ESCLARECENDO INTERPRETAÇÕES EQUIVOCADAS

A PROPÓSITO DO FALECIMENTO DO EX-PRESIDENTE KUMBA YALÁ 07.04.2014

 

Fernando Casimiro (Didinho)

didinhocasimiro@gmail.com

09.04.2014

Fernando Casimiro (Didinho)Caro irmão Leonardo Santos,

Enquanto filho comprometido da Guiné-Bissau e cidadão conhecedor das realidades do meu país, com participação activa na produção e partilha de conteúdos de diversas áreas temáticas sobre a História recente da Guiné-Bissau de 2003 a esta parte, sem arrogância e ainda que não seja a "enciclopédia" da Guiné-Bissau, não posso deixar de lamentar que me queiras passar um atestado de incoerência com base num registo de memória do Embaixador português Seixas da Costa sobre o falecido ex-Presidente da Guiné-Bissau, o Dr. Kumba Yalá.

Pelos vistos, se o Dr. Kumba Yalá não tivesse falecido a 04.04.2014 do Embaixador Seixas da Costa, ninguém saberia o que se tinha passado nessa reunião de "amigos da Guiné-Bissau" em 2001 ...
Será que os guineenses precisam de se conhecer uns aos outros, ou de conhecer a realidade do país que é deles, apenas pontualmente, através de um ou outro "registo de memória" por conveniência, de supostos "amigos" da Guiné-Bissau?

Será que o texto que escrevi a propósito do falecimento do Dr. Kumba Yalá deve ser interpretado como sendo em defesa do político Kumba Yalá?
Felizmente, o Projecto Guiné-Bissau CONTRIBUTO é um ARQUIVO onde tudo continua à disposição de todos, para leituras e consultas.
Gostaria, caro irmão Leonardo Santos, que fosses mais preciso nas tuas insinuações a propósito do apoio que dizes ter dado ao político Kumba Yalá.
Vejo que não leste nada sobre o muito que escrevi sobre o Dr. Kumba Yalá, entre 2003 a esta parte.

Sugiro-te que leias os artigos que se encontram no espaço Editorial http://www.didinho.org/editorial.html
do site www.didinho.org de Maio de 2003 (criação do Projecto CONTRIBUTO) a Setembro de 2003 (deposição do Presidente Kumba Yalá por um golpe militar).
Sugiro-te igualmente que leias os artigos que escrevi aquando das eleições presidenciais de 2005 e 2009 realizadas na Guiné-Bissau, sobre os meus posicionamentos relativamente ao Dr. Kumba Yalá!
Caro irmão Leonardo Santos, os meus propósitos, sem desmerecer os propósitos de quem quer que seja, relativamente à Guiné-Bissau, é de evoluir no (e com o) tempo, ajudando com isso, quem se preza a acompanhar a minha evolução, lendo os meus escritos.

Do teu comentário, irmão Leonardo Santos, fiquei com a ideia de que para ti, deveríamos optar pela lógica do "para patife, patife e meio", por exemplo, para vincarmos a nossa postura de "valentes" e "dignos".
Eu, Didinho, não apoio matar quem mata; insultar o morto a quem nem sequer se fez o funeral e que em vida cometeu erros, pecados etc.
O Didinho critica, em vida, figuras públicas ligadas ao dirigismo nacional no intuito de ajudar essas figuras a melhorarem os seus desempenhos, em prol da causa/casa comum que é a Guiné-Bissau!

O Didinho, não pretende, não faz questão de seguir os passos ou de vir a ser pior do que figuras públicas que, consciente ou inconscientemente, cometeram erros graves que prejudicaram a Guiné-Bissau e os guineenses.

Não me propus a manipular os meus irmãos, através do Projecto CONTRIBUTO mas sim, a trabalhar com todos eles, visando a mudança de mentalidades bem como a cura espiritual que carecemos, demonstrativa que é, infelizmente, a nossa propensão para o mal, concretamente, para a vingança.

Citando Mahatma Gandhi "Olho por olho e o mundo acabará cego", devemos reflectir sobre o mal que nos tem causado a cultura da vingança, da violência e do desrespeito pelo próximo.

Como pode o irmão Leonardo Santos contribuir para que a Guiné-Bissau possa vir a ter ESTADISTAS/GOVERNANTES à altura das suas responsabilidades, quando, dos seus ensinamentos, está a semear em canteiros adubados com ódio e espírito de vingança...?!

Já levo muitos anos disto e quero, como sempre quis, o melhor para a Guiné-Bissau e para os meus irmãos guineenses!

Na minha perspectiva, o melhor não se traduz em vingança, ódio e outros negativismos. Pudera estar equivocado algures no tempo sobre valores, mas jamais estive, equivocado, sobre o valor e o respeito pela vida humana, mesmo depois da morte!

Sim, o Dr. Kumba Yalá, era uma pessoa capaz... de muita coisa, e neste momento de luto, apraz-me referenciar apenas os seus méritos e não, o contrário.
É verdade que, depois de Amilcar Cabral e os seus colegas que fundaram o PAIGC nenhum outro guineense, fundou, estruturou e dinamizou um partido político da envergadura do Partido da Renovação Social, fundado por Kumba Yalá!

É verdade que, nas eleições presidenciais até hoje havidas na Guiné-Bissau, Kumba Yalá foi o único "intruso" para além dos candidatos vencedores, apoiados pelo PAIGC!

É verdade sim, que, em 2000, não foi o voto étnico que elegeu Kumba Yalá a Presidente da República, nem foi o facto de ser o mal menor. O Dr. Kumba Yalá, a quem não se pode acusar de ser analfabeto, foi, enquanto "pensador lúcido" uma esperança para todos quantos votaram conscientemente nele para o cargo de Presidente da República em 2000.

Se foi uma decepção?

Sim, não tenho dúvidas e daí a razão, por exemplo, de ter criado o Projecto Guiné-Bissau CONTRIBUTO, mas tinha tudo, para "dar certo"!

Caro irmão Leonardo Santos, lê, relê, reflecte as vezes que forem necessárias, antes de fazeres insinuações gratuitas a meu respeito!

Obrigado pelo comentário, a meu ver potenciado por uma má interpretação ao meu texto, porém, promotor de um debate que será fértil para alguém. Vamos evoluir, melhorando os aspectos negativos que norteiam a nossa forma de ser e de estar!
Didinho

 
Leonardo Santos Didinho, ao expor a tua opinião, não deves asseverar aos dos outros. A tua opinião sobre o Dr Kumba é tão interessante e merecedor de atenção como as de outras pessoas. Embora é muito cedo para os historiadores escreverem sobre os nossos políticos já falecidos, como pessoas participantes no tão intenso e motivador processo político da Guiné, torna-se difícil não o fazer, como acaba de suceder ao didinho. Não pensava escrever algo sobre o Kumba - desejo sossego a a sua alma- mas o teu artigo acicatou-me, levou-me à resposta. Compreendo agora, o porque dá tua defesa do político Kumba. Muitas vezes se empenhou tanto nisso, ultrapassou o nível de compreensão à quem, como eu, segue de vivo interesse o seu projecto. Ao ler o seu artigo, pareceu-me estar a falar de uma figura desconhecida da cena política da Guiné. O raciocino ofuscou-me completamente, quando, ao referir o homenageado, citou:" sentia-o capaz e manifestamente evoluído para o meio no qual estava inserido "aventureiro" no comprometimento para a visão política e social que tinha da e para a Guiné-Bissau..." as opiniões são opiniões! Sinceramente, nunca consegui compreender alguém, muito mais a um político, pelo aquilo que tem na cabeça e não o consegue expressar. O Sr Dr Kumba, para além de insultos que fizera nas campanhas eleitoras nunca o ouvi expressar um ideia que alguém podia pegar e dizer " aqui está uma coisa bem dita!" Bem, peço desculpas, em relação as ideias surrealistas que tivera, uma vez dissera que iria transformar as densas florestas de Madina de Boé numa cidade superior ao Paris. _ "Ao César o que é de César!"
.

Um dia de 2001, na ONU, em Nova Iorque, estive presente, em representação de Portugal, numa reunião do grupo "amigos da Guiné-Bissau". O novo presidente guineense fora convidado a fazer uma apresentação sobre a situação no seu atribulado país, com vista a mobilizar a boa vontade e a ajuda da comunidade internacional. O tempo que lhe fora destinado para intervir foi largamente excedido, mas o seu discurso tinha coerência e demonstrava uma determinação no sentido da correção de algumas políticas, tudo envolvido num registo muito típico, desde logo marcado pelo barrete de lã vermelha que nunca o abandonava.

Com o meu colega brasileiro, Gelson Fonseca (atual cônsul-geral do seu país no Porto), e para potenciar o efeito positivo da reunião, combinei duas intervenções sucessivas de apoio à declaração do presidente, procurando dar ênfase à sua expressiva vontade de mudança. Outros embaixadores, em especial de países "do Sul", seguiram uma linha idêntica e, a meio da reunião, o ambiente podia considerar-se globalmente positivo, quiçá apenas com as reticências face à sustentabilidade das políticas que algumas lideranças africanas, em especial oriundas de países mais frágeis, nunca deixam de suscitar.

O delegado de um país do Norte da Europa abordou entretanto a sensível questão da corrupção. Notei que Kumba Ialá ficou muito atento à intervenção e, no imediato, pediu para responder. Com ênfase, marcou a sua firme determinação em pôr fim ao flagelo da corrupção no seu país. E, a certo passo, agarrando firmemente o ombro da ministra dos Negócios Estrangeiros, que estava a seu lado, disse, bem alto:

- Vou ser muito duro, podem acreditar. Por exemplo: aqui a senhora ministra. Se eu vier a descobrir que ela rouba, que é corrupta, podia mandar matá-la. Mas não, não a vou mandar matar! Mas vai levar tanta porrada, tanta pancada, que nunca mais vai querer roubar. Mas ele não rouba, não! - e dizia isto, contemporizador, abanando a constrangida ministra, que afivelava um sorriso que quero crer que seria amarelo...

Kumba Ialá falava em português e, na sala, para além do embaixador brasileiro e de mim próprio, que tínhamos olhado um para o outro algo preocupados com o facto do presidente poder ter "estragado tudo" com estas palavras, creio que só a intérprete que ia traduzindo as intervenções do presidente se inteirara do teor da comprometedora declaração. Contudo, a coreografia e o tom de Ialá tinham criado uma particular curiosidade nas restantes pessoas à roda da mesa, que aguardavam a tradução.

A intérprete, consciente da delicadeza do momento, olhou para mim, em busca de "ajuda" para superar o problema. Fiz-lhe um gesto discreto, a pretender significar a necessidade de "adocicar" fortemente as embaraçantes frases do presidente. E foi então que assisti a uma magnífica demonstração de profissionalismo, com a senhora a dizer algo como: "Mr. President wants to emphasize that corruption, in his country, is not punished with death penalty. Nevertheless, under his leadership strong mesures will be taken against those who may incur in such practices, even if they are members of his own government".

Olhei para o meu colega brasileiro e demos um suspiro de alívio. No final, dei uma palavra de parabéns (e gratidão) à intérprete. Tinha-nos ajudado a salvar a sessão. Uhf!

Em tempo: quando escrevi esta historieta, estava longe de pensar que me encontraria, logo dois dias depois, num almoço, com o meu querido amigo Gelson Fonseca, com quem me ri do episódio.

Publicado por Francisco Seixas da Costa à(s) 15:14

12 comentários:
 
A Guiné-Bissau é a soma dos interesses de todos os guineenses E NÃO DOS INTERESSES DE UM GRUPO OU DE GRUPOS DE GUINEENSES! Didinho

VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!

Cultivamos e incentivamos o exercício da mente, desafiamos e exigimos a liberdade de expressão, pois é através da manifestação e divulgação do pensamento (ideias e opiniões), que qualquer ser humano começa por ser útil à sociedade! Didinho

O MEU PARTIDO É A GUINÉ-BISSAU!

 

MAPA DA GUINÉ-BISSAU


VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!

www.didinho.org

   CIDADANIA  -  DIREITOS HUMANOS  -  DESENVOLVIMENTO SOCIAL