras, destino: "mato",  PAIGC.

Ainda havia guerra, mas a esperança na vitória era cada vez maior! O povo ansiava pela libertação e quando a força da guerra, particularmente na Guiné-Bissau,  precipitou o Levantamento Militar de 25 de Abril de 1974 em Portugal, soltaram-se todas as amarras, partiram-se todas as correntes. Concretizava-se assim o sonho da Libertação, o que consequentemente veio a traduzir-se em negociações que possibilitaram o reconhecimento de jure da independência da Guiné-Bissau, pelas novas autoridades portuguesas, a 10 de Setembro de 1974.

De um lado e de outro, era o fim de um dos mais retrógrados regimes coloniais da História!

Ilustres convidados, compatriotas e amigos da Guiné-Bissau;

A Guiné-Bissau de hoje, volvidos 37 anos de independência, continua a ser a Guiné-Bissau entre a desilusão e a esperança.

Jovens de ontem, feitos homens e mulheres hoje, continuam desiludidos pela forma como foram impedidos de assumir e exercer os seus direitos de cidadania. A liberdade supostamente conquistada com a independência, não passou de uma miragem...

Jovens de ontem, feitos homens e mulheres hoje (esperanças de um futuro melhor para a nossa terra e para o nosso povo), comprometidos com o desenvolvimento do país, formados em várias Universidades do Mundo, regressados à Pátria, foram excluídos do processo de desenvolvimento nacional, humilhados, perseguidos, feitos prisioneiros, torturados e até executados ou obrigados a abandonar o país.

Muitos saíram para não mais regressar até aos dias de hoje...deixando a Guiné-Bissau mais pobre, mais carenciada, mais enfraquecida, mais angustiada, mais dividida, mais atrasada e à mercê dos malfeitores.

A Guiné-Bissau do poder da força das armas, da intolerância, da ganância pelo poder, da mediocridade, tal como no período do monopartidarismo, assim continua a ser nos dias de hoje.

Jovens de hoje, nossas esperanças, homens e mulheres de amanhã, formados em diversas Universidades do Mundo, não são aproveitados para o processo de desenvolvimento do nosso país.

Tal como os jovens de ontem, vêem suas liberdades condicionadas; suas iniciativas de carácter cívico interpretadas como acções subversivas contra o país, sendo ameaçados, insultados e "impedidos" de regressar à Pátria...

Dos que regressam à Pátria, muitos acabam por se perder na vida...

A esperança que motiva quem continua a acreditar nas potencialidades do país, sobretudo nas potencialidades humanas, advém precisamente do facto de sermos um país em regeneração. Um país de gente jovem, que valoriza o saber, o conhecimento; que conhece os seus direitos e deveres; que está disposta a lutar para contribuir pela afirmação, pela dignidade, pela Paz, Estabilidade e Desenvolvimento do país que é de todos e não apenas dos que estiveram nas frentes de guerra durante a luta de libertação nacional, ou dos que são militantes ou simpatizantes do Partido que protagonizou a luta de libertação e a proclamação da independência nacional.

Aos Jovens da nossa terra, lanço o desafio de exigirem a passagem de testemunho. É chegada a hora de a Guiné-Bissau optar pelo saber, pelo conhecimento, pela mais-valia dos seus filhos mais capazes, se de facto quisermos o progresso do país e o bem-estar do nosso povo.

Os jovens de hoje devem organizar-se, devem debater e discutir o presente e futuro do país, para que amanhã não sejam também responsabilizados de nada terem feito para que as gerações seguintes tenham a vida facilitada.

Os jovens de hoje devem exigir oportunidades de participação nas discussões de assuntos de interesse nacional, porquanto serem eles o garante da continuidade de tudo o que hoje se pensar e se fizer pela Guiné-Bissau!

Vejo uma Guiné Positiva no horizonte, porque acredito nos jovens de hoje, pois que, há muito têm dado sinais de estarem comprometidos com o país e de conhecerem e assumirem os seus direitos e deveres de cidadania!

Viva a Guiné-Bissau!

Viva o Povo guineense!

Honra e Glória aos obreiros da independência!

VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR, PELA PAZ, ESTABILIDADE E DESENVOLVIMENTO!

O MEU PARTIDO É A GUINÉ-BISSAU!


PROJECTO GUINÉ-BISSAU: CONTRIBUTO - LOGOTIPO

VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!

Associação Guiné-Bissau CONTRIBUTO

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