‘I Kapli’???

(Escapou)

 

 

 

 

Por: João Carlos Gomes*

João Carlos Gomes

 

gomesnyus@hotmail.com

 

14 de Agosto de 2008

 

 

 

‘Bubu’ Na Tchutu Não Está Em Posição De Montar Uma Ofensiva Militar Contra A Guiné-Bissau, A Partir Do Exterior? Quem É Que Disse?

 

Os perigos que enfrenta um país desorganizado, sem memória institucional, e, de memórias pessoais curtas!

 

1. Afinal de contas, cerca de apenas quarenta e oito horas após a publicação da peça em que o autor desta advertiu, quanto à possibilidade de um ‘Suicinato’ ou, outro, ‘Acontecimento não autorizado’, foi anunciado oficialmente que, a segunda hipótese avançada no artigo, já é uma realidade (ver, “Bubu Na Tchuto: Eminente o ‘Suicinato?’”, particularmente os parágrafos 6 a 8).

 

2. O facto de José Américo ‘Bubu’ Na Tchuto ter escapado da residência vigiada em que se encontrava – ‘acontecimento não autorizado’ - à espera da conclusão das investigações sobre a tentativa de golpe de Estado que é acusado, levanta um certo número de questões, uma mais séria do que a outra. A mais relevante destas seria: por que é que uma das figuras mais altas do regime, em uniforme, teria decidido fugir, em vez de enfrentar a justiça de um governo e, regime político de que ele próprio fazia parte? O que a decisão de Bubo deixa claro, é que, o Chefe do Estado-Maior da Armada não tem confiança na forma como o seu caso seria tratado. Por isso, só tinha uma opção: escapar. Esta revelação importante, constitui mais uma evidência do interesse que todos têm, no estabelecimento de um sistema, em que o Estado de Direito funciona, de facto.

 

3. O momento em que se registou a fuga do Comandante da Marinha de Guerra Nacional, também levanta a possibilidade de, as chamadas telefónicas ameaçadoras, de que a Ministra da Justiça foi alvo, terem sido feitas pelo próprio Bubu, antes de deixar o território nacional, rumo à Gâmbia; por um dos indivíduos que o acompanharam, ou; por alguns dos seus outros associados.

 

4. Entretanto, durante o período em que toda esta odisseia estava a ter lugar, regista-se uma estranha tentativa de desarmar o Procurador-Geral da República, um dos oficiais directamente envolvidos, nas investigações sobre a presença de dois aparelhos provenientes da América Latina, suspeitas de terem transportado um carregamento considerável de cocaína que desapareceu, sem deixar rastos. Se o Governo já tinha conhecimento da fuga de ‘Bubo’ como é que se justifica que agentes da polícia tenham tentado, a todo o custo e, nesse preciso momento, desarmar o Provedor de Justiça? Considerando o perigo iminente, foi a Ministra da Justiça notificada, imediatamente, de tal fuga?

 

5. Como é que Bubu Na Tchuto, conseguiu iludir a vigilância dos guardas é, apenas uma das perguntas que pendem sobre este caso. Quais as vias que utilizou para se deslocar? Como é que atravessou a fronteira nacional? Como é que não foi detectado, nem na entrada, nem na saída, pelas autoridades fronteiriças do Senegal, país vizinho por que teria que passar? E, finalmente, como e que entrou na Gâmbia? Tanto quanto se sabe, Bubu não fala Inglês, o idioma oficial.

 

6. No entanto, a escolha da Gâmbia não é de todo estranha, considerando a proximidade de ‘Bubu’ Na Tchuto ao malogrado Brigadeiro Ansumane Balancula Mané, líder da Junta Militar, emergida da revolta de 7 de Junho de 1998, processo de que ‘Bubu’ fez parte. Mané nasceu na Gâmbia, tendo-se posteriormente juntado à Luta Armada de Libertação Nacional, levada a cabo pelo Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC). Recorde-se que, devido à proximidade dos países em questão, não é fora de comum que os indesejados de uma ou, outra parte procurem protecção nos países limítrofes. Kukoi Samba Sanyang, que, em Julho de 1981 liderou uma tentativa falhada de golpe de Estado na Gâmbia, contra o então Presidente Dawda Kairaba Jawara, obteve refúgio inicial, na Guiné-Bissau. Registaram-se também casos de indivíduos oriundos de países mais distantes, como o do General M’Bumba, do então Zaire, após uma tentativa falhada de golpe de Estado por este, contra Mobutu Sese Sekou.

 

7. Quanto à pergunta sobre, o por quê da Gâmbia - e não o Senegal, país que tem fronteira directa com a Guiné-Bissau - que ainda perdura na mente de muita gente, há que não esquecer o ressentimento mútuo que certamente ainda existe entre membros da hierarquia militar de ambos os países (Senegal e Guiné-Bissau), sobretudo, patente num episódio tão conhecido que teve lugar durante os confrontos de 1998-1999. Com base numa tradição étnica, ‘Bubu’ Na Tchuto teria guardado como ‘troféu de guerra’, o crânio de um dos oficiais senegaleses de alta patente, que teria utilizado, durante o período da guerra, como cálice para consumo de aguardente.

 

 

Um abraço, um aperto de mão, e... Um obrigado?

Os movimentos de guerrilha nunca entregam todo o seu armamento, apenas porque estão envolvidos num processo de paz. 

 

8. Houve ou não tentativa de golpe de Estado é uma das perguntas que pairam no ar? Outra é, se Bubu Na Tchuto tem alguma possibilidade de montar ofensivas militares a partir do exterior. Aqueles que duvidam que Bubo esteja em posição de montar ofensivas militares contra o Governo da República da Guiné-Bissau, a partir da Gâmbia - conforme afirmou, por exemplo, o Porta-Voz das Forças Armadas guineenses, Arsénio Baldé - esquecem um pormenor importantíssimo. Existe um ‘cache’ considerável de armamento que, após os confrontos registados durante a ‘Guerra Civil de 1998-1999’, não regressou aos paióis nacionais. Onde é que se encontra? Alguém se dignou a fazer o inventário do material, incluindo, o destruído?

 

9. Recorde-se que, parte das razões que estiveram na origem dos confrontos armados de Junho de 1998, foi a questão da venda de armamentos aos rebeldes da Casamance, de que o então Presidente Nino Vieira e, o seu Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, o Brigadeiro Ansumane Mané, se culparam mutuamente. No entanto, há a notar o facto de que, durante a ‘Guerra Civil de 1998-199’, os rebeldes de Casamance converteram-se em inimigos declarados do Presidente, tendo combatido ao lado da Junta Militar, enquanto Nino Vieira era assistido pelas tropas do Senegal e, da Guiné-Conakry. 

 

10. Daí que, após ter oferecido uma contribuição valiosa, pelo menos em números, certamente que ninguém espera que os rebeldes de Casamance regressem às suas bases, apenas com um abraço, um aperto de mãos, e, um obrigado. Por ocasião da assinatura do ‘Acordo de Abuja’ em 1998, ainda duvidosos das intenções reais do Presidente João Bernardo ‘Nino’ Vieira, os oficiais que faziam parte da então Junta Militar teriam decidido confiar aos rebeldes de Casamance, uma parte considerável do armamento pesado e, munições. Esta foi uma forma, não só, de agradecimento pela sua contribuição, mas também uma estratégia lógica para manter ‘capacidades operacionais’, caso venha a registar-se um retorno aos confrontos armados.

 

11. Qual o papel de ‘Bubu’ Na Tchuto neste processo? Ela era um dos oficiais superiores da Junta Militar que teriam participado na decisão de manter escondido – entregue ou enterrado - algum armamento para garantir a retaguarda. Tal decisão não seria de admirar porque, simplesmente, faz parte dos manuais estratégicos, utilizados em todo o mundo, pelas melhores forças de guerrilha. Nino, mais do que ninguém, tem que estar consciente desta realidade. 

 

12. Parte da evidência deste facto, veio à tona aquando dos últimos confrontos que tiveram lugar na fronteira norte do país em Março de 2006 - entre militares guineenses e rebeldes de Casamance – sobretudo, na capacidade ofensiva melhorada demonstrada por estes, desta feita, e as dificuldades notáveis, por parte das tropas guineenses, em repudiar os ataques, surpreendendo a muitos observadores. A explicação é simples. Devido à sua participação na guerra da Guiné-Bissau, obviamente que os guerrilheiros de Casamance saíram do país, não só melhor treinados, mas também melhor armados. Ou seja, ironicamente, os rebeldes de Casamance estão hoje em posição de representar uma possível ameaça militar real, contra a Guiné-Bissau, graças, em parte, à sua colaboração passada com os próprios militares guineenses durante a guerra civil. 

 

13. E, sabe-se que, como parte do processo que teve lugar com a ‘Guerra Civil de 1998-1999’, os rebeldes de Casamance deixaram de ser amigos de Nino Vieira. Esta constitui uma das principais razões pela qual não seria muito difícil para ‘Bubu’ – ou, alguém na sua posição, com as suas alegadas intenções - conseguir mobilizar meios logísticos e forças, dentre os seus velhos camaradas de armas, com, ou sem o acordo expresso da liderança de tal movimento de guerrilha.

 

14. Por outro lado, se Bubu estava realmente envolvido com o negócio da droga, porque que não terá dinheiro depositado no exterior? Lembra-se alguém dos $17 (dezassete milhões dólares) descobertos numa conta bancária pessoal, na Costa do Marfim, em nome de Ansumane Mané? Quem é que garante que esse era o único montante depositado no exterior? Houve alguma investigação para determinar quem mais tinha dinheiro em situações semelhantes, ou; por exemplo, quem teria acompanhado Ansumane Mané, na altura em que fez tais depósitos?

 

15. Falando de fundos, e perante a situação com que a Guiné-Bissau se vê hoje confrontada, qual das seguintes situações fazem mais sentido? Ter tomado as devidas providências para garantir uma prisão segura para ‘Bubu’, ou; gastar todos os fundos que já começaram a ser disponibilizados, por exemplo, para as deslocações à Gâmbia, como parte do processo negocial agora em curso? Até ser concluído este processo, quanto é que o Governo e, os outros possíveis participantes, terão investido?

 

16. É difícil saber se ‘Bubu’ tem a capacidade de montar uma ofensiva. Mas, os meios existem. As guerras deixam sempre, para trás, muitas heranças. No caso específico da Guiné-Bissau, armas guineenses - e não só - em mãos alheias, com a possibilidade de serem utilizadas, contra os seus próprios cidadãos, representam apenas, uma delas. Daí, a importância da necessidade de engajar o país num processo genuíno de reconciliação nacional, durante o qual, nem tudo, mas quiçá, muito mais situações semelhantes, poderiam ser desvendadas. Há muito que o autor desta peça tem vindo a insistir sobre este assunto e... não é por acaso! No quadro dos seus esforços rumo à estabilidade, condição indispensável para se poderem conceber planos e estratégias realistas para um desenvolvimento sustentado, um estudo sério e aprofundado, sobre o impacto da ‘Guerra Civil de 1998-1999’, não é uma opção, mas sim, uma necessidade urgente. 

 

 

 

*Escritor/Jornalista

Nova Iorque

 


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