ESPERANÇA AMEAÇADA

 

 

Quadro de João Carlos Freitas de Barros "Caíto"

 

 

 

Por: Alai Sidibé

Alai Sidibé

 

Alt0154@londonmet.ac.uk

 

Londres, 19 Abril, 2007

 

O novo panorama político guineense não começa com qualquer anúncio sério de mudança no que se refere aos princípios fundamentais que ditaram a viabilização do chamado Pacto de Estabilidade Política e Governativa, já fortemente manchado pela inclusão nela de figuras que há muito perderam (se é que alguma vez a tiveram) a credibilidade e confiança da sociedade do país de Cabral.

 

Em vez de se optar por uma mudança de rumo que pudesse cativar a sociedade civil, as ONGs e outras entidades, bem como de parceiros internacionais, o que transparece no novo figurino governativo não deixa de ser uma simples fuga para a frente, um simples prolongar das agonias da sociedade, sem um único gesto até agora que indicie uma forma de governar que se demarque dos vícios precedentes.

 

Fiquei assim estupefacto com a nomeação para o ministério da administração interna de um dos lobos mais ferozes do actual regime ditatorial. Obviamente, falo do senhor Baciro Dabó. Trata-se de nomeação de figuras a cargos para os quais não têm a mínima vocação; seria como nomear o senhor Kumba Yalá para o cargo de ministro da igualdade étnica. Um contra-senso.

 

Quando o que está em causa é democratizar e desenvolver o nosso país, ninguém de boa fé ficará indiferente à inclusão do senhor Dabó num governo que se quer de reconciliação e tolerância. Digo isto por várias razões, mas por falta de espaço, apenas farei referência a algumas. Julgo ser do domínio comum o papel que este  senhor desempenhou durante o conflito militar de 98-99, que incluiu todo o tipo de atrocidades, que vão de eliminações físicas a torturas indiscriminadas a figuras inocentes com um único fim, ou seja, a manutenção do senhor general no poder, como aliás foi confirmado pelo senhor Baciro Dabó numa entrevista ao extinto semanário ‘O Independente.’

 

A nomeação de uma figura como o senhor Baciro para uma pasta que se tornou tão fulcral para o futuro dos nossos jovens – devido a multiplicação do tráfico de drogas pesadas - só se torna possível num país como a Guiné-Bissau, onde a argúcia é o estado normal e a verdade uma categoria abstracta. Do mesmo modo, a ausência de competência técnica e intelectual que este senhor nem consegue disfarçar, leva-nos a concluir que, a partir de agora em diante, mais do que num passado recente, a criminalidade e o tráfico de drogas encontrarão na Guiné, um parceiro indissociável, um mundo feliz e livre, para regozijo geral do novo riquismo guineense.

 

Claro que esta nomeação não podia ter senão uma mão do senhor general, que assim, pretende ter controle sobre as actividades de um órgão de soberania, tornando refém o governo de N`Dafa Kabi, ao procurar entravar qualquer esforço que ponha em causa os interesses instalados. É caso para perguntar – tal como o irmão Didinho desabafou – “como foi possível ceder?”

 

A continuação no governo, de Issuf Sanhá – agora como ministro das finanças - é um outro aspecto que merece referência, na medida em que se sabe que há muito que este senhor perdeu a «virgindade», ou seja, há muito que este senhor se tornou num simples servidor das negociatas corruptas da ditadura vigente.

 

O preocupado Michael Burawoy, da universidade da Califórnia, com a sua longa experiência de investigação, lembra que “qualquer iniciativa de governação séria requer uma aliança sinergética com a sociedade,” de modo a ganhar confiança e credibilidades das populações, sem as quais muito dificilmente um estado consegue a abrangência que qualquer iniciativa de desenvolvimento requer. Ora se numa primeira fase esta aproximação foi encorajada pela nova plataforma de entendimento governativo na Guiné, ela logo se esfumou, não se sabendo neste momento as suas consequências para o futuro do nosso país.

 

P. S.: Como fiz referência num artigo precedente, um país como o nosso, inteiramente dependente da ajuda exterior, não se pode dar ao luxo de ter tantos ministérios e secretarias de estado. A pulverização das agências de estado só atrofia a eficácia governativa. Mas este é um assunto a que oportunamente dedicarei um espaço mais alargado.

 

Um futuro melhor para a nossa terra. Viva a Guiné.

 

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