Guiné-Bissau: Cultura em movimento

 

Filomena Embaló

fembalo@gmail.com

27.02.2008

 Filomena EmbalóCostuma-se medir a “vitalidade” de um país pela sua actuação económica e pela confiança que essa actuação inspira ao mundo dos negócios, atraindo os capitais necessários para o seu processo de desenvolvimento. A taxa de crescimento do produto interno bruto (PIB) do país é um dos indicadores mais citados para demonstrar essa vitalidade, embora nem sempre taxas elevadas do PIB correspondam a um desenvolvimento real do país devido à má ou à não redistribuição dos rendimentos.

 

Quererá isso dizer que um país que se confronta com graves e persistentes crises económicas, acrescidas de outras de natureza social, política ou militar, apresentando índices de crescimento económico nulos ou bastante baixos, seja um país em estado vegetativo? Perante a crise, a sua população torna-se amorfa e improdutiva?

 

Claro que a resposta é um “não” categórico! A população, num instinto de sobrevivência, adapta-se à crise e com uma criatividade espantosa recorre a meios, esquemas e outras astúcias para se defender e garantir o pão de cada dia.

 

Mas não é unicamente do ponto de vista material (económico) que a sociedade manifesta a sua vitalidade. Veículo de cultura, ela vai buscar  à sua essência a força motriz necessária para a afirmação da sua coesão.  A Guiné-Bissau, país em crises cíclicas desde a guerra civil de 1998-1999, ilustra bem esse fenómeno, através da sua cultura em movimento.

 

Com efeito o país cultural não parou. Certo, ele sofre as consequências da crise global, mas tem manifestado uma vitalidade e criatividade significativas. Em todas as áreas têm surgido iniciativas e cada um a seu jeito e no seu estilo próprio tem dado a sua contribuição.

 

A música guineense, que conta cada vez mais com novos valores tanto no país como na diáspora, vem tendo maior projecção na arena internacional. Eneida Marta, Justino Delgado, Nino Galissa, Zé Manel, Ramiro Naka, entre outros, embaixadores por excelência da música guineense,  têm-lhe dado títulos de nobreza além fronteiras. No país a produção musical também não tem parado. De realçar o trabalho da Banda de Música Furkuntunda, constituído por jovens do Bairro de Quelélé de Bissau, que valoriza temas da cultura tradicional e que lançou o seu primeiro álbum em 2007.

 

O teatro tem também sido objecto de atenção por parte guineenses. Quer se trate de grupos de teatro de bairros, quer a um nível com maior enquadramento, esta arte tem marcado pontos na cultura nacional. É o caso do grupo teatral “Os Fidalgos” com um já longo percurso de actuação e uma projecção além fronteiras com a participação em diversos festivais internacionais e espectáculos no estrangeiro.

 

A tinta da pena dos nossos escritores também não secou e a literatura guineense ganhou nestes últimos anos novas obras, entre as quais destacamos algumas das mais recentes: No Fundo do Canto” de Odete Semedo, Orações de Mansata” de Adulai Silá, “Estados de Alma: cem sonetos de vida e amor” de Tomás Paquete e Admirável Diamante Bruto e Outros Contos”, de Waldir Araújo que com esta obra se estreia na arte literária.

A realização cinematográfica também teve os seus frutos. Flora Gomes realizou em 2002 a sua quarta longa-metragem, “Nha fala” e em 2007 o filme documentário “As duas faces da guerra” em co-realização com a portuguesa Diana Andringa. Sana Na N’Hada em 2005 realizou o filme documentário “Bissau d’Isabel” e nesse mesmo ano surgiu um novo valor da cinematografia Bissau-guineense na pessoa de Adulai Jamanca com o seu filme documentário “Zé Carlos Schwarz – A Voz do Povo”.

Anualmente os festejos do Carnaval têm animado o país, nomeadamente a capital, com os seus desfiles e concursos de máscaras que aos poucos se vêm tornando numa atracção.

Diversas são as manifestações culturais que vão animando a vida nacional, pondo em destaque os muitos valores da cultura guineense em perpétuo movimento, mostrando a grandeza da alma deste Povo, que apesar das dificuldades de um quotidiano ingrato, continua a lutar pela preservação da sua identidade.

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