GUINÉ-BISSAU – crónica de uma autodestruição anunciada!!!

 

 

 

Por: Filipe Sanhá[1]

 

Filipe Sanhá

 

filipesanha@iol.pt

 

19.04.2009

 

É indesmentível que quase todos os países tiveram ciclos de guerras civis, violências e conflitos, nos primeiros anos de consolidação da sua identidade nacional, chegando por vezes a situações de enorme gravidade, comprometendo a sua própria integridade territorial. Poderíamos, quase todos, pensar que estes acontecimentos constituem uma evolução natural na consolidação das soberanias! Os guineenses derramaram sangue, e muito sangue, para a sua independência e soberania, pelo que é chegado o momento, para que compreendamos e percebamos da necessidade urgente, sobriamente, de, a par de debates políticos, acções concretas para travarmos a nossa autodestruição! Estamos, na verdade, num perigoso traçado, do nosso sangrento percurso para a construção identitária nacional. Não chega dizermos BASTA! É URGENTE AGIR!!!

Foram diversas as manifestações, de mulheres e homens guineenses antes da formação do PAIGC. Este “ Partido”, na sua fase inicial não era senão um movimento, com sensibilidades políticas e visões diferenciadas, sobre os métodos e o futuro dos guineenses. Cabral, pelo seu pragmatismo e realismo, fez com que todos compreendessem que era necessário estarmos unidos em torno de uma liderança forte e coesa, para agir, combatendo o colonialismo, que excluía qualquer hipótese de diálogo político. Isso parece ser o caminho percorrido por todos os movimentos de libertação que edificaram países, hoje, na senda do desenvolvimento económico, social e cultural.

Lendo os manuscritos do Amílcar sobre o Congresso de Cassacá, em 1964, concluímos da sua enorme genialidade na organização e condução de homens. Pelos vistos o Congresso não foi nada fácil, mas como era necessário agir para reestruturar a componente político militar, dando-lhe uma nova dinâmica, separando o trigo do joio, agiu-se, embora se tivesse criado novas, e provavelmente, acentuando as antigas clivagens! Foi o momento da criação das Formas Armadas Revolucionárias do Povo (FARP). Esta decisão veio criar outra motivação e visão estratégica à luta guerrilheira.

Quando eclodiu a guerra, na verdadeira acepção do termo, em 1963, tinha eu 8 anos. Nasci e cresci até aos meus 11 anos, alternando a minha vida entre Bissau e Olossato, nas férias escolares, uma localidade onde a guerra teve um desenvolvimento rápido, impressionante, talvez pela especificidade do terreno, que era propício a uma guerra de guerrilha. Vi, senti na pele os horrores dessa guerra! Portanto, foram, na verdade, muitos, os que deram a vida pela definição da nossa identidade colectiva, como pessoas, para fazermos parte, hoje, do concerto das Nações.

Ao ficar órfão, em 1973, pelo assassinato do seu líder/decisor principal, poucos anos antes da soberania plena do País, o PAIGC e a Guiné – Bissau perderam o rumo! Era como uma cobra sem cabeça!!! A indispensabilidade da sua presença na reorganização do país, no período pós guerra era indiscutivelmente evidente. O país andou à deriva, com uma direcção que nada estruturava, nada decidia, nada planeava, totalmente desprovida de ideias para a governação, por cobardia de uma direcção política colectiva sem liderança efectiva. Toda agente tinha medo de toda a gente dentro e fora do PAIGC de então!

Todo o aparelho do Estado necessitava ser criado de raiz, incluindo umas Forças Armadas Nacionais Republicanas. Nada disso aconteceu, o aparelho e a máquina, estatais foram sendo criados, casuisticamente, abandonado as FARP à sua sorte! Falar da etnização das FARP é fácil, hoje, mas, seguramente, a mobilização de mulheres e homens guineenses, em 1959, para os sacrifícios que se avizinhavam era uma tarefa que Cabral, afirmava nas suas obras, que se estivesse a espera dos intelectuais, em 1964 (Congresso de Cassacá), a luta armada estaria a ser discutida!

A criação de umas Forças Armadas Nacionais Republicanas, impõe-se, desmobilizando, honrosamente, e com dignidade alguns destas mulheres e homens. Até porque muitos, já em idade avançada e que serviram com bravura a Nação que ainda estamos a construir, precisavam de uma reforma digna e agradecimento, pela sua inestimável dedicação à causa nacional, continuando na nossa memória colectiva como HERÓIS NACIONAIS VIVOS.

O golpe de Estado de 1980, foi o segundo momento de prenúncio da autodestruição do País, a seguir ao assassinato de Cabral, porque nem os próprios militares que o promoveram, souberam explicar, de forma coerente, as motivações que estiveram na base do seu levantamento. O terceiro foi a guerra civil de 1998-99, fundamentalmente, pelos acontecimentos subsequentes. Foi neste último momento que, na realidade o país começou, de forma clara a caminhar, a passos largos para a sua autodestruição!

Agora, devemos interrogar-nos todos: que decisões vão sair da cimeira de Praia? Atenção, que as decisões colectivas internacionais são sempre muito intelectualizadas e demoram muito tempo a trilhar acções concretas. Já houve uma cimeira, em Lagos e há quase, 2 meses, continuamos na mesma: tudo por decidir!!!

DEUS, se me ESTÁ a ouvir, ajude-nos a salvar a Guiné, porque ela nunca precisou tanto de SI, como neste momento!!!

 


 

[1] - Psicólogo, Mestre e Doutorando pela Universidade de Coimbra (Portugal)

 


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