ENTREVISTA COM O DR. DIONÍSIO CUMBÁ

 

DR. DIONÍSIO CUMBÁ

 

"Não deixem morrer os doentes em casa. Levem-nos ao Hospital Pediátrico em Bôr, a questão do dinheiro para nós é secundária" Apelo do director do Hospital Pediátrico de Bôr

 


 

Agostinho Pereira Gomes

bonacansa@hotmail.com

20.03.2011

 

Agostinho Pereira GomesDionísio Cumbá, cirurgião pediatra licenciado pela Universidade de Padova, é um dos 4 quadros formados pela Igreja Católica afecto ao hospital de Bôr.

Durante a sua primeira viagem ao país da sua formação, após 8 meses de serviço na Guiné-Bissau, concedeu ao site www.didinho.org da Associação GBCONTRIBUTO-CIDADANIA uma entrevista exclusiva.

 

Na conversa que mantivemos, deixou-nos expressa a sua satisfação com a decisão que tomou de voltar para a Guiné-Bissau, tendo lançado um vibrante apelo ao povo guineense.

"Não deixem morrer doentes em casa. levem-nos ao Hospital Pediátrico em Bôr, a questão do dinheiro para nós é secundária".

 

O director do hospital pediátrico em Bôr fez este convite tomando em consideração que muitos guineenses ainda continuam a não levar seus parentes doentes para o hospital, facto que já tem provocado números elevados de óbitos.

"É inútil deixar pessoas morrerem de doença em casa, só porque temos o receio da nossa incapacidade económica", disse prosseguindo "o hospital pediátrico em Bôr já tem uma verba garantida através do "Proggetto Anna" para a cobertura de intervenções cirúrgicas às pessoas mais carenciadas, sobretudo crianças".

 

O cirurgião pediatra anunciou que a Administração do seu hospital estipulou um preço muito mais acessível para as consultas, quando comparadas com os outros hospitais existentes no país, dinheiro que "só serve para recuperar os custos de combustíveis gastos no gerador para produzir electricidade". Mas isso não quer dizer que "curamos só quem tem o dinheiro. Já operámos muitas pessoas sem receber sequer um tostão dos seus bolsos. O nosso objectivo é curar, com ou sem dinheiro", lembrou.

 

Instado a pronunciar-se sobre o objectivo da sua deslocação para a Itália, o jovem quadro apontou 2 motivos como justificações dessa viagem. "Primeiro, trouxe uma criança de 5 anos de idade que nasceu com uma patologia de má formação abdominal, para ser operada no Hospital de Padova. A operação podia ser feita no país sem problemas, mas devido ao regime alimentar que ela deveria ser submetida durante uma semana depois da intervenção, seria grande risco fazer-lhe o tratamento na Guiné-Bissau".

 

O segundo motivo, prossegue, "tem a ver com a minha actualização (formação contínua) enquanto médico cirúrgico, e para pedir apoios de um técnico anestesista para o hospital pediátrico em Bôr. Neste momento o nosso hospital não tem um profissional nessa área". Portanto, "nos dias que cá estive fiz um pequeno estudo nos laboratórios para ver a possibilidade de como tratar certos tipos de patologia como hérnias, com o uso de anestesia local. É um processo muito complicado para a Guiné-Bissau", elucidou.

 

Para além disso, Cumbá narrou que teve contactos com médicos e anestesistas dos hospitais de Padova e Brescia em Itália, interessados em colaborar com o hospital de Bôr. "Fui até Sicília, sul da Itália, falar com o Doutor Pierpaolo Maimone que no ano passado esteve no país, e manifestou interessado em regressar para nos ajudar no combate às doenças que quotidianamente perigam a vida das crianças. Este médico oftalmologista, por sua iniciativa fez uma recolha de fundos e já comprou todo o material necessário para a cirurgia oftalmológica".

 

A este propósito, garante que dentro de meses, esses materiais serão transportados para o hospital pediátrico em Bôr, e o médico Pierpaolo Maimone estará no país para dirigir cirurgias oftalmológicas em benefícios de cidadãos guineenses que padecem dessa doença.

 

Paralelamente a esses contactos, Dionísio Cumbá esteve no hospital São João do Porto, em Portugal, onde acordou com médicos nacionais e portugueses que aí trabalham a possibilidade de colaborarem com os italianos nas missões médicas para a Guiné-Bissau no hospital de Bôr. "Pensamos organizar pelo menos 6 missões médicas ao país, neste ano de 2011, sendo duas por hospital (Padova, Brescia e São João do Porto) respectivamente, por forma a reduzir o número de pacientes que estão na lista de espera para intervenções cirúrgicas", revelou.

 

No que diz respeito ao balanço dos 8 meses à frente do hospital pediátrico em Bôr, o cirurgião pediatra Dionísio Cumbá classifica-o de bastante positivo, na medida em que no arco desses meses conseguiu, na companhia de alguns médicos italianos, operar 124 pacientes de diferentes patologias, entre crianças(maioria) e adultos.

 

Das crianças operadas, assegurou que fizeram intervenções muito delicadas e que nunca foram feitas na Guiné-Bissau.

Evidentemente, nem todos os pacientes conseguiram sobreviver. "Tivemos óbitos que aconteceram depois, não por causa de complicações cirúrgicas, mas por falha de cumprimento de conselhos médicos por parte dos pacientes e, por causa do estado crónico de doenças de outros", sublinhou com ar de lamentações.

 

Queixa-se da falta de espaço para o internamento de pacientes adultos devido a "invasão" de doentes àquele estabelecimento de saúde, inicialmente criada só para a tratamento de crianças. Mas a crítica situação sanitária do país agora obriga o hospital a receber adultos internando-os junto com crianças, situação não recomendada pela deontologia médica.

 

Perguntado sobre o apoio que o hospital pediátrico recebe do Governo guineense, Dionísio Cumbá foi muito cauteloso na sua resposta. "Por enquanto... nenhum apoio material, nem financeiro. O protocolo do reconhecimento oficial do nosso hospital só foi assinado no dia 4 de Fevereiro último". Este facto, "tem-nos dificultado muito, porque a Universidade de Padova que está interessada em colaborar connosco queria ver antes de tudo, esse protocolo de acordo do reconhecimento do nosso hospital assinado pelas nossas autoridades".

 

Quanto ao Ambulatório Médico que se pretende construir na Escola do Jugudul à 58 km da capital Bissau, no âmbito da Associação Toka-toka o nosso entrevistado disse que por agora nada foi feito, mas assegura que existem já sinais de esperança para a materialização do referido projecto. "Estive na Eslovénia à convite de uma família que adoptou uma criança guineense da povoação do Jugudul. Recebi garantias dessa família para a construção desse ambulatório do qual serei eu próprio a dar as consultas às crianças daquela Escola. Pensamos que o ambulatório será construído ainda este ano", projectou.

 

Revelou também que a Associação Toka-toka que dirige já tem um financiamento doado por um projecto italiano chamado "Cinque per Mille" que será usado na construção de um poço, na canalização da água potável, na construção de uma cantina escolar e de um campo de futebol para os alunos que frequentam a Escola atrás mencionada.

 

O director do hospital pediátrico em Bôr e presidente da Associação Toka-toka África, Dionísio Cumbá encerrou a entrevista com o apelo para a união de todas as forças vivas do país, "única forma para salvar a Guiné-Bissau da situação em que se encontra".

 

 

Professor Franco Zanon, vice-Reitor da Faculdade de Medicina de Padova dirigindo palavras de agradecimento aos financiadores dos estudos do Dr. Dionísio Cumba.
 


 

Abraço do pároco de Dolo ao Dr. Dionísio Cumbá
 


Dr. Dionísio Cumbá dirigindo palavras de agradecimento aos financiadores dos seus estudos


Aperto de mão entre Professor Franco Zanon e o pároco de Dolo-Venezia


Sr. Rino Stocco, coordenador do grupo de financiadores dos estudos do Dr. Dionísio Cumbá falando ao grupo


Dr. Dionísio Cumbá dirigindo palavras de agradecimento aos financiadores dos seus estudos


 

Senhor Rino Stocco cumprimentando a Mónica, criança operada pelo Dr. Dionísio Cumbá no Hospital de Padova


Foto de família: Dionísio Cumbá, Rino Stocco, Mónica e seu pai Carlitos, e alguns dos benfeitores


 

 

 

Entrevista e Fotos: Agostinho Pereira Gomes "Apego"

 

 

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