Eneida, voz doce mel

 

Eneida Marta

 

 

 

Filomena Embaló

fembalo@gmail.com

05.10.2009

 Filomena EmbalóCálida é a sua voz como a terra que a viu nascer. Universais são os ritmos das suas melodias em que as raízes africanas se entrelaçam com sons de outros horizontes, fazendo dela uma embaixadora do mundo musical globalizado.

 

Eneida Marta nasceu na Guiné-Bissau. Embalada desde o berço pela música, cedo subiu aos palcos para participar em concursos musicais infantis. Com a partida para Portugal frequentou aulas de canto, aperfeiçoando o dom que a natureza lhe concedera.

 

Nas encruzilhadas da vida têm-se por vezes encontros que fazem a diferença de todo um percurso. O de Eneida cruzou com a rota de Juca Delgado, conhecido como um dos maiores produtores de música africana em Portugal e que soube desenvolver e valorizar o grande potencial da artista. Foi graças a ele que Eneida colaborou com artistas nacionais e estrangeiros de renome internacional, como Aliu Bari, Manecas Costa, Rui Mingas, Bonga, Dulce Pontes e Uxia, citando apenas estes.

 

Uma linda carreira se perfilou então, dando à Guiné-Bissau, à África e ao Mundo mais uma estrela sem fronteiras, que tão bem sabe casar a sua voz com ritmos como o gumbé, singa, tina, djanbadon, afro-beat, mas também com a morna, flamenco, gospel e djazz, fazendo dançar de forma harmoniosa as diferentes línguas em que canta: crioulo, fula, mandinga, futa-fula, português e árabe.

 

A discografia de Eneida Marta conta com três álbuns. O primeiro, Nô stória, produzido por Juca Delgado, foi editado em 2001 pela Maxi Music. Esta obra, bem acolhida pelos media e pelo público, levou a artista a efectuar uma digressão pela Guiné-Bissau, Cabo Verde, França, Holanda, Alemanha e Portugal.

 

O segundo disco, Amari, também editado pela Maxi Music em 2002, despertou o interesse de editoras dos Estados Unidos, França e Alemanha por esta nova referência da música africana.

 

Foi assim que Eneida Marta participou, com o tema Na bu mons do seu primeiro álbum, na compilação An Afro-Portuguese Odissey, organizada pela editora estadunidense Putumayo e dedicada à música dos países africanos de língua oficial portuguesa. Para além desta, Eneida contribuiu também para outras iniciativas como a recolha Guiné-S. Tomé (2002) que reúne artistas destes dois países ou ainda Para Além da Música (2003), um disco editado por CIC-Portugal com fins humanitários para África. Não esquecendo também a sua colaboração com o guineense Nino Galissa no álbum Mindjer em 2004, bem como a sua participação no disco Santa Mariazinha do angolano Caló Pascoal.

 

O seu sucesso valeu-lhe também uma participação no programa Inside Africa da cadeia televisiva CNN International, como também num concurso realizado em 2005 em Portugal, em que Eneida se classificou em primeiro lugar na categoria World Music, com o belíssimo título Mindjer doce mel, um verdadeiro hino à mulher e com o qual gravou um videoclip.

 

No início de 2006, saiu o seu terceiro álbum, Lôpe Kai, uma edição da Iris Music da França, de que convido a escutarem particularmente os títulos Tambur e Guiné na mundo fora. O primeiro pela rica sonoridade musical e o segundo pela mensagem que transmite aos guineenses pelo mundo fora. Foi na sequência deste álbum que realizou o “Tour Lôpe”, a sua primeira grande tournée pela Europa em 2006 e 2007.

 

Em 2008, depois de uma digressão de um mês pelo Canadá, Eneida Marta participou na programação oficial da WOMEX 2008 (World Music Expo). Mais de quatrocentos artistas representaram neste evento uma quarentena de países. Foi uma ocasião para a cantora apresentar os títulos do seu último disco e de elevar bem alto o nome da Guiné-Bissau através dos seus concertos.

 

Após os trágicos acontecimentos que têm vindo a ocorrer em Bissau desde Março último, Eneida Marta juntou a sua voz e talento aos de outros artistas guineenses, para gravarem duas canções: Limárias e Luta. Situando-se numa óptica intervencionista, ambas denunciam a situação que prevalece na Guiné-Bissau. Limárias, em que participam igualmente Juca Delgado e Azi Monteiro, é um grito de revolta e indignação perante a cruel realidade de assassinatos. Luta, com letra, música e instrumentalização de Juca Delgado e Ibrahima Galissá no korá, é um apelo aos combatentes da liberdade da Pátria para que não estraguem o respeito conquistado durante a luta de libertação e que “firmem” sempre pela Guiné-Bissau.

 

Eneida Marta lançou mais um desafio para 2009: gravar um álbum só de músicas angolanas, numa homenagem aos clássicos dos anos setenta daquele país que muito marcaram a sua formação musical. Pergunto à Eneida Marta e ao Juca Delgado:

 

Será o início da tal viagem pelo nosso mundo que fala português? Esperemos que sim!

 

 


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