GUINÉ-BISSAU: CHEFES DE ESTADO AVANÇAM EM TÁTICAS MILITARES

 

 

Por: Ricardino J. D. Teixeira[1]

Ricardino Dumas Teixeira

ricardino_teixeira@hotmail.com 

06.01.2009

A suposta tentativa de assassinato do Chefe do Estado-MaiorGeneral das Forças Armadas - General Tagme Na Waie - lembra bem a recente estratégia militar utilizada pelo Presidente João Bernardo, há menos de um mês. Os dois são oriundos da mesma escola, a escola da zona libertada do PAIGC, e utilizam velhas estratégias para neutralizar o inimigo por meio do fator surpresa antes que seja tarde demais.

Não se trata na verdade de uma tentativa de assassinato, mas sim uma tentativa para garantir a segurança pessoal das duas forças em disputa. Quem consegue assassinar o Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas com apenas um tiro? Um bom fidju (filho) da Guiné sabe que o antigo líder da Junta Militar e o seu Vice não morreram de tiros. O Chefe do Estado-MaiorGeneral das Forças Armadas - consciente da tática e das manobras do Presidente - preferiu seguir a mesma estratégia de manobra típica da classe castrense guineense.

Já se transformou num costume da elite castrense a acusação de tentativas de golpes de Estado ou de assassinatos. A recente disputa militar ilustra bem essas estratégias. Os ensinamentos de Maquiavel parecem ser levados a sério na Guiné-Bissau quando este afirma com bastante propriedade que para permanecer no poder o príncipe deve contar com uma força militar formada de milícias, uma vez que as Forças Armadas nacionais não são confiáveis.

Foi exatamente essa uma das razões de tamanha disputa entre os Chefões do Estado.  O resgate das milícias “agüentas” constitui um duro golpe no Estado da Guiné-Bissau. O Presidente aproveitou a pobreza do país para constituir milícias armadas. A formação de milícias para segurança privada do Presidente representa uma ameaça à segurança nacional, ao mesmo tempo que abre espaço para aprofundamento de atividades ilícitas. Não parece ajudar para pôr fim ao narcotráfico de Estado no sentido de repor o direito constitucional!

Os dois Chefes de Estado (das Forças Armadas e da República) são os principais responsáveis pelo atual estado de pobreza política no país. O objetivo dos dois consiste em reforçar a forma de fazer política do Antigo Regime, mostrando a impossibilidade de superar o passado e começar a construir o futuro.

Com o surgimento de dois recentes atentados de assassinatos, toda a sociedade guineense está apreensiva, mais ódio e perseguição contra o povo, em beneficio do crime organizado e ampliação da pobreza, em benefício da ditadura personalista. O povo guineense - a exemplo de outros povos – possui uma tradição de heroísmo. De um país modelo na Costa Ocidental de África, a Guiné-Bissau transformou-se numa potência de conflitos.  Hoje, na Guiné-Bissau, o único mérito de que dispõe o país é o golpe de Estado e assassinatos ou sua encenação, conforme ressalta Didinho Casimiro numa análise política recente. 

Concluindo: quando os dois Chefes de Estado (das Forças Armadas e da República) falam em tentativas de golpe de Estado e assassinatos tentam simplesmente dar legitimidade à política de perseguição e manipulação como forma de manter o status quo, uma herança negativa da luta de libertação nacional.

 

[1] Mestre em Sociologia Política pela Universidade Federal de Pernambuco. Professor de sociologia na Faculdade de Ipojuca - Brasil

 


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