GUINÉ-BISSAU: UMA CRISE FORÇADA PELO PAIGC

O primeiro compromisso de todos os guineenses deve ser para com a Guiné-Bissau. Cabe ao povo guineense a acção da Mudança!

 

Por: Fernando Casimiro (Didinho)

didinho@sapo.pt

09.08.2008

 Uns batem palmas, outros abanam a cabeça; outros ainda, encolhem os ombros...

Uns e outros, dos que falam e dos que se ficam pelo silêncio, parece haver um ponto comum entre vozes e olhares: A Guiné-Bissau, continuando a trilhar por um percurso destrutivo como tem sido até aqui, jamais conseguirá estabilidade governativa (numa primeira fase), que lhe permita garantir a Paz, que por sua vez é um incentivo ao TRABALHO e ao DESENVOLVIMENTO!

De crise em crise, na eterna luta pelo poder, tem-se fugido ao compromisso para com o país; compromisso esse, que todos os políticos e militares assumem nos diversos juramentos de fidelidade e bem servir a pátria, mas que rapidamente é substituído pelo compromisso da defesa dos interesses pessoais e afins, esquecendo-se os senhores protagonistas, de que deve-se servir o país para um benefício colectivo e não servir-se dele para um benefício restrito.

Compromisso que também passa pelos cidadãos que, infelizmente, continuam indiferentes quer aos  direitos, quer aos deveres, o que em nada contribui para a criação de um clima de maior exigência entre responsabilidade e responsabilização que deve existir na relação Estado/Sociedade.

Habituamo-nos às ajudas e hoje, também estamos à espera que das ajudas externas cheguem soluções (cérebros descartáveis?) para os problemas da nossa terra, problemas maioritariamente criados por nós e cujas causas conhecemos melhor do que ninguém.

Caiu mais um governo, a juntar a muitos outros, quer com relação a golpes de Estado (força militar), quer relacionados com golpes palacianos (estratégia de conveniência do Presidente da República). Se pararmos para pensar um pouco que seja, nos prejuízos (a todos os níveis) que estas acções provocam ao país, de certeza  que não haveria muita gente a bater palmas, a abanar a cabeça, ou a encolher os ombros...

Na Guiné-Bissau, um governo demitido nunca presta contas. Os desvios de fundos, as alienações de património, etc. ficam antecipada e garantidamente impunes no acto da tomada de posse dos governantes.

Acordos internacionais e outros, acabam sempre por ficar a "meio caminho", em prejuízo, claro está, da Guiné-Bissau.

Caiu mais um governo, sendo que este, era um governo que simbolizava, teoricamente, a estabilidade político-governativa, tendo em conta a convergência  dos pontos de vista dos partidos signatários, através de encontros periódicos de líderes e pela importância da rotatividade da presidência do Pacto que reuniu os três maiores partidos políticos guineenses.

Se um governo, suportado pelos três maiores Partidos guineenses, cai a três meses da data das eleições legislativas, é sinal de que, o espírito do Pacto, de que se falou na altura da sua subscrição, sempre se pautou pela desconfiança e, só mesmo a estratégia "vingativa" da humilhação a que o PAIGC e o seu Presidente, Carlos Gomes Jr. foram vítimas por parte de Nino Vieira ao demitir o governo saído das eleições legislativas de 2004, ganhas pelo PAIGC, permitiu uma iniciativa do género, numa pretensa desforra a essa humilhação, que para mais, contribuiu para o acentuar da divisão interna no PAIGC, bem como no PRS e no PUSD.

O Acordo Tripartido, ou Pacto de Estabilidade não nasceu para servir os interesses da Guiné-Bissau e dos guineenses. O seu fim inglório, é disso prova evidente.

O interesse, como ficou demonstrado, era manifestamente a (re) conquista e usufruto do poder, principalmente por parte do PAIGC que tinha saído vencedor das legislativas, mas que viu o seu Presidente, Carlos Gomes Jr.  afastado da governação, por Nino Vieira, dado existirem, na altura,  incompatibilidades pessoais entre ambos, (velhas amizades e suas promiscuidades...).

A crise que se (re) instalou na Guiné-Bissau, provocada pelo PAIGC, veio confirmar que, na verdade, do PAIGC de Amilcar Cabral já nada resta!

Nau, n ka na seta - José Carlos Schwarz

Quando há dias, o seu Presidente (PAIGC) apresentou a primeira reivindicação exigindo que, por ter sido o Partido mais votado nas legislativas de 2004, deveriam ser cedidas mais pastas governamentais ao seu partido, estava Carlos Gomes Jr. a dar sinais de pretender desestabilizar o Pacto de Estabilidade. Porquê?

Primeiro que tudo, por ser uma exigência extemporânea e, como tal, desenquadrada com os pressupostos de uma tal reivindicação.

Porque será que o PAIGC não levantou essa questão aquando das reuniões para a criação do Governo do Pacto de Estabilidade?

A três meses das próximas eleições, marcadas para 16 de Novembro é que o PAIGC deu conta de que, realmente a sua percentagem no governo não era proporcional aos assentos parlamentares obtidos em 2004? Mas será que sem o Pacto de Estabilidade, o PAIGC de Carlos Gomes Jr. não teria afundado de vez, por vingança de Nino Vieira?

A explicação por parte de Carlos Gomes Jr. de que, teriam sido substituídos alguns Directores -Gerais afectos ao PAIGC não sendo convincente, demonstra igualmente falta de vontade política para dialogar no sentido de se encontrar soluções, ainda que de recurso, para sustentar a governação até às próximas eleições.

Tomando em consideração alguns sinais da (re) aproximação entre Nino Vieira e Carlos Gomes Jr. não se podia esperar algo de bom desta reconciliação de "velhos amigos". Todos os passos dados por Carlos Gomes Jr. e, por assim dizer, em nome do PAIGC, depois da primeira reivindicação, foram no sentido de aniquilar o Pacto de Estabilidade Governativa, forçando assim à dissolução da Assembleia Nacional Popular e, a consequente demissão do governo.

Não havia dúvidas de que forçando a situação, Carlos Gomes Jr. e o PAIGC estariam a cumprir com as suas partes, deixando a Nino Vieira, que até foi convidado para ser Presidente Honorário do PAIGC, a sua parte restante, ou seja a decisão de dissolver a Assembleia e demitir o governo.

Porquê esta estratégia, se a data das eleições continua a ser 16 de Novembro?

Porque o PAIGC tem receio quanto a uma derrota nas urnas e com esta estratégia que possibilitou a nomeação de Carlos Correia (militante do PAIGC) como Primeiro-Ministro até à realização das próximas eleições, terá uma palavra a dizer nos últimos preparativos para a realização das eleições, pois ao seu partido (PAIGC) Carlos Correia deverá solicitar apoios  na avaliação de pastas durante este curto período governativo, o que possibilitaria ao PAIGC manipular informações e dados  a seu favor.

Mas porque receia o PAIGC uma derrota nas urnas?

Porque Kumba Yalá regressou do seu  exílio dourado de Marrocos, decidido a fazer o seu partido, o PRS, ganhar as próximas legislativas.

O PAIGC não se esquece do apelo ao voto étnico que Kumba Yalá costuma fazer e,  tendo em conta que o mesmo Kumba decidiu converter-se ao islamismo, passando inclusive a chamar-se Mohamed Ialá Embaló, juntando estes dois aspectos (condenáveis), o Kumba Yalá/Mohamed Embaló poderia angariar não só o voto étnico, mas também, o voto religioso para o "seu" PRS, obrigando o PAIGC a ter que fazer muitas contas e a redefinir estratégias para conseguir vencer as próximas eleições. Foi a pensar na forma de contrariar a estratégia do voto étnico e religioso do PRS que o PAIGC  entrou em desespero de causa, ao ponto de, neste momento, considerar Nino Vieira um facilitador e colaborador, tendo em conta a defesa dos seus interesses (PAIGC).

Foi o desespero do PAIGC que, uma vez mais, forçou a instabilidade política, que, por arrastamento, já despoletou sinais de instabilidade a nível militar.

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